"A necessidade é a mãe da invenção. Tempos desesperados levam a medidas desesperadas e sem dúvida alguma nos últimos três anos a forma como lidámos e interagimos com os media mudou para sempre." Foram as palavras de Juan Señor, presidente do Innovation Media Consulting Group, em Londres, à audiência de anunciantes, e aos diretores editoriais que se reuniram no evento "Cofina Top 30 Anunciantes".
Desde a pandemia da peste negra, no século XIV, que acelerou o fim do feudalismo ou o advento da I Guerra Mundial, que, face aos milhões de soldados mortos, permitiu a entrada massiva das mulheres no mercado laboral. A verdade é que a partir de grandes crises nascem grandes oportunidades, por vezes com a capacidade de causar um impacto revolucionário e duradouro no mundo. Portanto, a pandemia da covid-19 desencadeou e acelerou inúmeros processos, que poderiam ter demorado décadas a ter lugar.
Juan Señor explicou que "muitos proprietários de grupos de media ou editores que estavam até recentemente em negação e esperavam que o ‘novo normal’ voltasse a ser o ‘velho normal’, estão agora a perceber que tal não vai acontecer. Há um senso de aceitação, vontade de mudar e de adaptação", disse Señor, que desde 2002, dirige projetos em todo o mundo, com o objetivo de auxiliar grandes grupos noticiosos a reinventar os seus produtos e permanecerem relevantes com o público, apesar da constante mudança promovida pela tecnologia.
Uma nova era digital
Estamos no início de uma nova era digital. "Se por um lado, os anunciantes desejam alcançar as audiências e estabelecer uma relação duradoura; por outro lado, os editores querem reconectar-se com essas mesmas audiências".
"Felizmente 2023 traz consigo o fim de cookies de terceiros, tratando-se de um grande momento para a indústria. É um ano em que a publicidade digital vai mudar profundamente", refletiu o CEO.
Estamos assim num momento em que os editores estão prestes a ter acesso a dados em primeira mão. "Trata-se de uma oportunidade de ouro, tendo em conta que até agora os grandes grupos editoriais têm de certa forma organizado o seu modelo de negócio quase às cegas." Presentemente, para Juan, a Cofina já é sem questão líder de audiências na imprensa e na TV e a possibilidade de progredir continua a ser constante.
Antecipando, consequentemente, que o fim de cookies de terceiros e o acesso a dados sobre os seus consumidores em primeira mão só irão aprimorar e elevar ainda mais essa vantagem, tanto para o grupo em si como para os anunciantes que apostam na Cofina. O que por sua vez irá gerar melhores resultados tanto a nível informativo, relativamente à qualidade da informação divulgada, como a nível dos anunciantes que não só poderão ver os seus negócios adquirirem ainda mais amplitude e a partir dessa premissa ciclicamente contribuir – através de lucro e financiamento – para um jornalismo mais livre e democrático, refletiu o orador.
"Temos de saber quem é a nossa audiência, quem são, o que querem, quanto estão disponíveis a pagar, a sua agenda, os seus hábitos… a partir daí conseguimos saber se estão dispostos ou não a pagar, o que mais lhes podemos vender e eles poderão partilhar esse perfil com vocês."
O presidente da Innovation Media Consulting Group considera que o modelo de "clique" já não funciona, nem para os anunciantes, nem para os media. Ao invés de cliques, o foco deverá ser o tempo que o consumidor demora no "interior" da notícia. Cada vez mais os anunciantes valorizam o tempo que os indivíduos passam a ver um anúncio ou a ler um conteúdo, e não o "clique" muitas vezes acidental que não se traduz de todo em interesse.
Reformular o modelo de negócio
A Cofina, como muitos outros gigantes dos media, está a reformular todo o seu modelo de negócio para que os consumidores escolham realmente ver ou ler o anúncio/conteúdo em questão – para que olhem e vejam de facto. Privilegiando a atenção plena de quem está realmente interessado, e assim muito possivelmente irá adquirir o produto.
"Perder audiência, não é sinónimo de perder influência", comentou Juan. As audiências verdadeiramente impactadas e interessadas são aquelas que estão dispostas a pagar por serviços de subscrição premium, sabidamente de qualidade superior. Atualmente, o New York Times e a CNN, por exemplo, têm mais de mil milhões de visitantes por ano.
"Posso deixar de lucrar? Não. Assim que vendemos a audiências qualificadas e verificadas, o valor sobe. Posso cobrar mais por esses anúncios porque quem os vai ver é um leitor registado", esclareceu Juan Señor, durante a sua intervenção.
"Estamos na era das subscrições e há que aproveitar. Assistimos continuamente à migração dos leitores de jornais e revistas impressos para os respectivos sites, ou à crescente migração de telespectadores analógicos para plataformas digitais".
"Cada vez mais os indivíduos reconhecem a pertinência e necessidade de jornalismo independente e que para preservar essa independência há que pagar. Do mesmo modo que plataformas como a Netflix ou o Spotify têm valor para milhões de pessoas em todo o mundo, o mesmo equivale para os sites noticiosos de qualidade – este é o futuro", concluiu o presidente do Innovation Media Consulting Group.