Notícia
Impacto das tarifas de Trump na economia nacional "poderá acontecer mais em 2026"
O economista Filipe Grilo, da Porto Business School, acredita que os efeitos das tarifas norte-americanas não se vão sentir para já na economia portuguesa e que o país tem outros trunfos, como o turismo, para resistir.
Depois do aço e do alumínio, o Presidente dos Estados Unidos anunciou tarifas sobre a importação de automóveis, medicamentos e semicondutores. Os anúncios de Trump têm agitado os mercados financeiros, mas o economista Filipe Grilo acredita que os efeitos em Portugal só serão sentidos no final do ano ou mesmo apenas no próximo.
"Diria que o efeito máximo poderá acontecer mais em 2026 e, portanto, provavelmente as previsões para 2026 e 2027 é que vão ter que ser revistas em baixa. Para 2025, a chegar já só chegam no final do ano, ou seja, não nos podemos esquecer que as tarifas impactam sobre produtos acabados e nós não exportamos muitos produtos acabados, por exemplo, nomeadamente nos automóveis, para os Estados Unidos. Simplesmente exportamos para a Europa componentes que depois vão ser incorporados nesses automóveis que depois sim serão tarifados", explica em entrevista do programa do Negócios no NOW.
Para o economista da Porto Business School, o efeito das tarifas na economia portuguesa vai demorar "por este efeito de arrastamento". "Quando os fabricantes de automóveis europeus tiverem mais dificuldade em exportar para os Estados Unidos, aí sim vão começar a baixar as suas encomendas nas nossas fábricas e aí é que vamos ter alguns problemas", acrescenta.
No entanto, lembra Filipe Grilo, o turismo é um dos grandes motores da economia nacional e isso pode fazer alguma diferença, uma vez que "o nosso turismo é, de certa forma, imune às tarifas, porque Donald Trump não consegue tarifar as pessoas americanas que vêm cá comprar, os hotéis, os restaurantes".
Tendo em conta estes fatores, Filipe Grilo partilha do otimismo do ministro das Finanças que ontem afirmou que o Governo não prevê uma revisão em baixa do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), estimando que, apesar da "enorme incerteza" geopolítica, a economia portuguesa cresça acima de 2% em 2025.
"Há aqui fatores que sustentam este otimismo, que é o efeito da política monetária. Ou seja, nós sabemos que a política monetária demora algum tempo a atuar e as reduções que Christine Lagarde têm feito nas taxas de juros vão sentir-se mais neste ano. E, portanto, isso acaba por fomentar o consumo privado que depois vai sustentar o crescimento económico e também o próprio investimento", considera o economista.
Filipe Grilo é também otimista quanto à resistência da economia nacional face aos problemas que afetam as economias europeias, como a Alemanha ou a França. "Quando olhamos para o efeito que isso tem na nossa economia, obviamente que nós teremos dificuldades em exportar para a Europa, mas também, ao nível dos serviços, temos feito um esforço muito interessante para diversificar os clientes".
"Em 2024, o primeiro turista a aparecer em Lisboa e no Porto foi o turista americano. E, portanto, isto acaba por demonstrar que estamos cada vez menos expostos, ainda muito expostos, mas menos expostos à economia europeia. E, mesmo que a economia europeia acabe por abrandar, temos aqui outras fontes de rendimento de outros países que nos podem ajudar a manter este crescimento", conclui.