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O que se sabe sobre recessões, incluindo a próxima

A especulação é grande: está, ou não, a aproximar-se uma nova recessão económica? E, a confirmar-se, qual será a sua dimensão? São várias as questões que pairam, numa altura de grande incerteza.

Bloomberg
31 de Agosto de 2019 às 21:00
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Os economistas consideram que as hipóteses são de uma em três de a economia dos EUA entrar em recessão no próximo ano, depois da sua maior expansão de sempre. A Alemanha, o maior motor da economia da União Europeia, está em risco. As preocupações estão a aumentar mesmo na Austrália, que consegue o feito de estar há 28 anos sem contrair.

 

Já se passou tanto tempo desde a Grande Recessão de 2007-2008 que muitos adultos ainda não viveram numa economia que contrai enquanto trabalham. Mas o abrandamento da economia mundial e a guerra comercial EUA-China, entre outras questões, aumentaram os receios de que uma nova recessão esteja ao virar da esquina.

 

É inevitável uma recessão?

Provavelmente sim – recessões seguem-se a expansões e vice-versa. A verdadeira questão é quando é que chega uma recessão, quão duradoura e quão severa será.

 

Uma recessão nos EUA significa uma recessão mundial?

Não necessariamente. Os EUA passaram por 11 recessões desde o fim da Segunda Guerra Mundial, segundo os dados da National Bureau of Economic Research (NBER). O Fundo Monetário Internacional (FMI) reporta apenas quatro recessões mundiais, desde 1960. Nenhuma das instituições usa a mesma definição de recessão, que normalmente é definida por um período de dois trimestres consecutivos de contração da economia.

O NBER, que é a entidade que reporta os dados oficiais dos EUA, considera também fatores como o emprego, a produção industrial e os rendimentos, e normalmente demora cerca de um ano até determinar uma recessão. Já o FMI olha para o PIB per capita ajustado da inflação, e inclui o enfraquecimento da produção industrial, do comércio, os fluxos de capital, o consumo de petróleo e o desemprego.

 

O que espoleta a recessão?

Antes da Primeira Guerra Mundial, era "relativamente frequente" que as recessões "resultassem de uma ampla gama de flutuações nos processos induzidos pelo setor privado nos gastos, tais como colapsos de investimentos e pânico financeiro", de acordo com um estudo de Christina Romer, que liderou o órgão de conselheiros do presidente Barack Obama.

 

A chamada "grande moderação", que marcou um período de relativa estabilidade durante cerca de 25 anos no início dos anos 80, criou a perspetiva de que as recessões modernas não acontecem sem "um choque inesperado para a economia com consequências duradouras, como um forte aumento nos preços do petróleo" – a causa das contrações da economia dos EUA nos anos 70 e 80 – ou sem "desequilíbrios acumulados que deixam de poder ser ignorados."

 

O que constitui um desequilíbrio?

Um exemplo foi a bolha das dotcom que cresceu no final dos anos 90 e estourou antes da recessão de 2001. Bem como o aumento expressivo do "subprime" que precedeu a chamada Grande Recessão de 2007-2009. Muitos americanos contraíram empréstimos hipotecários que não podiam pagar, que eram vendidos a investidores como ativos de grande qualidade.

 

O que torna uma recessão moderada ou severa?

Para começar, a sua duração. A recessão de 2007-2009 durou 18 meses, sendo a maior desde a Grande Depressão. A recessão em 1980 já durou apenas seis meses. Outras formas de medir a severidade de uma recessão passam por quanto contrai a economia e quão degradado fica o mercado de trabalho.

 

As piores recessões tendem a ser as que incluem algum tipo de colapso no sistema financeiro, como aconteceu nos EUA em 2007 e em 1929.

 

Os historiadores têm analisado se a duração de uma expansão influencia a dimensão da recessão subsequente. Os economistas da Reserva Federal de Cleveland encontraram poucas evidências desta relação, mas encontraram razões para acredita que recessões severas (como a que acabou em 2009) dão origem a expansões fortes.

 

Outro indicador da severidade de uma recessão é avaliar qual a abrangência da contração. A relativamente curta e moderada recessão de 2001, por exemplo, foi praticamente confinada ao setor tecnológico, com um impacto residual no resto da economia.

 

A próxima recessão vai ser das grandes?

É impossível saber. Do lado positivo, as famílias americanas estão atualmente menos endividadas, e um aumento do financiamento hipotecário deixou os americanos com mais dinheiro na carteira. E, assim como em 2001, as tensões estão (por enquanto) praticamente circunscritas a um setor – indústria.

 

Os pessimistas devem salientar que as taxas de juro já estão baixas, o que significa que a Fed tem menos munições convencionais para combater uma contração, e que o défice orçamental dos EUA deverá atingir o estonteante valor de um bilião de dólares no próximo ano, o que pode afetar a capacidade do Governo de injetar estímulos orçamentais.

 

Ao nível global, o Fórum Económico Mundial alertou que o "fardo de dívida mundial", em cerca de 225% do PIB no início do ano, é "significativamente mais elevado do que antes da crise financeira mundial."


Pode fazer-se alguma coisa para atenuar a próxima crise?

Em todo o mundo os países estão a avaliar as opções disponíveis para implementarem estímulos monetários e orçamentais. Na Alemanha, que já registou uma contração do PIB no segundo trimestre deste ano, há sinais de que a abordagem de um equilíbrio orçamental rígido possa dar lugar a um aumento da despesa, de forma a incentivar o crescimento. Mesmo a Austrália e Nova Zelândia, que não reagiram com medidas extremas na última crise financeira mundial, estão a pensar em implementar medidas.

 
(Texto original: What to Know About Recessions, Including the Next One)

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