A MOBI.E surge em 2015 com o objetivo de desenvolver a mobilidade sustentável em Portugal e facilitar a transição energética, no setor automóvel, para a mobilidade elétrica. Nessa fase, esta entidade pública assumiu a responsabilidade da implementação, gestão e monitorização da rede nacional de carregamento de veículos elétricos, sendo operadora, comercializadora e promotora dessa mesma rede. A partir de meados de 2020 arranca a fase plena do mercado, com o reposicionamento da MOBI.E e a integração de parceiros privados, que passam a ser operadores dos pontos de carregamento, um passo que permitiu o crescimento exponencial da rede.
Número de utilizadores da rede cresce 77% em 2022
Neste contexto, e segundo Luís Barroso, presidente da MOBI.E, "2022 foi o melhor ano da mobilidade elétrica em Portugal, com um aumento dos consumos de 110% face ao ano anterior e um crescimento de 77% do número de utilizadores". Para Luís Barroso, "foi também em 2022 que se concretizou o alargamento da rede de acesso público aos 308 municípios portugueses, ou seja, a cobertura da totalidade do território nacional, com o crescimento de 50% do número de postos em relação a 2021". Neste momento, informa a MOBI.E, existem mais de 5.800 pontos de carregamento no país, número que continua a crescer.
Após a entrada na fase plena de mercado, a MOBI.E definiu como posicionamento estratégico atuar como facilitador do processo de desenvolvimento da mobilidade sustentável. Segundo Luís Barroso, a entidade procura, desta forma, "intervir como desbloqueador dos constrangimentos que um mercado novo, dinâmico e em consolidação vai, naturalmente, enfrentando, ao mesmo tempo que tenta desenvolver investimentos-piloto que permitam apoiar e acelerar o crescimento da infraestrutura de carregamento." Na avaliação do presidente da MOBI.E, somos o único país que "conseguiu atingir a interoperabilidade total das diversas redes privadas de carregamento, o que permite potenciar a concorrência entre os mais de 75 operadores e 25 comercializadores a operar no mercado regulado, oferecendo produtos verdadeiramente inovadores e únicos no mundo".
Nova plataforma de gestão da rede para breve
Ao mesmo tempo, refere o responsável, que se assiste a um crescimento acentuado e sustentado de toda a infraestrutura que, "de julho de 2020 até ao momento, quase quadruplicou, sendo cerca de 90% deste crescimento à custa do investimento privado". Durante o 2º trimestre deste ano, a MOBI.E irá disponibilizar uma nova Plataforma de Gestão da rede. A estes fatores, juntam-se os bons dados das vendas de veículos elétricos que representaram no último mês mais de 26% da quota de mercado total de ligeiros. "Acreditamos que a MOBI.E tem feito um trabalho intensivo de desmistificação da mobilidade elétrica, contribuindo para a melhor compreensão do consumidor sobre esta tecnologia, incentivando a escolha pela mobilidade sustentável", explica Luís Barroso.
Portugal é um modelo a seguir
O crescimento acentuado da rede de carregamento e do número de veículos elétricos, a par com a multiplicação de operadores, prestadores de serviços e o aparecimento de ofertas inovadoras, coloca a questão da evolução deste tipo de mobilidade em Portugal. Que desafios e oportunidades se colocam neste domínio?
Três grandes oportunidades
Para Luis Barroso, presidente da Mobi.E, existem três oportunidades que potenciam o crescimento deste tipo de mobilidade. "Em primeiro lugar, a consciencialização cada vez maior da opinião pública de que a transição energética do setor da mobilidade é determinante para atingirmos a neutralidade carbónica em 2050". Segundo dados disponibilizados pela MOBI.E, a utilização da sua rede durante 2022 permitiu poupar a emissão de mais de 28,8 mil toneladas de CO2, e evitar o consumo de mais de 10,7 milhões de litros de gasóleo.
Em segundo lugar, "a decisão das entidades europeias de proibir a comercialização de veículos a combustão interna a partir de 2035, que irá fazer com que as marcas de automóveis aumentem a sua oferta em termos de motorizações elétricas, e que procurem ser cada vez mais competitivas neste segmento".
E em terceiro, a evolução tecnológica dos veículos elétricos, que "tem permitido produzir veículos com maiores autonomias, com ciclos de vida mais amigos do ambiente, a um preço menor". Em pouco mais de dois anos, as autonomias médias praticamente duplicaram, situando-se, atualmente em torno dos 400 km, e os preços dos veículos elétricos aproximam-se rapidamente dos valores das versões equivalentes dos veículos a combustão.
Que desafios?
Relativamente aos desafios, estes passam, na ótica de Luis Barroso, "essencialmente, pela criação de condições que permitam satisfazer a crescente procura que se está a fazer sentir, quer em número de viaturas, quer na capacidade da infraestrutura de carregamento". No que respeita a esta última, mais relacionada com a atividade da MOBI.E, o responsável afirma que "a aposta passa por tornar mais céleres, menos burocratizados e mais homogeneizados os processos de instalação dos postos de carregamento, tanto ao nível dos licenciamentos, da ligação às redes de distribuição e da certificação". E ainda "por criar as condições para que os operadores privados continuem a investir nas suas redes de carregamento, aumentando assim a infraestrutura da rede nacional de carregamento".
Portugal exemplar
Na visão de Luís Barroso, é essencial destacar Portugal como um país pioneiro na mobilidade elétrica. Num momento em que a União Europeia está a modernizar a legislação no setor da mobilidade, com a aprovação de um regulamento para as infraestruturas de combustíveis alternativos, Portugal, afirma, "é um exemplo a seguir". E garante: "Os princípios por que se rege a lei portuguesa da mobilidade elétrica, e que foram definidos em 2010, irão ser prosseguidos no futuro regulamento europeu." A interoperabilidade das redes, a universalidade do acesso por parte do utilizador, a livre concorrência e o proporcionar a melhor experiência possível para o utilizador são, na opinião do presidente da MOBI.E, "pedras angulares que devem ser preservadas e alargadas a outras geografias".
Na avaliação da MOBI.E, em pouco mais de dois anos e meio de aplicação plena deste modelo em Portugal, temos resultados que nos distinguem e que nos permitiram "uma evolução ímpar". Isto apesar das "fragilidades económicas e financeiras gerais que o país tem no universo de países da União Europeia". Por exemplo: "Só em Portugal é que é possível que o utilizador possa com um único contrato aceder a todos os postos da infraestrutura de carregamento nas mais de 55 redes atualmente em operação no país. Que, por estarem todas integradas, possibilitam aos utilizadores de veículos elétricos acederem a informação em tempo real da localização e da disponibilidade dos pontos de carregamento."
Modelo de mercado encoraja concorrência e inovação
Este modelo único integrador, em que os agentes de mercado atuam num mercado livre e concorrencial, permite que o utilizador seja cliente do sistema, em vez de cliente de uma rede. Este facto, "obriga a que as empresas procurem ser inovadoras e competitivas nos preços dos seus serviços, como forma de captarem os clientes do sistema para si". Por sua vez, afirma o responsável, "o modelo, ao distinguir comercializadores de energia de operadores de pontos de carregamento, sem impedir que quem queira possa atuar nas duas valências, permite a especialização e, com isso, tornar-se melhor no que faz, com benefício para o utilizador do sistema". Desta forma, "foi possível aparecerem diversas startups que se especializaram nos seus nichos e que têm obrigado os grandes players a seguir o ritmo do mercado, mais uma vez com o benefício evidente do utilizador".
A MOBI.E apresenta a situação atual da rede como prova das virtudes do modelo seguido. "Temos atualmente mais de 75 operadores de pontos de carregamento e mais de 25 comercializadores. A rede praticamente quadruplicou em pouco mais de dois anos e meio. Asseguramos a disponibilização de informação ao utilizador sobre o estado da rede em tempo real, disponibilizamos a possibilidade de o utilizador fazer pagamentos ad hoc, e temos uma média de 50 tomadas por cada 100 km de rodovia o que nos coloca em 4º lugar a nível europeu", enumera Luís Barroso. E conclui: "Somos o país onde a diferença entre o custo de utilização de um veículo elétrico para o veículo a combustão interna é maior." Por tudo isto, refere, o modelo português é um caso de estudo, existindo diversos países europeus que já abordaram a MOBI.E, no sentido de perceberem como o modelo funciona, elogiando a interoperabilidade, a facilidade de utilização, e a capacidade de divulgação de informação sobre o estado da rede em tempo real.