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Teixeira dos Santos: "Portugal tem um problema de poupança"

O antigo ministro das Finanças reconhece que houve uma "melhoria" da poupança nacional nos últimos anos, mas essa é ainda "insuficiente" quando comparada com os restantes países da Zona Euro. Defende ainda que a poupança "assume um papel fundamental na ultrapassagem de bloqueios ao crescimento e à melhoria de rendimentos no país".

Bruno Simão
17 de Novembro de 2022 às 12:21
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O ex-ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos defendeu esta quinta-feira que Portugal tem "um problema de poupança". O antigo governante reconhece que houve uma "melhoria" da poupança nos últimos anos, mas essa é ainda "insuficiente" quando comparada com a poupança a nível europeu.

"Portugal tem um problema de poupança", começou por referir o ex-ministro das Finanças na conferência anual da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), salientando que "uma política de reforço da poupança nacional tem de passar necessariamente pelo reforço da poupança de longo prazo". "A outra poupança [de curto prazo] é feita por motivos influenciados pelo ciclo económico e que terá flutuações", disse.

Teixeira dos Santos recordou que, até à crise financeira de 2008, a poupança nacional "desceu cerca de 10 pontos percentuais em termos do seu peso no PIB" e essa descida progressiva traduziu-se "num alargamento do gap [diferença] entre a poupança e o investimento", o que se reflete no agravamento da dívida externa.

O ex-governante, responsável pelo pedido de ajuda financeira de Portugal, lembrou que, quando a crise de 2008 se iniciou, a dívida externa líquida estava perto dos 100% do PIB, enquanto em 1995 era "particamente nula". Reconheceu ainda que esse agravamento da dívida externa só foi ultrapassado com o programa de ajustamento imposto pela troika, em 2011.

"Com o programa de ajustamento implementado, conseguimos corrigir essa situação, atingindo um resultado historicamente inédito que foi o de atingirmos uma situação de equilíbrio externo sustentado, que foi perturbado recentemente com a pandemia. Nunca neste dois séculos da nossa história, Portugal teve tantos anos de equilíbrio externo como teve de 2012 até à pandemia", disse.

Esse reequilíbrio das contas públicas terá permitido, na visão de Teixeira dos Santos, recuperar a poupança, que começou ainda em 2009 com a "alguma recuperação da poupança privada".

Poupança abaixo da média europeia
Mas, "apesar da melhoria da poupança nos últimos anos, ela é ainda insuficiente", mencionou. "Portugal poupou neste últimos anos algo que rondou os 18% do PIB, o que compara com 25% do PIB em termos da média da Zona Euro. Ou seja, estamos a poupar menos do que a zona euro no seu conjunto", destacou.

"Por outro lado, mais grave até do que essa poupança na zona euro é o facto de que nós precisamos de um grande esforço de investimento no nosso país. Isso relaciona-se com a produtividade. Há vários fatores que afetam a produtividade desde o capital humano, a produtividade total dos fatores, que tem muito a ver com aspetos de enquadramento legislativo, regulação, o progresso tecnológico, etc", afirmou Teixeira dos Santos.

O ex-ministro destacou ainda que, no que toca à produtividade, a relação capital-trabalho tem um impacto muito significativo e que o coeficiente de capital de trabalho em Portugal "é 49% da média da zona euro". Como "há uma associação muito grande entre a produtividade e os salários, se a produtividade não melhora não é possível melhorar rendimentos e níveis de vida", argumentou.

"É, neste contexto, que a poupança assume um papel fundamental na ultrapassagem de bloqueios ao crescimento e à melhoria de rendimentos no nosso país", concluiu, salientando que há já uma perceção entre os portugueses de que, face à tendência demográfica, "a pensão será cada vez mais reduzida no decorrer do tempo". 

Um estudo da ASF, divulgado esta quinta-feira, revela que menos de metade dos portugueses (43%) está a poupar para a reforma. A antecipação de uma perda de rendimentos no futuro é a principal razão apontada para essa poupança para a reforma (54%), seguida da previsão de custos mais elevados com a saúde e a intenção de viajar.

A principal aplicação das poupanças para a reforma são a aposta na compra de ações (26%), seguida pelos depósitos a prazo (18%) e, em terceiro lugar, os planos poupança reforma (13%).
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