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Quantas vidas vale a sua empresa?

Eugénio Santos, dono da fabricante de colchões Colunex, que emprega 140 pessoas, fechou a sua fábrica e lojas e escreveu uma carta aberta ao país: “Os empresários e as empresas têm de ter uma atitude urgente e que ponha a sobrevivência das pessoas à frente das questões materiais.”

Eugénio Santos, dono e CEO da Colunex.
17 de Março de 2020 às 20:04
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"O meu nome é Eugénio Santos, sou proprietário e CEO do grupo Colunex. 

 

O momento atual é extremamente sério. Não é preciso ser muito inteligente para perceber o que se passa e o que nos espera em termos de mortalidade e destruição de valor. Basta olhar para os países que têm passado por estes maus momentos e não tomaram as medidas corretas, nos timings necessários. 

 

A verdade é que, o crescimento exponencial desta pandemia é muito por força de uma perfeita irresponsabilidade coletiva. A dupla que nos deveria governar vai agindo, mas permanentemente tarde demais, com medo, escudados nos argumentos dos direitos em democracia e da lei, sem pulso e atitude de liderança forte. A memória talvez seja curta, mas na última dura e "quente" batalha, a atitude foi a mesma: são simpáticos, conversa bonita, abraçam bem, mas não sabem nem comandar nem fazer o que tem de ser feito: nem antes, nem durante, nem depois da tragédia. Numa "guerra" não é isso que se espera dos generais do topo da hierarquia, mas, infelizmente, são os generais que temos.

 

Felizmente, estão a existir alguns governantes e autarcas, institutos e serviços públicos, que  sabem desempenhar a sua função, dirigindo e agindo rápida e assertivamente, sem medo e com determinação. Esses são os que estão a fazer a diferença! Quem são uns, quem são outros? Qualquer português o consegue perceber.

 

A sociedade civil tem de ser ágil a reagir e a agir. O nosso futuro depende disso, assim como o número de pessoas que irão morrer ou ficar com sequelas.

 

Os empresários e as empresas têm de ter uma atitude urgente e que ponha a sobrevivência das pessoas à frente das questões materiais.

 

Com as pessoas a salvo no recato das suas casas, estou certo de que a sociedade como um todo terá a capacidade de resolver e ajudar a que se encontrem soluções para a componente material.

 

Este não é um momento para que os empresários e as empresas coloquem, como prioridade principal, as quebras de produtividade, as quebras de rentabilidade, as perdas de eficiência, as perdas competitividade ou mesmo, no extremo, a sobrevivência empresarial!

 

É um momento para pensar na sobrevivência das pessoas. Depois… ser líder e liderar é ter a capacidade de parar, refletir e reorganizarmo-nos para tratarmos do que é material.

 

Felizmente, muitos empresários e empresas já assumiram o seu papel e agiram. Uns micro, uns pequenos, uns médios, uns grandes e mesmo uns gigantes, cada um ao seu nível percebeu o quão importante é o valor humano.

 

Infelizmente, ainda milhares de empresários e empresas continuam a laborar - umas produtivas, outras comerciais -, colocando em risco os seus colaboradores, as famílias e, enfim, a sociedade como um todo.

 

Não falo, claro, de todas aquelas empresas e instituições que continuam a laborar porque são fundamentais para garantir os serviços imprescindíveis de abastecimento alimentar, de equipamentos, segurança e saúde. A todos esses e às suas equipas, devemos nós, sociedade, prestar a mais profunda e sincera homenagem pelos riscos que por nós correm, devendo nós contribuir com a nossa atitude para o sucesso dos seus trabalhos.

 

Para as empresas e empresários que, infelizmente, não têm capacidade ética para, genuinamente, perceber isto e agirem conforme deveriam, por favor, sejam novamente egoístas e, quanto mais não seja, pensem que, no futuro, vão precisar das pessoas que convosco trabalham e de uma sociedade capaz e saudável.

 

Se isso vos levar a agir, ótimo, até talvez ainda vão a tempo de fazer um papel bonito perante a sociedade.

 

Caso insistam em permanecer egoisticamente no ato de colocarem em risco as vossas pessoas, lamento! Sinceramente, lamento e espero que tenham equipas capazes de vos mostrar o que significa a dignidade humana e abandonem eles mesmos os respetivos postos de trabalho. 

 

A Colunex fez na quinta-feira, dia 12, uma simulação global de teletrabalho. Na sexta-feira, toda a equipa voltou, encaixotou tudo o que precisava para um ou dois meses e encerrou escritórios, estando as pessoas desde então a trabalhar em casa, o melhor que podem e sabem. As lojas Colunex fecharam na noite de domingo, dia 15. Ontem, segunda-feira, dia 16, à primeira hora, a logística encerrou e a fábrica começou a preparar-se, com segurança, para ao início da tarde estar já encerrada e as pessoas a caminho das suas casas.

 

Com toda a sinceridade e humildade, nunca pensei, enquanto empresário, ter de tomar atitudes que influenciassem tão diretamente a probabilidade de sobrevivência, na verdadeira e dura aceção da palavra, das pessoas da minha equipa, das suas famílias e da sociedade.  

 

Mas a vida de quem lidera é isto mesmo, e cada um de nós, nos diversos papéis que desempenha na sociedade, deve ser um líder. 

 

É nestas alturas que sermos pessoas, empresários e empresas com valores éticos, marca a diferença.

 

Fechámos toda a Colunex, pois considerava e considero ser atitude mais correta para aumentar a capacidade de sobrevivência das nossas pessoas, das suas famílias e da sociedade em que vivemos.

 

Os próximos tempos vão ser muito duros. Duros em termos de perdas de vidas humanas, duros pelas pessoas que vierem a ficar com problemas de saúde para o resto da vida, duros pelos tempos dramáticos que as economias vão viver.

 

Para as empresas e para as pessoas, financeiramente vai ser complicado? Claro que sim! Vai ser mau, muito mau, mas tenho a certeza de que com arte, engenho, empenho de todos e seriedade das lideranças, teremos enquanto sociedade capacidade para sobreviver e sairmos mais maduros e preparados para voltarmos a vencer.

 

Nos últimos dias, a prioridade foi que cada um dos nossos colaboradores estivesse em casa resguardado o mais depressa possível. Pedimos-lhes também, com firmeza, que civicamente fossem responsáveis e contribuíssem com as suas atitudes, enquanto cidadãos, para o bem-estar coletivo.

  

De uma coisa podem estar descansados: vamos passar por isto juntos, como já aconteceu no passado!

 

Os meus parabéns a todos as empresas, instituições e pessoas que têm agido com firmeza e sem medo, colocando o interesse coletivo à frente do bem-estar material.

 

Para todos os outros, por favor, parem e perguntem a vocês mesmos: Quantas vidas vale a sua empresa?

 

Para a minha equipa da Colunex, pela maneira cívica e profissional com que têm agido nestes difíceis momentos, os meus profundos agradecimentos.

 

É um orgulho liderar uma empresa assim.

 

Cuidem de vocês, cuidem dos vossos, estarão a cuidar de todos nós."

 

Eugénio Santos 

Proprietário e CEO do grupo Colunex

 

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