A Construção 4.0 veio para ficar e as empresas que atuam nos setores da construção e do imobiliário devem ter a capacidade de responder a este novo paradigma com uma oferta adaptada às necessidades. Em entrevista, Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) e da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), fala desta e de outras questões.
Como olham para o mercado nacional da construção, ao dia de hoje?
Os setores da construção e do imobiliário atravessam atualmente um desafio, a adaptação à 4.ª Revolução Industrial, a denominada Indústria 4.0. Neste contexto, a Construção 4.0 surge como um caminho natural para o aumento de competitividade e produtividade do setor e, consequentemente, pela adoção de práticas de desenvolvimento sustentável.
A construção das "Casas do Futuro" representa, por isso, uma evolução efetiva de sistemas produtivos tradicionais e que exigem que as empresas sejam mais flexíveis, dinâmicas e operacionais, com melhorias significativas ao nível das cadeias de valor, designadamente na "oferta" em grande escala de produtos personalizados e individualizados, mas produzidos como se de uma produção em série se tratasse.
São estes os grandes desafios na atualidade, no mercado imobiliário e no setor da construção e reabilitação urbana em Portugal?
Atualmente, os principais constrangimentos que impactam a atividade das empresas do setor da construção são a falta de mão de obra e a evolução anómala dos preços das matérias-primas, energia e materiais de construção, a que acresce a necessidade de uma maior capacitação das empresas para as novas exigências dos consumidores, que obrigam a um maior desenvolvimento tecnológico e na qualificação dos recursos humanos por parte das empresas.
São desafios transversais?
Sim, estes são desafios transversais à fileira da construção e do imobiliário, uma vez que é necessário envolver, de forma ativa, todos os intervenientes da cadeia de valor da construção, dos projetistas aos utilizadores finais dos produtos da construção, bem como, os decisores políticos adaptando normas e regulamentos de forma a promover e incentivar a construção modular e off-site.
O que pode e deve ser feito?
Realçamos a necessidade de se criarem condições – legislativas, técnicas e de licenciamento – que permitam que a construção, a reabilitação, a conservação, bem como a manutenção de edifícios e infraestruturas, sejam realizadas considerando estes "novos" pressupostos de sustentabilidade.
Como olha para a qualidade da habitação e do edificado em Portugal?
A qualidade da construção e do imobiliário português é inegável e é reconhecida internacionalmente. As empresas do setor têm alcançado resultados verdadeiramente expressivos ao longo dos últimos anos e, paulatinamente, visto reconhecido o seu papel na internacionalização da economia portuguesa, com uma carteira de negócios nos mercados internacionais expressiva, que representou 8.216 milhões de euros em 2021.
Quem compra, o que procura na sua habitação?
No mercado nacional, os consumidores valorizam cada vez mais a eficiência energética dos imóveis que adquirem. As empresas da fileira da construção e do imobiliário, conscientes desta exigência do mercado, têm incrementado as exigências ao nível da implementação de práticas de sustentabilidade e de eficiência energética, desde o projeto de execução e de definição de processos construtivos, à escolha de materiais mais eficientes, passando pela definição de soluções de construção off-site ou de pré-fabricação e, ainda, pela incorporação de materiais reciclados, isto é, incentivando e promovendo a elaboração de projetos inovadores e sustentáveis.
Onde entram as estratégias de sustentabilidade e o que deve ser feito?
A promoção e disseminação de novas práticas mais sustentáveis exige, entre outros aspetos, uma mudança social e cultural, focada na eficiência energética e na circularidade, no estabelecimento da construção industrializada, na transição digital e na formação e qualificação dos seus profissionais. Em suma, evoluindo rumo à "Construção 4.0".
É uma tarefa fácil?
Esta tarefa exige um significativo investimento em inovação, designadamente em novos processos e sistemas construtivos, em novos materiais e em novas ferramentas. Deste modo, a capacitação das empresas de construção e do imobiliário assume uma relevância fundamental para o desenvolvimento económico e social do nosso país, que só será concretizável, a breve prazo, através de uma aposta concreta e imediata do Governo na formação profissional nas áreas mais críticas e mais necessitadas de mão de obra qualificada.
Como conceber as casas do futuro?
As casas inteligentes são um nicho de mercado que se encontra em forte crescimento. A tecnologia associada à construção e reabilitação 4.0 "tem um elevado potencial de crescimento, em virtude de gerar ganhos significativos de produtividade, de diminuição de custos e redução do desperdício", defende Manuel Reis Campos. É ainda uma tecnologia que permite a aceleração dos tempos de construção e, "pela evolução acelerada desta realidade, pode-se afirmar que, em poucos anos, iremos estar perante uma oferta em grande escala de imóveis personalizados e individualizados, mas produzidos de forma industrializada, mais eficientes e sustentáveis". Serão estas, claramente, as casas do futuro.