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Oposição em coro critica discurso de Ano Novo de Cavaco

"Défice de imparcialidade", "conjunto de mistificações" e mensagem "alinhada com o Governo". PS, PCP e Bloco não pouparam nas críticas à mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Já o PSD e o CDS-PP revêem-se nas palavras do presidente e apelam ao consenso político.

Negócios com Lusa 02 de Janeiro de 2015 às 11:42

A mensagem de Ano Novo do Presidente da República não reflecte "preocupações, decepções e mesmo desespero" de grande parte dos portugueses, e é marcada por um "défice de imparcialidade" em ano de eleições, afirmou esta quinta-feira, 1 de Janeiro, o líder parlamentar dos socialistas, Eduardo Ferro Rodrigues, em reacção ao tradicional discurso de início de ano de Cavaco Silva.

 

Sublinhando que o seu partido concorda com a "necessidade de combater o populismo" e de "evitar situações de crispação ou de tensão política desnecessária", o deputado considerou, no entanto, que "a lógica da mensagem do Presidente da República é uma lógica de excessiva colagem a aspectos essenciais das políticas que foram determinadas pela maioria que governa Portugal desde 2011 e não ecoou suficientemente as preocupações, as decepções e mesmo o desespero de muita gente, de uma parte grande do povo português". E nesse sentido, "apesar de eu pensar que é uma mensagem bem intencionada, não há dúvida que há um défice de imparcialidade num ano destes que é de eleições", referiu.

 

A lógica da mensagem do Presidente da República é uma lógica de excessiva colagem a aspectos essenciais das políticas que foram determinadas pela maioria que governa Portugal desde 2011.

 
Eduardo Ferro Rodrigues,
Líder parlamentar do PS

Para Ferro Rodrigues, "seria absolutamente essencial a garantia de uma total imparcialidade do órgão de Presidente da República face às eleições que se vão realizar em 2015 e a contribuição para a coesão nacional na base da maximização da coesão social e do máximo consenso político possível". E do ponto de vista do PS, "a intervenção do Presidente da República ficou a alguma distância destes imperativos".

 

O Presidente da República interpelou ontem os portugueses e, em especial os políticos, a prepararem o período pós-eleições, sublinhando que não é só no dia a seguir às eleições que se constroem soluções governativas estáveis. Cavaco Silva apontou 2015 como "um ano de escolhas decisivas", recomendando aos partidos cuidado nas promessas eleitorais que irão apresentar nas legislativas, porque os problemas do país não se resolvem "num clima de facilidade".

 

Cavaco Silva apontou 2015 como "um ano de escolhas decisivas", recomendando aos partidos cuidado nas promessas eleitorais que irão apresentar nas legislativas, porque os problemas do país não se resolvem "num clima de facilidade".

 

Num discurso centrado nas eleições onde irá ser escolhido o Governo que sucederá ao Executivo de maioria PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho, o chefe de Estado insistiu na questão da demagogia e do populismo, considerando que ao fim de 40 anos de democracia se deve desenvolver "uma cultura política mais esclarecida e mais esclarecedora". Além disso, acrescentou, o tempo depois das eleições será marcado por "exigências de compromisso e diálogo" e esse espírito de abertura não poderá ser prejudicado "por excessos cometidos na luta política que antecede o sufrágio".

 

"Um conjunto de mistificações"

 

Uma mensagem que, na opinião do PCP, não trouxe "nada de novo nem de positivo", tendo o Presidente da República tentado ocultar a sua própria responsabilidade na "desgraça" do país. "A mensagem do Presidente não traz nada de novo nem de positivo, nem para o país nem para a imensa maioria dos portugueses. Mais uma vez, e é recorrente, trata-se de um conjunto de mistificações para apoiar a continuação e o agravamento da política de direita que tem sido seguida há 38 anos pelo PS, PSD e CDS", disse à agência Lusa Carlos Gonçalves, da comissão política do Comité Central do PCP.

 

A mensagem do Presidente não traz nada de novo nem de positivo, nem para o país nem para a imensa maioria dos portugueses.

 
Carlos Gonçalves,
dirigente do PCP

O dirigente comunista referiu que a mensagem do PR contém três mistificações, desde logo a sua "tentativa da ocultação da responsabilidade na desgraça do país". "Cavaco fala como se não tivesses sido 10 anos primeiro-ministro e como se não fosse há quase 10 anos Presidente da República. É evidente que ele é seguramente um dos maiores responsáveis pela situação que vivemos", alegou Carlos Gonçalves.

 

A segunda mistificação é o "apelo ao compromisso futuro de PS, PSD e CDS", patente, de acordo com o PCP, na mensagem do Presidente da República, "como se não fosse esse compromisso a base da política de direita e a causa do empobrecimento, da exploração, do desemprego, destruição dos serviços públicos" e também da degradação da democracia e perda de elementos de soberania.

 

A última mistificação, segundo Carlos Gonçalves, passa pela "insistência num mesmo caminho e numa mesma política, como se isso fosse uma inevitabilidade, uma espécie de fatalidade". "Antes pelo contrário, pensamos que é cada vez mais imperioso e necessário a demissão do Governo, a realização de eleições antecipadas, a rotura com a política de direita e uma alternativa patriótica de esquerda", disse o dirigente comunista.

 

"Cumplicidade nas políticas de austeridade"

 

Também o Bloco de Esquerda não poupou nas críticas, considerando que a narrativa de Cavaco Silva revela "cumplicidade nas políticas de austeridade ". "A mensagem de Ano Novo do presidente Cavaco Silva é uma mensagem política completamente alinhada com o governo de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas", disse Luís Fazenda, igualmente em declarações à Lusa.

O líder do BE considera que "há uma cumplicidade fundamental nas políticas que estão a levar a cabo – de austeridade e de agravamento da pobreza – e o Presidente da República, no seu último ano de mandato, quer salvaguardar a continuidade dessas políticas e por isso blinda o tratado orçamental".

A mensagem de Ano Novo do presidente Cavaco Silva é uma mensagem política completamente alinhada com o governo de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas.

 
Luis Fazenda, Bloco de Esquerda

Fazenda critica Cavaco por considerar que o tratado orçamental não pode ser alterado: "Sabemos que, neste ano, vários países centrais da União Europeia não vão cumprir o tratado orçamental mas o Presidente da República insiste no cumprimento do tratado orçamental. Nessa medida, é preciso alterar esta política, é preciso uma mudança na vida nacional e essa mudança não passa por Cavaco Silva nem pela actual maioria". Para o Bloco, "é preciso mudar de política e é preciso mudar de protagonistas".

 

Maioria revê-se nas palavras de Cavaco

 

"O PSD acolhe e revê-se no essencial da mensagem de Ano Novo do Presidente da República, partilhando a sua confiança num ano melhor para os portugueses. Mas, o PSD ressalva também, como faz o Presidente da República, a necessidade de se manter o rumo seguido até aqui, rejeitando a ilusão de que tudo está feito e que o país terá entrado numa nova fase de facilitismos", afirmou o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa numa declaração aos jornalistas ontem à noite na sede do partido, a seguir à transmissão da mensagem de Ano Novo do Presidente da República.

 

Independentemente dos compromissos eleitorais, 2015 deve ficar marcado como o ano dos consensos que permitam a Portugal afirmar-se como uma democracia moderna e eficaz.
 
José Matos Rosa,
Secretário-geral do PSD

"Os grandes desafios que temos pela frente exigem consensos significativos, condição indispensável para os ultrapassarmos, de forma sustentada e num horizonte de tempo alargado. Independentemente dos compromissos eleitorais, 2015 deve ficar marcado como o ano dos consensos que permitam definitivamente a Portugal afirmar-se como uma democracia moderna e eficaz", disse José Matos Rosa.

 

Também em reacção à mensagem de Cavaco, o vice-presidente do CDS-PP, Nuno Melo, afirmou que o Presidente da República assinalou "muito mais do que uma passagem de um ano", mas sublinhou que "2015 é um ano eleitoral e nesse sentido um ano de balanço e de escolhas e refere que Portugal não poderá voltar aquilo que foi em 2011".

 

"Eu acrescentaria, não interpretando a mensagem do presidente da República, nessa diferença do Portugal de 2011 e o Portugal de 2015, a escolha de quem nos trouxe à pré-bancarrota, um programa de austeridade muito duro e quem em 2014 precisamente libertou Portugal dessa 'troika'. É isso que vai estar em causa em 2015", disse Nuno Melo.

 

O CDS-PP sublinhou, igualmente, a necessidade de atingir compromissos, "em áreas fundamentais", não descartando aquele que é "o maior partido da oposição, o Partido Socialista". "Essa disponibilidade mantém-se tal e qual foi bem evidente no ano que findou e nos tempos que antecederam este ano", disse Melo. Mas quando questionado, após a sua intervenção sobre anúncios de possíveis coligações para futuros actos eleitorais, o dirigente procurou não se comprometer sobre a possibilidade de voltar a existir uma união à Direita e disse que "o timing será aquele que as direcções dos dois partidos entenderem", referindo-se ao PSD e CDS-PP.

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