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BCE quer ambiente no centro da primeira revisão estratégica em 17 anos. Mais flexibilidade na calha

Numa audição pública com cerca de 20 organizações, Lagarde admitiu que as questões ambientais seriam uma das prioridades da próxima revisão estratégica do banco. As velhas questões com a inflação e flexibilidade da política monetária estiveram presentes no debate.

Christine Lagarde, presidente do BCE, mostrou-se confiante nos instrumentos já adotados pelo BCE para responder à pandemia.
Martin Lambert/EPA
21 de Outubro de 2020 às 16:04
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A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que o ambiente seria a "prioridade" da primeira revisão oficial dos mandatos do banco em quase duas décadas, mantendo a necessidade de mais flexibilidade na política monetária no seu discurso, numa altura em que se espera que o banco siga as pisadas da Reserva Federal dos Estados Unidos, no campo da inflação.

Num dia marcado por protestos ambientais à porta da sede do BCE, em Frankfurt, lá dentro, Lagarde era confrontada por várias associações ambientalistas sobre o papel que a instituição tinha na promoção de um futuro mais sustentável, na sua primeira audição pública com mais de 20 organizações da sociedade civil, no âmbito da revisão estratégica da política monetária que irá durar até junho do próximo ano.

Apesar de olhar para a estabilidade dos preços como o seu mandato principal - uma vez que a inflação tem falhado consecutivamente o alvo de cerca de 2% - a líder do BCE respondeu aos críticos, dizendo que 
abordar as questões ambientais é uma "prioridade". Isto depois de a Greenpeace, uma das organizações que participaram neste evento, ter criticado o banco por continuar a financiar setores de energia fóssil.

De acordo com um estudo realizado entre a Greenpeace, a New Economics Foundation (NEF) e várias universidades do Reino Unido, cerca de 63% da dívida empresarial que o BCE comprou recentemente, foi para apoiar setores que trabalham com energia fóssil de forma direta ou indireta. 

A instituição liderada por Christine Lagarde compra as chamadas "green bonds", dívida destinada a financiar projetos sustentáveis, desde março de 2015 e emitidas por empresas desde junho de 2016. Sabe-se também que a partir de janeiro do próximo ano irá comprar os tais títulos verdes e aceitá-los como garantia nas suas operações de refinanciamento.

De acordo com o banco, em 2018 foram emitidos 120 mil milhões de euros em obrigações verdes, que compara com os mil milhões levantados dez anos antes. 

Os fantasmas da inflação e uma bazuca permanente
Apesar da preocupação mostrada com as questões ambientais - em linha também com a líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - a principal "dor de cabeça" de Lagarde é a constante falha em atingir as metas de inflação, numa altura em que parece provável que o BCE siga os passos da Fed, com a entrada de uma inflação móvel nos seus mandatos, que serão apenas revistos em junho do próximo ano. 

A necessidade de uma remodelação na forma como o BCE olha para a inflação tem vindo a ser vincada desde o início deste ano por vários membros da instituição. O governador do Banco da Finlândia, Olli Rehn, reforçou por diversas vezes a ideia de uma alteração oficial para um conceito semelhante ao introduzido por Draghi e idêntico ao agora adotado pela Reserva Federal dos Estados Unidos.

No encontro anual em Jackson Hole, o presidente do banco central norte-americano Jerome Powell anunciou uma alteração na sua política sobre os preços no consumidor, adotando um objetivo móvel para a inflação, que permite a este indicador estabelecer-se acima dos 2% por largos períodos. Isto para que Jerome Powell, o líder da instituição, tenha mais flexibilidade para manter as taxas de juro em mínimos históricos e continuar a injetar dinheiro na economia, sem ter de mudar de rumo no caso de uma subida desmedida dos preços.

Outra das preocupações recorrentes para Lagarde é o aumento de flexibilidade nos programas de compra de ativos para que seja possível atingir o alvo da inflação. Em 
vigor está o programa especial para responder à pandemia, o PEPP, com uma bazuca de 1,35 biliões de euros para continuar a disparar. E já não é a primeira vez que surge a ideia de tornar este recurso permanente. A primeira vez que esta possiblidade apareceu foi no Financial Times que citava membros do banco. Uma medida que será certamente controversa no seio da instituição, tendo em conta as visões díspares no que à política monetária diz respeito.

Agora, a presidente do BCE defende que os Estados-membros da União Europeia deviam pensar em tornar permanente o fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros - a chamada "bazuca" europeia - acordado pelos líderes europeus para minimizar os efeitos do coronavírus na região. Em causa está o programa "Next Generation EU" que contempla 390 mil milhões de euros em subvenções (a fundo perdido) e 360 mil milhões de euros em empréstimos.

A primeira revisão estratégica em quase duas décadas

O banco encabeçará uma revisão nos seus mandatos em junho do próximo ano, sendo que será a primeira vez que o fará desde 2003, altura em que o teto de inflação foi definida nos 2%. No entanto, a ideia geral de que é necessária uma nova reforma ganhou força este ano, com o impacto económico da atual pandemia

Nesse sentido, o BCE irá fazer novas audições públicas idênticas a esta, onde poderão participar vários quadrantes da sociedade. T
odos os cidadãos e organizações da zona euro têm a oportunidade de dar a sua opinião através do site do BCE, no portal "the ECB listens". Até ao momento, o banco europeu teve mais de 3.000 respostas.

Na atual revisão em curso, o BCE tem sete grandes pilares em análise, de acordo com o definido na última reunião de política monetária a 10 de setembro. A inflação é a prioridade, como referido anteriormente, mas a este ponto juntam-se outros como a digitalização cambial, as questões ambientais e também uma questão que tem protagonizado muitos dos discursos de Lagarde: a interação com a política orçamental.

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