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João Manso Neto defende decisão de avançar para soluções de energia descentralizada

O CEO do Grupo Greenvolt diz ainda que a legislação existente “é boa”, mas tem de ser “corretamente aplicada” para continuar o caminho da descarbonização. Atrasos no licenciamento de novos projetos foi um dos temas do Be Next – Europe’s Decentralized Energy Innovation Forum, que se realizou terça-feira na Fundação Champalimaud.

15 de Abril de 2024 às 12:13
João Manso Neto, CEO da Greenvolt
João Manso Neto, CEO da Greenvolt

São cada vez menos as dúvidas sobre a importância e o potencial das energias renováveis, não apenas para cumprir a jornada da sustentabilidade com que a União Europeia (UE) está comprometida, mas também para alimentar o crescimento económico.

Mechthild Wörsdörfer, vice-diretora-geral da Comissão Europeia para a energia, considera que depois da crise energética "estamos num ambiente mais estável" e que a UE tem conseguido avançar em matéria de produção sustentável. "Acho que toda a gente concorda que as renováveis são hoje competitivas, precisamos delas para a transição energética", reforçou a responsável durante a participação no Be Next – Europe’s Decentralized Energy Innovation Forum, organizado na passada terça-feira pelo Grupo Greenvolt em Lisboa.

João Manso Neto, CEO do Grupo Greenvolt, concorda com a ideia e lembra que "são energias limpas" e "energias baratas" as produzidas através de fontes renováveis, mas questiona por que motivo este tipo de produção não avança mais rápido. As razões apontadas pelo líder do Grupo Greenvolt prendem-se com "problemas de burocracia" e a incerteza que causam no sector, dificultando a inovação e o investimento.

Sobre o diploma do Parlamento Europeu para a reforma do mercado elétrico europeu – entretanto aprovado esta quinta-feira -, João Manso Neto diz que se trata de um documento "bastante avançado" e que "o que é preciso é implementá-lo". A nível nacional, o panorama legislativo é também adequado e evoluiu "muito" no último governo, com João Galamba como secretário de Estado da Energia. Com a entrada do novo executivo liderado por Luís Montenegro, o CEO não antecipa "grandes diferenças" já que "estamos todos do mesmo lado". "Temos é de encontrar soluções tecnicamente mais adequadas a cada momento. Não estava pessimista e continuo a não estar", afirma.

O CEO do Grupo Greenvolt apontou também para a "dificuldade de os decision makers, tanto CEO de empresas privadas como os responsáveis públicos, em tomarem a decisão óbvia de avançarem para esta nova forma de geração de energia e, por último, as próprias empresas do setor que têm de, perante estes entraves, inovar", afirmou Manso Neto, defendendo a aposta em PPA, que permitiria superar um outro obstáculo, o do financiamento da transição energética, mas também a partilha de energia através das comunidades de energia e a mobilidade elétrica.

Simplificação precisa-se

Um dos maiores entraves ao avanço de projetos de produção descentralizada de energia, nomeadamente recorrendo ao solar, tem sido a burocracia e a lentidão dos licenciamentos. A este propósito, o responsável máximo pela Direção-Geral da Energia e Geologia, Jerónimo Cunha, confirmou durante o evento que a instituição vai disponibilizar uma nova plataforma digital totalmente operacional, em junho, para agilizar o processo de licenciamento, compromisso saudado pelo CEO do Grupo Greenvolt. "[A plataforma] ainda não está perfeita – aliás, está longe de o ser -, mas será um grande passo para o setor estar apto, desde o primeiro passo até à conclusão da implementação do projeto, a ser totalmente digital", sublinhou.

Preços em queda. E agora?

A estabilização do mercado grossista de eletricidade depois dos solavancos dos últimos anos, em especial com a invasão da Ucrânia, tem provocado uma queda no preço da energia um pouco por toda a Europa e Portugal não é exceção. Aliás, nos últimos dias, a EDP confirmou que irá reduzir o custo da energia em 7% já em junho, seguindo a tendência do mercado.

A questão que se coloca é: com preços baixos, a produção descentralizada continua a fazer sentido? João Manso Neto acredita que sim, apesar de reconhecer que a atual conjuntura não é particularmente favorável para o setor. Ainda assim, diz, é importante continuar a investir na produção de energia descentralizada e que os preços baixos não vão estrangular as empresas. "Temos de sair um pouco da caixa.

Quando é fácil qualquer um faz. Nesta conjuntura, é menos óbvio, mas o business case existe", insiste. Vale a pena assinalar que a produção de energia descentralizada deverá representar cerca de um quarto de todo o consumo energético na UE em 2030.

Existem, porém, outros desafios à aceleração deste segmento visto como fundamental para a democratização das renováveis: a falta de autossuficiência da UE na produção de painéis solares e o armazenamento. Se é verdade que, como apontou João Manso Neto, "importar 90% dos painéis solares da China é um erro", a Europa não deve apostar numa subsidiação da indústria "com pouco valor acrescentado".

A solução, aponta, pode estar no aumento de investimento europeu em outras geografias.
Walburga Hemetsberger, CEO da associação Solar Power Europe, diz ser preciso investir na indústria solar europeia, mas sem colocar de parte os equipamentos fabricados na China porque é preciso avançar rapidamente na transição energética.

Cidades têm papel central

Carlos Moedas foi convidado para encerrar o evento Be Next, e sublinhou o compromisso assumido por Lisboa com a UE neste campo. "O que estamos a fazer é muito simples, que é liderar pelo exemplo. Em todos os edifícios municipais vamos colocar painéis solares, chamamos a isso Lisboa Solar. Depois estamos a encontrar terrenos onde possamos instalar miniestações de fotovoltaicos e com isso o nosso objetivo, que está escrito no compromisso com a UE, é chegar aos 100 megawatts", apontou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Perante uma plateia com mais de 300 participantes presenciais (a que se juntaram mais de 1200 que assistiram via streaming), Moedas lembrou que é preciso que os políticos sejam capazes de traduzir a transição energética em ganhos concretos para os cidadãos, porque, afirma, só assim será possível ter todos a bordo da jornada da descarbonização. Se não encontrarmos essa ligação, as pessoas vão revoltar-se e entrar em pânico. "O maior aliado da UE não são os países, são as cidades. Somos nós que traduzimos todos os dias o que a UE está a fazer", reforçou.

A cimeira dedicada ao debate sobre produção descentralizada de energia discutiu ainda, na Fundação Champalimaud, as tendências do setor, os desafios que permanecem e soluções que podem ajudar a superar esses obstáculos.