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Maria João aprendeu a coser com as linhas do desemprego
Durante anos não passou de um objecto de decoração. "Um mono", mais propriamente. Era desta forma que Maria João Albuquerque se referia à máquina de costura dos anos 60 que herdou do seu avô. Mas a forma de tratamento mudou completamente a partir de 2011. Desempregada há mais de dois anos, Maria João decidiu dar ao pedal e lançar mãos a um novo ofício, que agora abraça a tempo inteiro.
"Eu nem sabia enfiar a linha na agulha", revelou Maria João, contando que começou por pedir uma "mini-lição de costura à sogra" e só depois teve aulas. O "Atelier Maria Pimpolha", dedicado à criação de acessórios de moda, nasceu no Verão de 2011 no "facebook".
"Se estivesse empregada não teria tido coragem de me lançar assim num negócio meu, pelo menos a ‘full time’, que me realiza em pleno", assegurou Maria João, que não só montou um negócio, como enveredou por um caminho completamente diferente.
Com um percurso académico, que não levou até ao fim, na área da gestão turística e hoteleira, Maria João trabalhou sempre na área comercial e da publicidade. Em 2008, com o início da crise e a quebra "brutal" da publicidade, e então com 28 anos, ficou pela primeira vez desempregada.
"Fiquei de pés e mãos atados e não arranjava trabalho em lado nenhum.Inicialmente foi muito mau, pois passei para uma situação económica menos boa e estar em casa estava a perturbar-me", relatou ao Negócios, explicando que depois engravidou e que já tinha planeado não trabalhar durante o primeiro ano de vida do bebé. Foi o que fez.
Mas passado esse período e sem conseguir trabalho na sua área, nem mesmo através do centro de emprego, Maria João decidiu criar organizadores de malas (baganizer), em tecido. Neste último ano já vendeu 170. As encomendas chegam-lhe sobretudo via rede social, sendo que nas duas lojas onde tem artigos as vendas são praticamente nulas.
"O meu microcrédito é o meu marido"
Ter uma loja sua, onde pudesse também dar "workshops", não passa para já de um sonho, pois tem "medo de arriscar". Pedir um empréstimo para impulsionar o negócio também nunca esteve nos seus planos. "O meu microcrédito é o meu marido", disse, rindo.
"Os investimentos têm sido muito pensados e o investimento em material é reduzido pois os tecidos são caros e não posso arriscar a ficar com material parado. Tudo tem sido feito muito devagar", explicou.
É também por "medo" que não contrata outra pessoa. Isso faz com que não tenha capacidade de produção e que não consiga "também ir a outros pontos de negócio". "Eu não tenho tempo para ir de porta em porta mostrar os meus produtos", lamentou.
E é por isto que, para já, esta nova actividade profissional ainda não lhe chega para pagar as contas. "O que vale é que a situação laboral do meu marido é estável", rematou.
Maria João, que gostava muito de ir fazer um curso de design de acessórios de moda em Londres, tem esperança que este seja um "bom ano para o atelier". A julgar pelo início, acredita que poderá ser.