Esta é a história do restaurante que se esconde por detrás de um cineteatro. E que tem de sinalizar o caminho para que os novos clientes o consigam encontrar, apesar de estar bem cravado no coração de Lisboa, paredes meias com o Jardim Botânico. É ainda a história de quem ficou sem grande vizinhança onde em tempos idos a "Broadway portuguesa" atraía multidões. E, no entanto, contrariando tudo isto, é a história em que a Gina, o "Rui da Gina" e a "Gininha" — três gerações da mesma família — conseguiram tornar ainda mais rentável um negócio que já leva 50 anos. Primeiro, ao sabor da carne transmontana. Depois, à boleia da pandemia.
Tem sido um exercício de resistência. Estar escondido e desacompanhado é até, porventura, um mal menor quando se revisitam as agruras que o restaurante A Gina teve de suportar por se ter recusado a abandonar o Parque Mayer.
A proprietária, Georgina Alves Pinto, revelar-nos-á mais tarde o que a levou a fazer finca-pé. Mas antes sentamo-nos com o filho, Rui Gonçalves, numa das cinco salas do restaurante que ajuda a gerir, recuando vários anos, até um dos momentos mais difíceis deste espaço. É que, depois de o Parque Mayer ter sido comprado pelo grupo Bragaparques em 2005 — negócio que daria lugar a um gigante imbróglio legal durante mais de 15 anos —, houve fases em que "esteve impossível de andar aqui", recorda ao Negócios.
"O Parque Mayer foi um bocado abandonado, com as quezílias entre a Bragaparques e a câmara — é meu, é teu, fica, não fica, depois passa para a câmara…" até que, "de há uns anos para cá, começaram a recuperá-lo". Não bastou a esta família dar a corda ao sapato, houve que limpá-lo também: "Aqui a rua era um lamaçal. Quem chegava à entrada do parque, olhava e parecia um estaleiro de obras. Era a rua toda esburacada… Esqueça! Uma pouca vergonha".
Mas A Gina sobreviveu. "Os nossos clientes continuavam a vir — menos, mas conseguimos manter-nos. Os restantes foram-se todos embora", depois de já outros terem ido em períodos anteriores. Rui, que tem hoje 46 anos, puxa pela memória. "Havia um, dois, três, quatro... ao todo, quando eu era miúdo, devia haver aqui pelo menos uns dez restaurantes. Fomos os resistentes, os únicos que continuam. E querem cá continuar".