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Ambientalistas dizem que aquecimento global abaixo de 1,5ºC é possível mas muito difícil

Na véspera do arranque da COP27 no Egito, as organizações ambientalistas acreditam que ainda é possível manter o aquecimento global dentro da meta definida no Acordo de Paris, mas avisam que nos estamos a aproximar do limite.

Os valores de emissões de CO2 aproximam-se do pré-pandemia.
João Miguel Rodrigues
05 de Novembro de 2022 às 10:48
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Manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC (graus celsius) em relação à época pré-industrial ainda é possível, mas muito difícil e exigirá muitos esforços, consideram organizações ambientalistas ouvidas pela Lusa.

Na véspera de começar em Sharm el-Sheik, no Egito, a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27), a Lusa falou com ambientalistas sobre o combate ao aquecimento global, quando os últimos dados divulgados por especialistas da ONU indicam que as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) continuam a bater recordes e que com a realidade atual a temperatura subirá 2,8ºC no final do século.

Ainda assim quase todos admitem que ainda é possível impedir esses aumentos e ficar em 1,5ºC, o valor que em 2015, no Acordo de Paris, ficou estabelecido como meta para minimizar os efeitos do aquecimento global do planeta.

"Tecnicamente é possível, politicamente queremos acreditar que sim, apesar de ser demasiado evidente que nos estamos a aproximar do limite. Estamos praticamente com 1,2ºC", disse à Lusa Francisco Ferreira, presidente da Zero.

É por isso, referiu, que é preciso agir, e que é preciso ajudar os países mais pobres, seja reduzindo as emissões seja investindo na adaptação a um clima diferente. "A adaptação é uma inevitabilidade", afirmou Francisco Ferreira, avisando para um futuro de secas, de cheias e da subida do nível da água do mar.

O responsável alertou também que todo o dinheiro que se investir em mitigação, para que a temperatura não suba tanto, é a longo prazo dinheiro que se poupa na adaptação.

O presidente da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), Jorge Palmeirim, defendeu o mesmo.

O "grave aumento" de GEE justifica um ainda maior investimento em medidas de mitigação, porque as medidas de adaptação apenas diminuem "alguns dos sintomas resultantes das alterações climáticas mas não contrariam as suas causas". E quanto mais profundas as alterações mais cara e difícil é a adaptação, sustentou.

O presidente da LPN considerou possível, mas "infelizmente improvável" atingir-se o objetivo de 1,5ºC, porque era preciso reduzir para cerca de metade as emissões de GEE. E a verdade, segundo Jorge Palmeirim, é que ainda que os políticos pareçam preocupados com a sustentabilidade "a prática demonstra o contrário". E "enquanto o negócio dos combustíveis fósseis continuar a dar lucros fabulosos a sua eliminação será muito difícil".

A vice-presidente da Quercus, Marta Leandro, falou também dos combustíveis fósseis, lamentando que se tivesse continuado a investir neles depois da pandemia de covid-19.

A responsável admitiu que teve esperança numa mudança de paradigma. "Foi um fracasso", regressamos ao habitual, o teletrabalho não avançou, o turismo regressou às práticas menos boas, lamentou, acrescentando que são necessários esforços redobrados de mitigação mas também de adaptação.

Limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC? "Penso que ainda é possível, mas é preciso que haja grande vontade política, um grande esforço de liderança ao nível da comunidade política, empresarial e dos cidadãos". Mas ao contrário Marta Leandro disse que parece haver "uma espécie de alheamento".

O presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), João Dias Coelho, é ainda menos otimista. O objetivo dos 1,5ºC deve manter-se para haver um foco, "mas é praticamente impossível".

Como Marta Leandro, João Dias Coelho entende que a pandemia de covid-19 não melhorou a situação e que a guerra a piorou, com os países a voltarem ao carvão para produzir energia elétrica. "Temos outra vez o petróleo para cima, temos o metano..." lamentou.

O presidente do GEOTA salientou a necessidade de investir na mitigação mas também na adaptação, critica investimentos "sem sentido" no setor da água, e pede unidade a nível das organizações da sociedade civil. Essas organizações dentro da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP), afirmou, deviam ter um papel mais ativo nas COP.

As COP, disse Sinan Eden, do movimento Climáximo, falharam. E falharam, frisou, na meta dos 1,5ºC, na meta dos 02ºC, mesmo na meta "de manter um planeta habitável para os seres humanos".

Então o objetivo dos 1,5ºC de aquecimento global não é possível? Sinan Eden responde: "Não sei que milagre podia acontecer." E depois acrescentou: "Não haverá soluções do capitalismo para um problema que o capitalismo criou. Não temos esperança".

Representantes de cerca de 200 países estarão a partir de domingo reunidos em Sharm el-Sheik para debater as alterações climáticas e a luta contra o aquecimento global, quando se multiplicam os avisos de catástrofe.

Na conferência, que encerra na tarde de dia 18, esperam-se mais de 35 mil participantes, com 2.000 intervenções marcadas sobre mais de 300 tópicos.
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