No atual cenário laboral português, em que a competição por boas posições é cada vez mais acirrada, ter uma licenciatura pode já não ser suficiente. Mestrados e pós-graduações tornaram-se peças-chave para quem se quer destacar nos processos seletivos. Mas será que vale a pena o investimento? A resposta é dada por dois especialistas que estão diariamente na linha da frente do recrutamento. "A crescente democratização do ensino superior e a proliferação de qualificações académicas resultaram numa realidade em que a licenciatura se revela, na maioria das vezes, insuficiente para garantir a empregabilidade", afirma Paulo Leitão, diretor de Recrutamento e Seleção Especializado da Clan.
Na mesma linha, Teresa Froes, senior manager da Michael Page, salienta: "Quanto mais conhecimentos tiver na área em que pretende trabalhar, maior será a probabilidade de [o candidato] alcançar sucesso e de se destacar."
De facto, não parecem ser apenas impressões: números do Banco de Portugal e do Instituto Nacional de Estatística mostram que o esforço compensa, com profissionais com formação superior a poderem ganhar até mais 50%. Já nos mestrados, o bónus pode ir até aos 20% quando comparado a quem tem apenas licenciatura, segundo estudos da Fundação José Neves.
Paulo Leitão considera que uma das principais vantagens associadas à formação executiva "é o seu maior potencial para impulsionar a empregabilidade e proporcionar melhores salários". "É importante destacar a contribuição dos mestrados e pós-graduações para o crescimento pessoal e para a expansão da rede de contactos", bem como o desenvolvimento de competências essenciais, como "a gestão de tempo, organização e resolução de problemas".
Qual o caminho seguir?
Escolher entre mestrado e pós-graduação não é simples e vai depender sempre dos objetivos de carreira. "Os mestrados tendem a ter uma componente mais teórica e académica, bem como uma duração mais longa", explica o diretor da Clan.
Já no caso de uma pós-graduação, é preciso ter em conta que "não confere um grau académico, funcionando como uma especialização para desenvolver conhecimentos mais específicos ou técnicos, muitas vezes focados em competências práticas diretamente aplicáveis ao contexto empresarial", esclarece a senior manager da Michael Page.
Paulo Leitão acrescenta que "a natureza mais prática da pós-graduação torna-a um veículo eficaz na procura de promoções ou transições profissionais para outros ramos, e a sua flexibilidade torna-a particularmente adequada a ambientes corporativos".
As expectativas dos recrutadores
Quanto às áreas com maior valorização de formação avançada, ambos os especialistas consideram que a procura é ampla. Contudo, há setores que se destacam: "O nosso mercado de trabalho valoriza bastante profissionais com o grau de mestre e há, inclusive, algumas profissões que o exigem, como é o caso das engenharias, arquitetura, medicina e psicologia, para que o profissional possa atuar no mercado", destaca Teresa Froes.
As empresas têm sempre uma importante palavra a dizer no processo de mudanças dos paradigmas. Talvez a palavra mais forte. Aquilo que esperam tanto de mestres como de pós-graduados está, quase sempre, ligado à "capacidade de resolução de problemas, pensamento crítico, tomada de decisão, inovação, aprendizagem contínua, autonomia, adaptação e flexibilidade", elenca Teresa Froes.
No caso das pós-graduações, e por terem uma natureza "mais direcionada", faz com que os recrutadores tenham expectativas em competências não apenas "de especialização técnica, mas também a capacidade de ajustar e aplicar conhecimentos na prática", explica Paulo Leitão.
Desafios no mercado atual
Apesar das vantagens, existem obstáculos. "Sem dúvida, o alinhamento das oportunidades existentes com as competências e ambições, uma vez que é comum existir um desfasamento entre o que as empresas procuram e o que os profissionais têm e querem oferecer", observa o diretor da Clan.
A senior manager da Michael Page aponta "a forte competitividade que encontram ao entrar no mercado de trabalho, a exigência por experiência prática e relevante e a necessidade de adaptação às mudanças constantes". Acrescenta ainda que "estes candidatos tendem, por vezes, a ter expectativas salariais acima da realidade".
Por isso mesmo, a escolha da instituição também pesa. "A notoriedade e o prestígio das faculdades acabam sempre por influenciar a decisão de contratação", confirma Paulo Leitão. "O posicionamento em rankings como o do Financial Times ou do Eduniversal é frequentemente visto como um 'carimbo' de excelência."
Teresa Froes conclui: "As universidades de renome para cada área específica serão as mais valorizadas. Mas não é esse o único fator, pois há empresas que ainda priorizam as competências adquiridas pela dita 'experiência de vida', por acumulado, em vez de uma universidade específica."