Notícia
Covid-19 matou 17 mil profissionais de saúde em 2020
O trabalho de análise da Amnistia Internacional envolveu dados divulgados por Governos, sindicatos, imprensa e organizações da sociedade civil em mais de 80 países.
05 de Março de 2021 às 00:21
Pelo menos 17 mil profissionais de saúde morreram de covid-19 em 2020 em todo o mundo, avançou hoje a Amnistia Internacional (AI), apelando a uma "ação urgente" para acelerar a vacinação destes trabalhadores "altamente expostos" e várias vezes "desprotegidos".
"É uma tragédia e uma injustiça que, a cada 30 minutos, um profissional de saúde morra com covid-19. Trabalhadores em todo o mundo colocaram as suas vidas em risco para tentar manter as pessoas protegidas contra a covid-19, mas muitos foram deixados desprotegidos e pagaram o preço mais elevado", denuncia Steve Cockburn, especialista em Justiça Económica e Social da AI, citado nesta análise conduzida pela organização não-governamental (ONG) e realizada em parceria com a Public Services International e a UNI Global Union.
O trabalho de análise envolveu dados divulgados por Governos, sindicatos, imprensa e organizações da sociedade civil em mais de 80 países.
As organizações admitem que os números serão, provavelmente, superiores, já que nem todos os Estados reuniram informação oficial ou só o fizeram de forma parcial.
Dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) portuguesa, divulgados na passada segunda-feira, indicaram que perto de 28 mil profissionais de saúde ficaram infetados com o vírus SARS-CoV-2 desde o início da pandemia de covid-19 em Portugal, dos quais 19 morreram e mais de 16 mil recuperaram
Perante o cenário global, e para proteger milhões de trabalhadores do setor da saúde em todo o mundo, as três organizações apelam a uma "ação urgente" para acelerar o processo de vacinação "de quem continua na linha da frente".
"É imperativo que os Governos deem prioridade a todos os profissionais de saúde da linha da frente nos planos de vacinação", reforçam, apelando igualmente a medidas urgentes para aumentar o fornecimento global de vacinas, nomeadamente mais investimento na capacidade de produção e mais partilha de tecnologias e conhecimentos por parte dos produtores.
O pedido das três organizações, que surge igualmente como um alerta, acontece num momento em que persistem as desigualdades no acesso às vacinas contra a doença covid-19.
Até agora, segundo mencionam, mais de metade das doses foram administradas em apenas 10 países considerados ricos (representando menos de 10% da população mundial) e mais de 100 países ainda não vacinaram uma única pessoa, entre os quais estão muitos países considerados mais pobres que devem receber os primeiros lotes de vacinas somente nas próximas semanas.
Nesse sentido, as três organizações pedem aos Governos que incluam todos os profissionais de saúde da linha da frente nos seus planos de distribuição e que proporcionem condições de trabalho seguras.
Sem esquecer, frisam as mesmas organizações, "os trabalhadores de limpeza, agentes comunitários e assistentes sociais", que "têm sido frequentemente negligenciados durante a pandemia".
"Os Governos devem garantir que todos os profissionais de saúde, em qualquer lugar, estão protegidos contra a [doença] covid-19. Por terem arriscado a vida durante a pandemia, é hora de terem prioridade na vacinação. Devem ser tomadas medidas urgentes para eliminar as enormes desigualdades globais no acesso às vacinas, para que seja protegido tanto um agente comunitário no Peru como um médico no Reino Unido", resume Steve Cockburn.
A análise destas três organizações dá a conhecer situações concretas como certos grupos de profissionais do setor da saúde foram negligenciados, e até sofreram represálias, em diferentes áreas geográficas do mundo.
Em países como Malásia, México e Estados Unidos da América (EUA), trabalhadores de limpeza, auxiliares e assistentes sociais enfrentaram represálias, incluindo despedimentos e prisão, após terem exigido condições de trabalho seguras e equipamentos de proteção individual
"As condições de trabalho inseguras e a falta de equipamentos de proteção individual causaram enormes problemas aos profissionais de saúde em todo o mundo durante a pandemia, especialmente na primeira fase", indica a Amnistia Internacional, que recorda um relatório que publicou em julho de 2020 que denunciou a escassez de equipamentos de proteção individual adequados em quase todos os 63 países então monitorizados.
A negligência face a estes profissionais tem sido "uma característica consistente da pandemia num número significativo de países", de acordo com as organizações, citando dados governamentais que mostraram que aqueles que estavam a trabalhar em lares de idosos e centros de cuidados comunitários tinham três vezes mais probabilidade de morrer infetados com o novo coronavírus do que a população trabalhadora em geral.
E ilustram com números recolhidos nos EUA, onde pelo menos 1576 funcionários de lares e idosos morreram de covid-19 em 2020, e no Reino Unido, onde há registo da morte de 494 assistentes sociais.
No campo da vacinação destes profissionais, a Amnistia Internacional, a Public Services International e a UNI Global Union também fazem um conjunto de alertas.
"Apesar de os profissionais de saúde que se encontram altamente expostos aos riscos de contágio terem sido considerados prioritários nos planos nacionais de vacinação da maioria dos Estados, as desigualdades no acesso global significam que nenhum trabalhador foi vacinado em mais de 100 países", indicam.
Também apontam que em alguns países onde já foram iniciados os planos de vacinação, existe o risco de os profissionais de saúde não serem considerados prioritários ou terem de esperar para ser vacinados, "seja por falta de abastecimento, problemas na implementação ou definições restritas do que se considera ser um trabalhador do setor".
Por exemplo, no caso concreto da Europa, zona geográfica onde os profissionais de saúde têm sido geralmente considerados prioritários, as três organizações advertem para "os desafios no abastecimento" e para a desaceleração do ritmo de aplicação dos planos nacionais de vacinação.
"Em alguns países, sindicatos e entidades empregadoras também tiveram de defender que os cuidadores que se deslocam aos domicílios fossem formalmente definidos como trabalhadores do setor para que pudessem ser incluídos nos grupos prioritários", destacam.
Já em outras coordenadas geográficas, nomeadamente no Brasil e no Peru, onde a vacinação dos profissionais de saúde começou em janeiro e fevereiro, respetivamente, a Amnistia Internacional indica que organizações de trabalhadores relataram que alguns funcionários de limpeza de hospitais e equipas de saúde não estão a receber vacinas, apesar de estarem expostos ao vírus.
Por outro lado, em alguns locais, como ainda contam as três organizações, "o pessoal administrativo e de gestão foi vacinado antes de quem está na linha da frente".
A pandemia da doença covid-19 provocou pelo menos 2.560.789 mortos no mundo, resultantes de mais de 115,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus (SARS-Cov-2) detetado em dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
"É uma tragédia e uma injustiça que, a cada 30 minutos, um profissional de saúde morra com covid-19. Trabalhadores em todo o mundo colocaram as suas vidas em risco para tentar manter as pessoas protegidas contra a covid-19, mas muitos foram deixados desprotegidos e pagaram o preço mais elevado", denuncia Steve Cockburn, especialista em Justiça Económica e Social da AI, citado nesta análise conduzida pela organização não-governamental (ONG) e realizada em parceria com a Public Services International e a UNI Global Union.
As organizações admitem que os números serão, provavelmente, superiores, já que nem todos os Estados reuniram informação oficial ou só o fizeram de forma parcial.
Dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) portuguesa, divulgados na passada segunda-feira, indicaram que perto de 28 mil profissionais de saúde ficaram infetados com o vírus SARS-CoV-2 desde o início da pandemia de covid-19 em Portugal, dos quais 19 morreram e mais de 16 mil recuperaram
Perante o cenário global, e para proteger milhões de trabalhadores do setor da saúde em todo o mundo, as três organizações apelam a uma "ação urgente" para acelerar o processo de vacinação "de quem continua na linha da frente".
"É imperativo que os Governos deem prioridade a todos os profissionais de saúde da linha da frente nos planos de vacinação", reforçam, apelando igualmente a medidas urgentes para aumentar o fornecimento global de vacinas, nomeadamente mais investimento na capacidade de produção e mais partilha de tecnologias e conhecimentos por parte dos produtores.
O pedido das três organizações, que surge igualmente como um alerta, acontece num momento em que persistem as desigualdades no acesso às vacinas contra a doença covid-19.
Até agora, segundo mencionam, mais de metade das doses foram administradas em apenas 10 países considerados ricos (representando menos de 10% da população mundial) e mais de 100 países ainda não vacinaram uma única pessoa, entre os quais estão muitos países considerados mais pobres que devem receber os primeiros lotes de vacinas somente nas próximas semanas.
Nesse sentido, as três organizações pedem aos Governos que incluam todos os profissionais de saúde da linha da frente nos seus planos de distribuição e que proporcionem condições de trabalho seguras.
Sem esquecer, frisam as mesmas organizações, "os trabalhadores de limpeza, agentes comunitários e assistentes sociais", que "têm sido frequentemente negligenciados durante a pandemia".
"Os Governos devem garantir que todos os profissionais de saúde, em qualquer lugar, estão protegidos contra a [doença] covid-19. Por terem arriscado a vida durante a pandemia, é hora de terem prioridade na vacinação. Devem ser tomadas medidas urgentes para eliminar as enormes desigualdades globais no acesso às vacinas, para que seja protegido tanto um agente comunitário no Peru como um médico no Reino Unido", resume Steve Cockburn.
A análise destas três organizações dá a conhecer situações concretas como certos grupos de profissionais do setor da saúde foram negligenciados, e até sofreram represálias, em diferentes áreas geográficas do mundo.
Em países como Malásia, México e Estados Unidos da América (EUA), trabalhadores de limpeza, auxiliares e assistentes sociais enfrentaram represálias, incluindo despedimentos e prisão, após terem exigido condições de trabalho seguras e equipamentos de proteção individual
"As condições de trabalho inseguras e a falta de equipamentos de proteção individual causaram enormes problemas aos profissionais de saúde em todo o mundo durante a pandemia, especialmente na primeira fase", indica a Amnistia Internacional, que recorda um relatório que publicou em julho de 2020 que denunciou a escassez de equipamentos de proteção individual adequados em quase todos os 63 países então monitorizados.
A negligência face a estes profissionais tem sido "uma característica consistente da pandemia num número significativo de países", de acordo com as organizações, citando dados governamentais que mostraram que aqueles que estavam a trabalhar em lares de idosos e centros de cuidados comunitários tinham três vezes mais probabilidade de morrer infetados com o novo coronavírus do que a população trabalhadora em geral.
E ilustram com números recolhidos nos EUA, onde pelo menos 1576 funcionários de lares e idosos morreram de covid-19 em 2020, e no Reino Unido, onde há registo da morte de 494 assistentes sociais.
No campo da vacinação destes profissionais, a Amnistia Internacional, a Public Services International e a UNI Global Union também fazem um conjunto de alertas.
"Apesar de os profissionais de saúde que se encontram altamente expostos aos riscos de contágio terem sido considerados prioritários nos planos nacionais de vacinação da maioria dos Estados, as desigualdades no acesso global significam que nenhum trabalhador foi vacinado em mais de 100 países", indicam.
Também apontam que em alguns países onde já foram iniciados os planos de vacinação, existe o risco de os profissionais de saúde não serem considerados prioritários ou terem de esperar para ser vacinados, "seja por falta de abastecimento, problemas na implementação ou definições restritas do que se considera ser um trabalhador do setor".
Por exemplo, no caso concreto da Europa, zona geográfica onde os profissionais de saúde têm sido geralmente considerados prioritários, as três organizações advertem para "os desafios no abastecimento" e para a desaceleração do ritmo de aplicação dos planos nacionais de vacinação.
"Em alguns países, sindicatos e entidades empregadoras também tiveram de defender que os cuidadores que se deslocam aos domicílios fossem formalmente definidos como trabalhadores do setor para que pudessem ser incluídos nos grupos prioritários", destacam.
Já em outras coordenadas geográficas, nomeadamente no Brasil e no Peru, onde a vacinação dos profissionais de saúde começou em janeiro e fevereiro, respetivamente, a Amnistia Internacional indica que organizações de trabalhadores relataram que alguns funcionários de limpeza de hospitais e equipas de saúde não estão a receber vacinas, apesar de estarem expostos ao vírus.
Por outro lado, em alguns locais, como ainda contam as três organizações, "o pessoal administrativo e de gestão foi vacinado antes de quem está na linha da frente".
A pandemia da doença covid-19 provocou pelo menos 2.560.789 mortos no mundo, resultantes de mais de 115,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus (SARS-Cov-2) detetado em dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.