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Doidos pelo vinho

Se o leitor está farto do formato tradicional das feiras vínicas, recomendamos o Simplesmente Vinho, no Porto. Produtores fora da caixa, muita arte, festa rija e, claro, vinhos que testemunham na perfeição o conceito de terroir.

25 de Fevereiro de 2017 às 16:00
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Pode ver o programa completo em simplesmentevinho.pt 
A entrada no evento custa €15.

Como em quase tudo na vida, também em matéria de feiras de vinhos fomos do oito ao 80. Há 20 anos, não se passava nada, hoje não há presidente de câmara que não se meta em bicos de pés para acolher um festival com vinho, petiscos e música para encantar a malta. Fica bem, dá votos, dá dinheiro e o povo gosta.

Mas se reconhecemos a importância estratégica dos festivais e das feiras vínicas dos grupos de distribuição na educação dos consumidores, isso não nos impedirá de dizer - pedindo desde já desculpa pelo calão juvenil - que as actuais feiras são uma seca. São mais do mesmo, com os mesmos stands, os mesmos produtores, os mesmos enólogos e os mesmos vinhos, que quase parecem fotocópias uns dos outros. Não me queria repetir, mas não encontro melhor imagem para as grandes feiras vínicas do país senão o passeio por uma loja do Ikea em dias de saldos. Se um tipo quiser regressar a um stand para tirar uma dúvida sobre um determinado vinho, isso não será possível, porque o mar de gente atira-nos para a frente. Ainda hoje estou para perceber como não há copos esmagados contra o corpo do povo circulante. E já nem falo no estado de felicidade etílica com que muitos cavalheiros circulam pelo espaço - problema difícil de resolver.

Ora, fartos dos modelos clássicos das feiras, um grupo de viticultores franceses resolveu criar, no início deste século e em paralelo com a organização da Vinexpo (o certame francês que ainda é a grande referência mundial), um evento com viticultores que se estavam borrifando para o conceito de vinho de moda - todo chapa cinco, caríssimo e muito do agrado de gente que acha que o vinho é uma receita mais ou menos igual à de um refrigerante. Esse modelo de feira passou a ser conhecido por salão off, onde só entram vinhos que testemunham culturas de produção em que o conceito de terroir assenta na perfeição. Quer dizer, vinhos que respeitam os equilíbrios ambientais, que exploram ao máximo o conceito de identidade e que traduzem um pensamento muito próprio por parte de quem os cria. É por isso que, nestes meios, não há produtores de vinhos; há vignerons. É diferente. Um produtor é um profissional que trabalha em equipa para satisfazer o mercado, munido de ferramentas modernas de gestão e marketing. Um vigneron é o tipo que, sozinho, trabalha a terra, faz o vinho e vende as suas garrafas num contacto sempre muito próximo com os clientes.

Ora, quem participou nesses encontros iniciais de feiras alternativas foi João Roseira (responsável da Quinta do Infantado) e Mateus Nicolau de Almeida (enólogo e filho de João Nicolau de Almeida). E claro, sendo ambos adeptos do conceito alternativo, criaram em 2013 o Simplesmente Vinho, que é o encontro que decorre sempre no Porto, na mesma altura em que acontece o Essência do Vinho, no Palácio da Bolsa.

Hoje, o Simplesmente Vinho (que nome feliz face à industria do vinho) é uma organização que vive da paixão de João Roseira por um universo vitícola fora da caixa. Ele próprio é um personagem iconoclasta, que tem essa mania pouco portuguesa de dizer tudo o que pensa, sem se preocupar muito em saber se agrada ou não.

De maneira que quem for hoje e amanhã ao Cais Novo (Rua de Monchique, 120), mesmo à beira do rio Douro, vai encontrar 84 vignerons de Portugal e de Espanha, seis restaurantes de cozinha de autor, muita música e arte contemporâneas. Como diz João Roseira, o evento alternativo junta centenas de vinhos, comida e arte com diferentes expressões e amigos, sendo que, este ano, haverá um grande leilão de vinhos e peças de arte cujo produto da venda se destina a iniciativas de solidariedade social.

Portanto, se o leitor gosta de formatos de feira clássicos e gosta de vinhos mais ou menos padronizados, vá ao Palácio da Bolsa. Se quer provar vinhos invulgares e o mais naturais possíveis (Bios e/ou Biodinâmicos), se quer conhecer gente que faz vinho mais por paixão do que pelo negócio, se quer ouvir boas histórias e divertir-se à brava com gente muito, muito alegre, então todos os caminhos devem ir dar à Rua de Monchique. Uma coisa é certa: aqui nunca é mais do mesmo.


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