"Eu, por acaso, já tive essa conversa com a Leonor". E antes cedo do que tarde. Francisco Jorge, que até está tranquilo com a passagem de testemunho para a geração seguinte da Gorteca, uma sociedade de construção civil no Seixal, já pensa no papel que as netas podem vir a desempenhar no futuro da empresa. Só que a Leonor, a mais velha, "diz que não".
Insatisfeito com a resposta, Francisco conta ao Negócios que voltou à carga, lembrando as conversas que teve com o filho em tempos idos: "Disse à minha neta o que tinha dito ao Tiago", que está há alguns anos profundamente envolvido no negócio: "‘Não precisas de ir para lá trabalhar, basta gerires a empresa’". A Gorteca sobreviveu 50 anos e, ao contrário desta conversa com a neta, não foi por acaso. A mensagem passada à Leonor foi clara: "Não quero é que a empresa acabe".
Ao lado do pai, Tiago Jorge também reconhece que "gostava bastante" que houvesse continuidade por parte das duas filhas. "É óbvio que sim, mas não sei. Só se fosse numa área de gestão, porque não estou a ver. Elas são muito novinhas ainda"... Leonor, que fez 10 anos, terá tempo para tomar uma decisão.
Inquietação partilhada por múltiplas empresas, a transmissão do legado para os sucessores tende a ganhar importância maior, ainda que nem sempre assumida, quando estão em causa filhos ou netos. Se o objetivo de qualquer empresa passará por fazer lucro e, preferencialmente, resolver problemas na sociedade, no caso das familiares, e mais ainda as de menor dimensão, acrescenta-se a questão da continuidade para os herdeiros, que está intimamente ligada à sobrevivência da empresa (ou, pelo menos, da sua identidade). E a Gorteca, com o envolvimento de três gerações, tem uma palavra a dizer sobre o assunto.