"Benfica – um amor sem fronteiras", "Os cetáceos", do Lidl, "Caída do céu", da Super Bock, "Livres", da Sumol, ou "A Troca", da NOS, são apenas alguns exemplos de campanhas desenvolvidas pela agência O Escritório.
De acordo com Nuno Jerónimo, fundador e diretor criativo d’O Escritório, os dois sócios juntaram-se, no final de 2011, "sem muitas certezas sobre o que a agência ia ser, mas com muitas convicções sobre o que não ia ser". Na prática, queriam "fugir a vícios" que viam noutras agências, mas sempre com a premissa de "não aparecer contra ninguém": "Há espaço para diferentes tipos de agências. O nosso foco era a criatividade. Quando percebemos que passávamos 80% do nosso tempo em reuniões e a gerir problemas de pessoas e só 20% a fazer aquilo que realmente gostávamos, resolvemos inverter esse tempo."
Apesar de ter surgido a hipótese de arranjar financiamento para lançar a agência, decidiram "entrar só os dois por uma questão de sustentabilidade": "Chama-se O Escritório porque no início não tínhamos escritório, espaço físico, nem equipa, nada. Trabalhávamos em minha casa, em casa dele, nas esplanadas…", conta Nuno Jerónimo.
Até que surgiu o primeiro grande trabalho: "A Coca-Cola desafiou-nos para trabalhar os patrocínios do Benfica e do Porto. Tinham um camarote no Estádio da Luz e perguntámos se podiam emprestar durante uns meses. Fizemos do camarote o nosso escritório. Uma das ideias que desenvolvemos foi a Camarata Coca-Cola: transformámos o camarote numa camarata onde dormiam adeptos do Benfica e fãs da Coca-Cola… Portanto perdemos o escritório (risos). Mas fomos aplicando este método de trabalho em diversos clientes e provou dar bons resultados." De tal forma que chegaram a trabalhar em "postos de combustível da Galp" ou "dentro da PT".
Nuno e Tiago quiseram também adotar um método de trabalho diferente daquele a que já tinham assistido em algumas agências: "Havia um pouco a premissa ‘quando o que tens é um martelo, todos os problemas te parecem pregos’. As agências tendiam a resolver tudo com o que tinham dentro de casa. E nós quisemos quebrar com isso e fazer a coisa de outra maneira: recorríamos a diferentes equipas. Ainda hoje fazemos isso, já temos a nossa equipa com muitas competências, mas se há alguma coisa que não sabemos fazer, não tentamos inventar, estabelecemos parcerias."
Quando questionado sobre as campanhas que mais desafio ou prazer trouxeram, o diretor criativo d’O Escritório confessa ser difícil escolher, mas admite que há "memórias" que guardam "com carinho": "Por exemplo, a campanha que fizemos com a Emirates para o Benfica, com as hospedeiras no centro do estádio. Lançámo-nos de cabeça para fazer uma demonstração à frente de 65 mil pessoas – podia ter corrido tudo mal. Mas foi um sucesso e o impacto que teve foi desmesurado, nem nós estávamos à espera", conta, entusiasmado.
"Estás a falar a sério?"
Nuno Jerónimo elege também o trabalho que têm feito com o Lidl "de construção da marca desde 2017": "Não há uma diferença entre aquilo que nos diverte na nossa vida pessoal e aquilo que nos diverte quando criamos a comunicação das marcas. Temos é de saber adaptar as ‘parvoíces’ às mensagens que temos de passar. Coisas como a alface do Lidl… Lembro-me das caras na reunião em que apresentámos [a ideia]. ‘Estás a falar a sério?’. A verdade é que o impacto que teve na marca e na reputação de todos os frutos e legumes do Lidl foi incrível."
Para fazer "boa comunicação", Nuno Jerónimo assegura que "é preciso ter muita coragem para arriscar" e "ter do lado de lá pessoas que estão na mesma página": "Mais do que grandes marcas – obviamente todos queremos trabalhar com boas marcas que tenham capacidade para investir para que a comunicação seja vista –, temos de ter pessoas que nos entendam, que estejam connosco nestes riscos que corremos. O risco é absolutamente essencial para chegar a sítios diferentes e comunicar de forma diferente. É preciso que as pessoas tenham coragem e acreditem naquilo que estamos a dizer. Temos tido sorte de encontrar clientes bons, que estão connosco nisso."
A agência O Escritório já ganhou quatro leões em Cannes e foi eleita agência criativa do ano pela terceira vez consecutiva nos Prémios Eficácia 2022, promovidos pela Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN): "Os Prémios Eficácia são justamente os prémios que celebram o impacto que as campanhas têm. É o reconhecimento de que o trabalho que estamos a fazer está a ter o impacto que devia ter." No entanto, Nuno Jerónimo considera que os prémios podem "ofuscar e deslumbrar", por isso, escolhe "reagir com serenidade" e manter o foco no trabalho.