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Carta aberta do patrão que paga férias paradisíacas aos seus trabalhadores

Ricardo Costa, que foi pioneiro em Portugal ao criar um departamento da felicidade na sua empresa, e que já levou os trabalhadores de férias à Jamaica ou ao México, escreve uma mensagem na primeira pessoa em que se manifesta desiludido com as medidas do Governo e dá novas ideias.

Ricardo Costa, CEO do grupo bracarense Bernardo da Costa.
01 de Abril de 2020 às 16:24
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O meu nome é Ricardo Costa e sou CEO do grupo Bernardo da Costa. Um grupo de empresas familiar que nasceu em Braga no ano de 1957 e conta já com membros da sua terceira geração na gestão do negócio. Temos 164 pessoas a trabalhar connosco, 82 das quais em Portugal.

 

Talvez já tenham ouvido falar de nós quando em 2017 fomos a primeira empresa em Portugal a criar um Departamento da Felicidade, que, como o nome indica, procura criar condições para que as pessoas que trabalham connosco sejam mais felizes.

 

Também fomos notícia nos momentos em que oferecemos viagens à nossa equipa (ou um salário extra às pessoas que, por algum motivo, não podiam viajar). Juntos estivemos em Punta Cana, passamos por Cuba, México, Jamaica e, por último, Cabo Verde. Este ano, entre os dias 9 e 16 de Junho, estava previsto irmos todos ao Egito.

 

O que me leva a escrever este texto é a profunda desilusão com as medidas adotadas pelo Governo para fazer face à crise económica que começa a surgir e que seguramente se vai agravar, em consequência da pandemia da covid-19, que é já a maior crise sanitária da nossa geração.

Quando analisamos as medidas e a sua aplicação na prática ficam-nos na memória essencialmente três palavras – desemprego, lay-off e endividamento.

 

Com exceção de alguns setores muito específicos, como a restauração, hotelaria, agências de viagem, etc., que tiveram quebras na ordem dos 80% a 90% de faturação e onde o lay-off imediato é de facto uma medida importante (desde que devidamente operacionalizado e flexibilizado), em outros setores, como a indústria, o comércio e os serviços que estejam ou venham a sofrer uma redução das encomendas ou faturação entre 20% a 40%, não entendo este incentivo e apoio do Governo para que as empresas suspendam a atividade e os contratos de trabalho.

 

Sim, sou completamente contra a redução em 33% dos salários das pessoas, quando todos sabemos que muitas famílias com os rendimentos atuais já mal conseguem suportar as despesas do dia-a-dia.

 

Alguém já pensou na espiral recessiva que esta medida vai ter a médio prazo? Como vai ser a reintegração de milhares de pessoas depois de estarem três a seis meses sem qualquer atividade profissional? Como vão aguentar estar em casa com um sentimento de inutilidade durante todo este tempo e qual vai ser o seu estado mental e psicológico?

 

E o que devia então fazer o governo? Muito simples – criar um conjunto de medidas de apoio às empresas que, mesmo tendo uma redução da faturação entre 20% a 40%, mantivessem atividade e não diminuíssem em mais de 5% o número de pessoas ao serviço durante este período de crise.

 

Entre estas medidas destaco como prioritárias a isenção das contribuições para a TSU até ao final de 2020, a isenção da taxa de IRC relativo a 2019, a eliminação dos Pagamentos Especiais por Conta durante o ano de 2020 e moratória nos pagamentos de IVA e IRS até ao final do ano, sendo esse valor pago em 36 prestações mensais sem juros a partir de Janeiro de 2021.

 

Podia ir mais longe e sugerir que o Estado suportasse uma parte dos salários dos trabalhadores na mesma proporção da redução da facturação, e mesmo assim estas medidas teriam de certeza menos impacto no Orçamento do Estado que o lay-off simplificado e o pagamento dos subsídios de desemprego que a Segurança Social vai ter de pagar já a partir de Abril.

 

Com estes apoios o Governo conseguia, por um lado, garantir que a economia continuava a funcionar, e, por outro lado, incentivar a que as empresas se reinventassem e se adaptassem à nova realidade económica.

 

No nosso caso, mesmo sem qualquer medida efetiva de apoio por parte do Governo, e seguindo uma filosofia que sempre colocamos em prática no que se refere à importância da mudança e da adaptação, estamos já a reinventar e inovar processos, serviços e produtos.

 

Admitimos já durante o mês de março novos estagiários e renovamos vários contratos de trabalho, mesmo com as pessoas que passavam a efetivos.

 

Também conseguimos antecipar alguns aspetos positivos desta crise, como são o desenvolvimento e disseminação do teletrabalho, que permite a flexibilização dos horários, a redução do tráfego para entrar/sair nas cidades, as melhorias ambientais e sociais e a utilização das ferramentas informáticas.

 

Tudo isto permite atingir mais facilmente um dos objetivos do nosso departamento da felicidade – atingir o equilíbrio perfeito entre a vida pessoal e profissional.

 

Sinto um orgulho enorme em perceber que tudo o que "investimos" nas pessoas ao longo de todos estes anos está agora, neste momento tão difícil, a ter o retorno esperado. A nossa equipa está mais unida do que nunca e a adaptar-se todos os dias para conseguir vencer.

 

Sempre afirmei que as empresas não são feitas de pessoas - as empresas são as pessoas. Nunca este sentimento fez tanto sentido.

 

O Governo não pode incentivar a que, de um momento para o outro, essas mesmas pessoas vejam reduzido em um terço os seus rendimentos.

 

À minha equipa eu digo que vou lutar todos os dias para que o desemprego ou o lay-off nunca sejam uma opção. E, sim, iremos continuar a pagar os salários e prémios a todos os que sempre estiveram ao nosso lado.

Ricardo Costa,
CEO do grupo Bernardo da Costa

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