"Apesar do contexto geopolítico e do abrandamento económico, o investimento em tecnologias digitais continua a superar em muito a performance da economia devido ao facto de ser uma das principais formas de as empresas se manterem competitivas." Quem o diz é Gabriel Coimbra, group vice president e country manager da IDC Portugal.
João Pedro Guimarães, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), dá conta de que as PME nacionais estão muito sensíveis para a urgência da digitalização e para a importância da cibersegurança. "O que nem sempre sucede é possuírem as ferramentas necessárias para fazerem uma transição eficaz e, por outro lado, protegerem-se das ameaças de um mundo cada vez mais digitalizado", refere este responsável. Segundo ele, na CCIP procura-se contrariar esta falta de recursos através da disponibilidade de ferramentas aos gestores, principalmente através de ações de divulgação ou de formação.
Conscientes de que a rápida adoção de tecnologias digitais não impulsiona apenas a eficiência operacional interna, os gestores põem em marcha planos que envolvem a mudança de mentalidade e cultura organizacional para abraçar a inovação e a adaptação às novas realidades dos mercados.
Dados recentes da IDC dão conta de que os gastos com tecnologia digital das organizações portuguesas deverão crescer sete vezes mais do que a economia em 2024, impulsionados pela procura por modelos de negócios e mais capacidades digitais. A última revisão do Banco de Portugal aponta que o crescimento económico irá ficar-se pelos 1,2%.
Inovação no caminho dos gestores
A IDC prevê que os líderes empresariais em Portugal enfrentarão desafios significativos ao definir os investimentos em tecnologia da informação, dadas as incertezas em torno da inflação e das taxas de juros. Este equilíbrio entre o investimento digital e a gestão de custos torna-se crucial num cenário de volatilidade económica. No entanto, com a crescente disseminação da tecnologia de IA generativa, os líderes de TI estão a reconsiderar as suas abordagens estratégicas, movendo-se de uma postura de contenção de custos para um foco renovado em investimentos em IA e em inovação, ao mesmo tempo que controlam rigorosamente os gastos. "A revolução criada pela inteligência artificial poderá trazer benefícios que ainda estão por medir, devendo para esse efeito ser bem aproveitada", afirma João Pedro Guimarães, secretário-geral da CCIP.
Atualmente, mais de 30% do negócio das organizações é proveniente de produtos, serviços e experiências digitais, e Gabriel Coimbra acredita que, em 2025, essa receita seja mais de 40%. Neste contexto, os temas relacionados com a Gestão de Risco e Segurança de Informação são também, e cada vez mais, relevantes.
Sandra Rebelo, diretora do mestrado em Gestão de PME e professora adjunta do Núcleo de Gestão Financeira da Universidade do Algarve, considera que são muitos os desafios inerentes à segurança dos dados e das transações online, bem como à proteção da imagem digital da empresa. "O risco de ataques cibernéticos é uma preocupação tangível e as PME devem estar atentas para salvaguardar informações críticas e a integridade do seu negócio digital", alerta a investigadora.
Maior resiliência digital
A transposição da Diretiva NIS 2 para a legislação nacional representa por isso mais um desafio para o tecido empresarial em Portugal. A IDC prevê que esta alteração na legislação tenha um impacto para as pequenas e médias empresas, uma vez que empresas com mais de 50 funcionários ou um volume de negócios anual superior a dez milhões de euros estarão sujeitas à diretiva, mesmo que não sejam classificadas como infraestrutura crítica. Ao implementar as medidas de segurança cibernética exigidas pela diretiva, as PME podem proteger os seus sistemas e os seus dados contra os ataques cibernéticos, aumentar a confiança dos seus clientes e parceiros e garantir o cumprimento de outras leis e regulamentos.
"Na nossa perspetiva, a Diretiva NIS 2 será fundamental para garantir uma maior resiliência digital das organizações europeias, mas vai exigir um esforço significativo por parte das grandes e médias empresas, que terão de aumentar os seus investimentos em segurança da informação em mais 10 a 20%", acrescenta Gabriel Coimbra.
Até 17 de outubro de 2024, Portugal tem de transpor a Diretiva NIS 2, que vai passar a abranger mais setores. Agora passam a estar incluídos os setores da saúde, gestão de resíduos, serviços postais e administração pública, juntamente com os setores já abrangidos, como energia, transporte e água.