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São Miguel caído do céu

Na "sua ilha de São Miguel", João de Melo vê "uma espécie de excesso de beleza", como a que existe "em certos museus". Nos Açores, o escritor encontra o "princípio e o fim do mundo".

31 de Julho de 2012 às 11:00
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"Os portugueses, em geral, andam a enganar-se com a ilusão de irem conhecer o paraíso noutras terras, quando afinal o têm à mão." O escritor João de Melo vê "os Açores como um todo". "Nove mundos separados e unidos por um fio de continuidade atlântica, num arco de quase 600 quilómetros e à distância de três continentes: a Europa, a América e África." E, aí, encontra "o princípio e o fim do mundo, os livros do ‘Génesis’ e do ‘Apocalipse’: água e fogo, mar azul e terra verde, costa alta e montanhas, as lagoas nas grandes crateras e aqueles cones vulcânicos embrulhados pelas brumas misteriosas do Verão".

Em São Miguel, ilha onde nasceu, o escritor reitera que há "uma espécie de excesso de beleza", que nos faz "olhar, mas não ver. Não é possível absorver tanto". "São Miguel caiu do céu e ficou ali, entre jardins e hortênsias, campos de tabaco e chá, lagoas ao cimo ou a meia montanha e uma extensa cordilheira que sobe do litoral para o alto." O povo é "doce, cheio de espírito e de portugalidade. E o mar de baleias e golfinhos, nas ilhas, é ainda o mesmo que os navegadores encontraram: limpo, diáfano, bom de sal e de temperatura".

O que fazer perante tal cenário? "Subir à Lagoa do Fogo a partir da Ribeira Grande", por exemplo. "A gente deslumbra-se com o que vê: uma planície a perder de vista e que é praticamente um terço de toda a ilha ali à mão, com todos os contrastes de paisagem, o mar infinito em frente, o silêncio da terra e os ruídos vindos esparsamente das aldeias e cidades em volta."

Há outros "postais turísticos mais ou menos conhecidos", incluindo a Lagoa das Sete Cidades, mas João de Melo revela a sua paisagem preferida: "um pouco além do Nordeste rural da Vila do mesmo nome, a caminho da Povoação", avista-se do alto "uma sucessão das Sete Lombas, de uma beleza quase trágica". O escritor advoga que "não se devem pedir demasiado conselhos: nos Açores tudo está patente e escrito sobre o mar".

Porque "a luz do Verão é tão essencial à paisagem como à poesia que mora dentro da nossa cabeça", a melhor altura para visitar os Açores é entre Junho e Outubro. Mas, antes disso, em Maio, há as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada, as festas do Espírito Santo e a peregrinação dos Romeiros à volta da ilha pela Quaresma.

Hoje a viver em Lisboa, João de Melo "tentaria dar continuamente a volta ao mundo" caso o destino nunca mais o levasse ao arquipélago onde nasceu. "Certo", contudo, "de que encontraria no vasto mundo, disperso, tudo o que venho enumerando, conhecendo, amando nos meus Açores do coração."

Açores: Dívida de imaginação

"Levantei ferro dos Açores, para vir estudar no continente, no fim da instrução primária", recorda o autor de "Gente Feliz com Lágrimas". O regresso fez-se todos os anos, no Verão, "até que a guerra me levou para longe e só me trouxe de regresso nas vésperas do 25 de Abril". "Conheço razoavelmente bem todo o arquipélago, sobre o qual escrevi um dos meus livros favoritos, 'Açores, o Segredo das Ilhas', que pretende ser uma réplica do excelente clássico livro de viagens de Raúl Brandão, 'As Ilhas desconhecidas'".

Aos Açores, onde nasceu, em 1949, João de Melo diz dever o "imaginário literário: a minha imaginação do mundo a uma escala simultaneamente insular e universal".

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, é professor na Universidade Autónoma de Lisboa. Foi adido cultural da embaixada de Portugal em Madrid até Fevereiro de 2010.


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