Ao longo dos últimos anos, o setor automóvel em Portugal tem registado um grande crescimento na adoção da mobilidade elétrica e híbrida. De acordo com os últimos dados da ACAP (Associação do Comércio Automóvel de Portugal), em janeiro de 2023, o mercado dos elétricos (BEV) registou um crescimento de 134,7% em comparação com o ano anterior. No ano de 2022, o mercado de veículos elétricos recarregáveis (elétricos e híbridos plug-in) representou 21% do total das vendas, ou seja, um quinto do mercado.
Na perspetiva de Helder Pedro, secretário-geral da ACAP, "este aumento da procura de veículos elétricos e híbridos pode ser atribuído à mudança de paradigma provocada pela alteração dos objetivos ambientais europeus, trazidos pelo Fit for 55, assim como à consciencialização dos consumidores e empresas para as questões ambientais". Em consequência, as marcas automóveis investiram fortemente na inovação para aumentar a oferta de soluções em linha com as necessidades de descarbonização. "Vale a pena notar que a oferta de modelos elétricos e híbridos tem crescido e diversificado, com os fabricantes de automóveis a oferecerem mais de duzentos modelos como opção em quase todos os segmentos. O objetivo do setor automóvel é continuar a ser uma solução num caminho que contribua para uma verdadeira transição energética", afirma.
Incentivar a compra de elétricos
O desenvolvimento da mobilidade elétrica e híbrida em Portugal apresenta atualmente tanto oportunidades como desafios. Oportunidades pelo potencial de redução das emissões de gases com efeito de estufa, levando à melhoria da qualidade do ar e da qualidade de vida dos cidadãos. E pela utilização de fontes de energia renováveis, o que pode também contribuir para uma maior independência energética. Contudo, persistem desafios na adoção generalizada de veículos elétricos e híbridos. Neste contexto, "a ACAP defende que o Governo deve assegurar a igualdade de acesso de todos os consumidores a estes veículos, através de medidas como incentivos diretos à compra, incentivos fiscais ou outras formas de apoio financeiro", defende o secretário-geral da organização. "Além disso, o Governo deve investir na expansão das infraestruturas de carregamento para criar confiança entre os consumidores na adoção de soluções elétricas e híbridas", refere.
Uma questão importante para acelerar a transição energética é o combate ao envelhecimento do parque automóvel em Portugal. Neste particular, a ACAP defende a reintrodução de mecanismos de incentivo destinados ao abate de veículos convencionais e poluentes em fim de vida, com vista a acelerar a sua substituição por alternativas com baixas emissões. "Vale a pena notar que o Acordo de Melhoria de Rendimentos, um pacto celebrado entre o Governo e os parceiros sociais, prevê a implementação de um plano de abate de automóveis ligeiros de passageiros em fim de vida e que o Orçamento do Estado para 2023 contempla a criação de um mecanismo que promova a renovação do parque automóvel, incentivo que deverá acumular com outros instrumentos atualmente em vigor", recorda Helder Pedro.
Envelhecimento é um problema grave
Na perspetiva da ACAP, as atuais políticas de incentivo à aquisição de veículos elétricos podem não ser suficientes para encorajar a adoção generalizada, particularmente tendo em conta o envelhecimento do parque automóvel em Portugal. "Em 2021, 63% dos 5,6 milhões de automóveis em circulação tinham mais de dez anos e a idade média dos veículos ligeiros era de 13,4 anos. O Governo deve criar mecanismos para enfrentar estes desafios e contribuir para o rejuvenescimento do parque, através do apoio ao abate e aquisição de novos veículos com baixas emissões", defende o secretário-geral da ACAP.
Para o sucesso desta forma de mobilidade, a colaboração entre o Governo, a indústria e os consumidores é de extrema importância. Para a ACAP esta transição apresenta oportunidades significativas de inovação e desenvolvimento do negócio para as empresas, que podem criar novos produtos e serviços associados a esta tipologia de veículos. Além disso, tendo Portugal o potencial de produzir energia elétrica com base em fontes renováveis, isso é uma oportunidade de reduzir a dependência externa dos combustíveis fósseis.
Indústria automóvel está do lado da solução
"Apesar dos desafios enfrentados pela cadeia de abastecimento automóvel, desde o início da pandemia, foram feitos progressos na indústria automóvel, desde a eletrificação, à conectividade e à condução autónoma", relembra Helder Pedro.
Na perspetiva desta associação, é essencial a implementação de políticas que apoiem a investigação e o desenvolvimento, encorajem a compra, e expandam as infraestruturas de carregamento. "Com um parque automóvel envelhecido, em que 1,5 milhões de automóveis a circular em Portugal têm mais de 20 anos, o Governo português deve honrar o compromisso que tomou perante os parceiros sociais e contribuir para a inversão desta estatística" reforça o responsável. "Por outro lado, e neste momento, é de salientar que na União Europeia, cinquenta por cento dos pontos de carregamento estão concentrados apenas em dois dos vinte e sete países. Há, assim, um longo caminho ainda para percorrer!", aponta.