Garantir uma cobertura territorial adequada por postos públicos de carregamento à medida que o parque de veículos elétricos cresce é, para a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), o principal desafio que se impõe ao desenvolvimento da mobilidade elétrica e híbrida em Portugal.
Nesse sentido, a ACAP propôs a criação de um Observatório da Mobilidade Elétrica que congregue todos os parceiros do setor, no sentido de se acompanhar, ao dia, a evolução e o estado da rede de carregamento. Para Helder Pedro, secretário-geral da ACAP, "este aspeto é da maior importância, pois é fundamental assegurar uma adequada cobertura do território, assim como cumprir os objetivos estabelecidos. A descarbonização é um caminho sem retorno, mas temos de acautelar que esta se processa de uma forma eficaz."
Crescimento acelerado dos veículos eletrificados
O crescimento acelerado do número de veículos elétricos em Portugal veio dar especial urgência à questão da expansão da rede de carregamento. Segundo a ACAP, de janeiro a dezembro de 2023 as matrículas de veículos ligeiros de passageiros eletrificados [elétricos (BEV), híbridos plug-in (PHEV) e híbridos convencionais (HEV)] totalizaram 92.395 unidades, o que se traduziu numa variação positiva de 58,5% relativamente ao período homólogo de 2022. Trata-se de um crescimento muito acima do verificado na categoria dos automóveis ligeiros de passageiros em todas as energias (+26,1%).
No caso particular dos veículos elétricos (BEV – Battery Electric Vehicles), e ainda segundo a mesma fonte, em 2023 verificou-se um aumento de 101,9% deste mercado, por comparação com o mesmo período do ano anterior, tendo sido matriculadas 36.390 unidades. Desta forma, os automóveis elétricos (BEV) totalizaram 18,2% dos veículos ligeiros de passageiros novos em 2023.
Já os HEV representaram 14,5% do mercado e os PHEV 13,6%. Para Helder Pedro, "um dos factos relevantes ocorridos em 2023 foi que a quota de mercado dos automóveis movidos a energias alternativas (51,9%) ultrapassou, pela primeira vez, a quota combinada dos veículos movidos a gasolina e a gasóleo".
Parque elétrico chega aos 100 mil veículos
Desta forma, em 2023 o parque de automóveis ligeiros de passageiros elétricos (BEV) em Portugal ultrapassou as 100 mil unidades, o que, sendo um marco, representa apenas 1,8% do parque automóvel existente. Neste contexto, e face à necessidade de rápida eletrificação do parque automóvel para cumprir os objetivos ambientais, para a ACAP "é negativo que o Governo tenha atribuído apenas 1.300 incentivos de 4.000 euros à compra de automóveis elétricos, com preço até 62.500 euros, por particulares". Um incentivo claramente insuficiente, "num mercado que atingiu cerca de 36 mil unidades, sendo que a maioria dos veículos foram adquiridos por empresas", nota o responsável.
Descarbonização em causa
Na perspetiva do responsável da ACAP, "tendo em conta o elevado custo de aquisição destes veículos para os consumidores, a que acrescem as dificuldades que muitos destes têm com os carregamentos, se não existirem maiores incentivos por parte do Estado, não será de esperar uma grande adesão dos particulares ao mercado de veículos elétricos, no sentido da sua massificação e da aceleração da descarbonização". Também numa lógica de aposta na descarbonização, na opinião de Helder Pedro, "não é possível ignorar as necessidades de renovação do parque automóvel". Segundo a ACAP, em
Portugal há um milhão e meio de veículos a circular com uma idade superior a 20 anos, o que indicia que as pessoas têm dificuldades económicas para trocar de veículo. Por este motivo, a ACAP propõe que "seja rapidamente implementado o plano de abate a veículos em fim de vida, consagrado na Lei do Orçamento do Estado para 2024, a exemplo do que se verificou em Espanha, Itália ou França", conclui Helder Pedro.