No universo académico e profissional, a procura por mestrados e pós-graduações ganha uma nova dinâmica. Num contexto desafiante e em permanente evolução, Paulo Jorge Ferreira, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e reitor da Universidade de Aveiro, partilha perspetivas sobre o papel transformador destas formações no mercado atual, explorando o seu valor na era da inovação e da aprendizagem contínua.
Hoje, a realidade académica é diferente da era pré-Bolonha. Na perspetiva dos estudantes, quais são as vantagens de investir num mestrado ou numa pós-graduação?
A divisão primeiro/segundo ciclo permite mais flexibilidade. Remete-se a formação de banda mais estreita para segundos ciclos, que permitem aprofundar, atualizar ou especializar em diferentes direções. Mas é preciso não esquecermos os terceiros ciclos, o doutoramento, em que se cria conhecimento e alargam horizontes.
A procura por profissionais com mestrado ou pós-graduação é consistente em todas as áreas, ou existem setores específicos nos quais essa formação é especialmente valorizada?
Há procura em todas as áreas, embora naturalmente algumas sejam mais solicitadas do que outras. Mas é importante perceber que não se prepara o futuro trabalhando só as dimensões do conhecimento mais procuradas. A popularidade de hoje não é uma medida segura da importância de uma área do conhecimento amanhã.
Quais são as principais vantagens que profissionais qualificados trazem para as organizações ou empresas e, consequentemente, para a economia nacional?
Uma visão atualizada do conhecimento e a possibilidade de enriquecerem a sua formação em direções novas. As universidades têm um papel fulcral no desenvolvimento económico, social e cultural do país. A importância da qualificação e, cada vez mais, da requalificação é reconhecida por todos. Vivemos na economia do conhecimento, pelo que o papel das universidades, enquanto instituições que criam, transmitem e aplicam o conhecimento, é de inequívoca importância.
O que é, ainda, preciso fazer para reforçar a conexão entre os mundos académico e empresarial?
Há quem pense que há muito a fazer e que essa direção é importante, mas também há quem entenda que a utilidade económica do conhecimento não devia ser sequer uma preocupação. É verdade que se condicionarmos a oferta educativa por critérios de utilidade imediata estamos a perder resiliência quanto ao futuro. Mas também é legítimo esperar que as universidades públicas assegurem a relevância global da sua oferta formativa, a todos os níveis. De uma forma geral, há um grande alinhamento entre as direções de formação que as universidades propõem e as necessidades do mercado. É preciso continuar a manter as instituições abertas ao exterior, conscientes das necessidades do país e dos desafios do presente e do futuro.
Considerando a necessidade de formação customizada, como podem as instituições de ensino contribuir para atender às necessidades específicas dos quadros empresariais?
A necessidade de responder de forma mais sintonizada com as necessidades das empresas coloca um desafio que não se ultrapassa apenas com licenciaturas e mestrados. São importantes para a formação inicial, mas menos adequadas para a formação ao longo da vida e para a requalificação. Cientes desta dificuldade, há universidades, como a Universidade de Aveiro, que oferecem unidades formativas chamadas "microcredenciais", pensadas para permitir a cada profissional desenhar a sua própria carteira formativa, mantendo-se atualizados.
A sustentabilidade está presente nos programas de mestrados e pós-graduações?
Está muito presente e não podia deixar de ser assim. A sustentabilidade é uma manifestação de justiça intergeracional: a vontade de promover o bem-estar das gerações de hoje sem condicionar o bem-estar das gerações futuras. No contexto da formação universitária, esta preocupação assume uma importância óbvia.
Reconhece que o ensino português, em termos de mestrados e pós-graduações, atinge níveis comparáveis aos restantes países da UE?
Sem dúvida. Considerando os recursos que temos, a comparação é-nos ainda mais favorável. Segundo estudos da OCDE, o nível de financiamento do ensino superior português, em paridade de poder de compra para o PIB, está 6.000 dólares por estudante abaixo da média da União Europeia. A qualidade não pode ser indefinidamente mantida quando os níveis de financiamento estão a este nível, alerto. Mas as universidades têm feito muito, com muito pouco.
O número de estudantes estrangeiros em Portugal tem vindo a crescer?
A dimensão internacional tem sido parte integrante da estratégia das instituições de ensino superior, com resultados positivos, e as universidades são importantes para trazer a Portugal mais talento. O ensino superior (licenciaturas, mestrados, doutoramentos) atrai talento de todo o mundo e número de estudantes de nacionalidade estrangeira tem vindo a crescer.