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Portugal poupou 5,3% do PIB com juros mais baixos dos empréstimos europeus
Entre 2011 e 2019, Portugal poupou 5,3% do seu PIB por ter recorrido a empréstimos europeus, em vez de se ter financiado nos mercados. A conclusão é do Mecanismo Europeu de Estabilidade, responsável pelos empréstimos, e que se mostra preocupado com a banca e a dívida públicas portuguesas no pós covid-19.
Portugal poupou 5,3% do seu PIB entre 2011 e 2019, por ter beneficiado de juros mais favoráveis dos empréstimos europeus concedidos no âmbito do programa de ajustamento, concluiu o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE).
No relatório anual divulgado nesta quinta-feira, 17 de junho, o mecanismo concluiu que as condições "mais favoráveis" dos empréstimos que atribuiu durante a crise financeira "geraram poupanças orçamentais para os países sob programas de ajustamento".
Para chegar a esta conclusão, o MEE compara as taxas de juro dos empréstimos europeus com aquelas que os Estados-membros sob programa de ajustamento - Portugal, Grécia, Irlanda, Chipre e Espanha - teriam enfrentado nos mercados. As contas basearam-se nas taxas de juro estimadas a 10 anos para cada país no momento do pagamento das tranches e o custo atual dos empréstimos europeus.
Nesse sentido, o organismo europeu liderado por Klaus Regling concluiu que Portugal poupou um total de 5,3% do seu PIB entre 2011 e 2019. Os dados mostram que Portugal poupou 1,8% do seu PIB durante o programa de ajustamento (entre 2011 e 2014) e 3,5% entre 2015 e 2019.
Comparando com os outros países que estiveram sob resgate, Portugal fica a meio da tabela. A Grécia poupou 43,2% do seu PIB e o Chipre teria gastado mais 11,9% caso se tivesse financiado nos mercados no pico da crise.
Por outro lado, a Irlanda e a Espanha, com poupanças de 2,3% e 1,2% do PIB, respetivamente, beneficiaram menos do que Portugal das condições mais favoráveis dos empréstimos europeus.
Na conferência de imprensa depois da reunião anual dos governadores do MEE, Klaus Regling considerou que Portugal não enfrenta novamente o risco de ficar isolado no acesso a financiamento. "Não é algo com que tenhamos de nos preocupar agora", afirmou, em resposta ao Negócios.
Por sua vez, o presidente do Eurogrupo, Pascal Donohoe, mostrou-se confiante na capacidade da economia portuguesa em sair da crise. "O plano de recuperação português terá uma força que vai levar ao tipo de mudanças nas finanças públicas que Portugal e outros países precisam", afirmou.
Banca e dívida pública no pós-covid preocupam MEE
No relatório anual, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) olha para os impactos da covid-19 na economia portuguesa e sublinha que a pandemia "interrompeu a recuperação do setor bancário e enfraqueceu as métricas de profitabilidade, embora as moratórias tenham servido como um amortecedor".
Embora a utilização de medidas de apoio do Estado e "a tolerância da supervisão" tenham permitido reduzir o malparado, "no futuro, os bancos vão ter de enfrentar um ambiente dificil", considera o MEE.
"O sistema financeiro português ainda não experienciou a onda de consolidação da banca nacional que foi vista noutros países da zona euro", sublinha o mecanismo.
Recordando que vai monitorizando os riscos para o pagamento dos empréstimos europeus, o MEE afirma que "a alta dívida pública portuguesa continua a ser uma vulnerabilidade importante". Apesar de a dívida ter escalado com a crise pandémica, o organismo europeu espera que desça gradualmente no médio prazo e em linha com o crescimento económico.
(Notícia atualizada às 14:10 com declarações de Klaus Reglin e Pascal Donohoe)