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Alemanha e França impõem confinamentos parciais de um mês para travar covid

A chanceler alemã e os líderes dos estados federados chegaram a acordo para a aplicação das mais duras restrições desde que, na primavera, o país esteve em confinamento para conter o avanço da covid-19. A Alemanha vai entrar em confinamento parcial durante o período de um mês. Emmanuel Macron anunciou que também a França entrará em confinamento a partir de sexta-feira.

Reuters
28 de Outubro de 2020 às 15:31
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As autoridades germânicas chegaram esta quarta-feira a acordo para impor um período de um mês de confinamento parcial na Alemanha, compromisso este que implicará a adoção das medidas mais restritivas de contenção da pandemia desde que, na primavera, o país esteve em confinamento total. 

Este acordo foi alcançado após negociações por videoconferência entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e os líderes dos 16 estados federados germânicos. "Estas são medidas difíceis", admitiu a chanceler alemã em conferência de imprensa realizada esta tarde.

O confinamento parcial de um mês entrará em vigor na próxima segunda-feira, dia 2 de novembro, e as novas medidas restritivas agora decididas serão reavaliadas dentro de duas semanas, revelou Merkel.

A governante prometeu ainda que o governo federal irá apoiar financeiramente as empresas penalizadas pela imposição deste confinamento parcial, assim como clubes e outras instituições, e assegurou que as empresas mais pequenas vão receber apoios no valor de 75% da sua faturação. O apoio destinado às empresas poderá chegar a um máximo de 10 mil milhões de euros, precisou a chanceler.

Angela Merkel explicou este reforço de restrições com a necessidade de não sobrecarregar o sistema de saúde e em particular os hospitais, isto depois de o número de internados em cuidados intensivos ter duplicado apenas nos últimos 10 dias.

A democrata-cristã explicou ainda que se se mantivesse esta taxa de crescimento, a capacidade instalada do sistema de saúde ficaria esgotada em poucas semanas. Por outro lado, Merkel notou que, nesta fase, 75% das infeções não são rastreváveis, outro fator que levou ao agravamento das medidas restritivas hoje decididas. Isto porque, detalhou, sendo possível rastrear a origem de apenas 25% dos novos casos, torna-se mais difícil perceber quais as razões da convivência social estão a causar um aumento tão acentuado dos contágios. 

Ainda assim, numa mensagem em que tentou tranquilizar os cidadãos alemães, assegurou que o sistema de saúde germânico permanece totalmente capaz de lidar com o desafio colocado pela crise pandémica. 

"Precisamos agir agora. A situação está muito grave", declarou aos jornalistas.

Merkel e os chefes dos governos dos Länder decidiram também encerrar bares, cafés, restaurantes, ginásios, cinemas, teatros, piscinas e parques públicos durante um mês. Os concertos serão cancelados. 

Ainda no que diz respeito aos espaços comerciais, as novas regras vão permitir que as lojas estejam abertas apenas e só se garantirem a presença de somente um cliente por cada 10 metros quadrados de espaço disponível. 

Durante o encontro mantido esta manhã, relatou a imprensa alemã, Angela Merkel salientou a necessidade de reforçar a sensibilização da sociedade germânica para o risco agravado de contágios, pelo que apelou à redução dos contactos sociais ao mínimo essencial e à realização de viagens apenas em circunstâncias essenciais. Já a pernoita em hóteis serão apenas permitida por razões de ordem profissional.

Em relação aos contactos sociais, estes ficam limitados a um máximo de dois agregados familiares e até ao limite de 10 pessoas. 

Merkel sustentou estas medidas com a tentativa de limitar o impacto económico do confinamento parcial que se segue e assegurar que escolas e centros de dia poderão continuar a funcionar. 

O jornal britânico The Guardian recorda que, em setembro, a chanceler Merkel alertou que por altura do natal o país poderia atingir 19 mil novos casos de covid, uma declaração que levou a acusações de "alarmismo". No entanto, os dados indicam que esse patamar de contágios poderá ser alcançado mais cedo, pois ainda esta quarta-feira o número de novos casos confirmados atingiu um novo recorde de 14.964. 

Macron também anuncia confinamento a partir de sexta-feira
Ao início da noite, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez uma comunicação ao país em que anunciou que também França vai entrar em confinamento já a partir desta sexta-feira, 30 de outubro, e assim ficará até 1 de dezembro. Será um confinamento quase total, mais restritivo do que na Alemanha. Na terça-feira, França registou 523 mortes por covid, o número mais alto desde o pico de fatalidades verificado em abril.

Tal como anunciado por Merkel, também Macron adiantou que as medidas restritivas serão revistas dentro de 15 dias, altura em que as entidades responsáveis irão decidir se os espaços comerciais poderão ser reabertos. O chefe de Estado disse que o confinamento será aliviado uma vez que o número de novas infeções volte para um patamar em torno dos 5 mil novos casos por dia. Atualmente, França tem registado mais de 30 mil contágios diários, com um pico de mais de 52 mil a 25 de outubro.



Mas ao contrário do confinamento decretado na primavera, desta feita a generalidade das escolas e creches vão continuar abertas, enquanto as universidades devem passar para ensino à distância. O recurso ao teletrabalho deve ser generalizado. A partir de sexta-feira, os franceses só poderão sair de casa para exercer profissões essenciais ou por razões médicas. Negócios não essenciais como restaurantes e bares ficarão encerrados, mas as fábricas poderão continuar a laborar.

"Estamos sobrecarregados por uma segunda vaga, que será mais difícil e mais fatal do que foi a primeira", alertou o líder gaulês defendendo que os esforços até aqui levados a cabo pela sociedade francesa "são úteis, mas insuficientes". 

Macron assegurou que uma estratégia assente em adquirir imunidade de grupo levaria a 400 mil mortes adicionais e garantiu que as previsões apontavam para que, sem novas medidas de contenção, as camas de cuidados intensivos estariam lotadas em meados de novembro, razão pela qual era fundamental uma "travagem brutal". 

Macron fez a comunicação televisiva aos franceses já depois de o primeiro-ministro gaulês, Jean Castex, se ter reunido com os partidos da oposição e os parceiros sociais para explicar a necessidade de recurso a novas medidas para travar o avanço da pandemia.

Várias regiões, incluindo a de Paris, têm estado com o dever de recolhimento domiciliário noturno, contudo isso tem sido insuficiente para reduzir as novas infeções. É que também na França têm vindo a ser atingidos nos últimos dias recordes em termos de novos casos de covid. 

Europa deve acompanhar eixo franco-alemão
A segunda vaga da crise pandémica parece ser já uma realidade indesmentível e ter chegado com mais força do que a primeira. Portugal acaba também de registar um novo máximo de novas infeções pelo novo coronavírus com 3.960 casos nas últimas 24 horas, tal como Itália que hoje atingiu 24.991 novas infeções pelo novo coronavírus, o valor mais alto até agora registado no país.


E numa altura em que Espanha vive novamente sob o estado de emergência, com recolher obrigatório durante a noite.

O anúncio destas medidas por parte da Alemanha e, tudo indica, da França, as duas maiores economias europeias e o eixo decisivo para determinar o rumo da política da União Europeia, acontece na véspera de os líderes europeus se reunirem, num Conselho Europeu extraordinário por videoconferência, para acordarem novas medidas de combate à crise sanitária. 

Ou seja, tudo aponta para que a generalidade dos países europeus recorram a medidas mais restritivas durante os dias que se seguem. Dado o agravamento da situação pandémica em Portugal, no sábado o Governo vai reunir-se em conselho de ministros extraordinário a fim de aprovar novas medidas de contenção da pandemia. Depois de a 14 de outubro ter anunciado que Portugal ia entrar em situação de calamidade, tem crescido a pressão para que seja decretado o estado de emergência, o que tem de ser feito pelo Presidente da República.

(Notícia atualizada às 19:40 com declarações de Angela Merkel e Emmanuel Macron)

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