Notícia
O património Maasai
Com o objectivo de impedirem o uso indevido das suas criações pelas grandes marcas ocidentais, os Maasai montaram uma estratégia de protecção da sua herança.
03 de Fevereiro de 2018 às 09:00
O povo africano Maasai, que há séculos circula sem fim entre o Quénia e a Tanzânia, desencadeou uma das mais extraordinárias lutas pelo património de que há conhecimento. Os Maasai, como os Kuvale, de Angola, ou os Tutsi, do Uganda, entre outros, são um dos últimos povos nómadas de África. A sua vida, que nunca mudou, é a de pastorear o gado, conduzindo-o por onde há água, pastagem e sombra. O nomadismo tornou os Maasai guerreiros, mas também, o que é sempre esquecido, criadores de um enorme património, cuja vertente mais conhecida são os objectos utilitários.
Ao longo dos séculos, sempre com o objectivo de sobreviverem, os Maasai criaram e tingiram têxteis, dos quais o mais visível é o manto. Talharam armas, conceberam jóias, para homens e mulheres, e moldaram utensílios domésticos, especialmente em madeira. No fim do século passado, graças à facilidade de comunicações, por um lado, e à busca da "autenticidade", por outro, o património Maasai começou a ser reproduzido pelas grandes marcas e empresas ocidentais. Entre vários outros gigantes, Louis Vuitton, Calvin Klein, Ralph Lauren e a Land Rover, "inspiraram-se" na "imagem Maasai" para gerarem produtos e campanhas.
Agora, os Maasai decidiram lutar pelo seu património. O que é curioso, na acção da tribo, é que está longe de ser uma luta quixotesca, apoiada por uma coligação de ONG bem-intencionadas. Pelo contrário, os Maasai constituíram uma entidade, a Maasai Intellectual Property Initiative Trust, e contrataram a Position Business, uma empresa norte-americana de advogados especialista no campo.
O objectivo dos Maasai é duplo. Primeiro, reclamar "royalties" pelo uso indevido do património, o que, segundo a Position Business, poderá levar ao pagamento de centenas de milhões de dólares, já que, segundo os cálculos, mais de um milhar de marcas "inspiraram-se" nos "designers" da tribo. Segundo, obter acordos prévios com as marcas e as empresas que tenham interesse em usar ou criar a partir do património Maasai.
A decisão dos Maasai deve provocar uma séria reflexão em Portugal, do Estado aos artesãos, passando pelas autarquias e as empresas. Com um património criativo tão vasto, e em tantos temas, Portugal é um país que pouco regista e certifica, deixando que as nossas criações, do barro às bonecas de Rosa Pomar, sejam copiadas e produzidas em série, de Espanha à China. Um tal estado das coisas não é de modo algum inevitável, e qualquer David com vontade consegue enfrentar os Golias corporativos.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.
Ao longo dos séculos, sempre com o objectivo de sobreviverem, os Maasai criaram e tingiram têxteis, dos quais o mais visível é o manto. Talharam armas, conceberam jóias, para homens e mulheres, e moldaram utensílios domésticos, especialmente em madeira. No fim do século passado, graças à facilidade de comunicações, por um lado, e à busca da "autenticidade", por outro, o património Maasai começou a ser reproduzido pelas grandes marcas e empresas ocidentais. Entre vários outros gigantes, Louis Vuitton, Calvin Klein, Ralph Lauren e a Land Rover, "inspiraram-se" na "imagem Maasai" para gerarem produtos e campanhas.
O objectivo dos Maasai é duplo. Primeiro, reclamar "royalties" pelo uso indevido do património, o que, segundo a Position Business, poderá levar ao pagamento de centenas de milhões de dólares, já que, segundo os cálculos, mais de um milhar de marcas "inspiraram-se" nos "designers" da tribo. Segundo, obter acordos prévios com as marcas e as empresas que tenham interesse em usar ou criar a partir do património Maasai.
A decisão dos Maasai deve provocar uma séria reflexão em Portugal, do Estado aos artesãos, passando pelas autarquias e as empresas. Com um património criativo tão vasto, e em tantos temas, Portugal é um país que pouco regista e certifica, deixando que as nossas criações, do barro às bonecas de Rosa Pomar, sejam copiadas e produzidas em série, de Espanha à China. Um tal estado das coisas não é de modo algum inevitável, e qualquer David com vontade consegue enfrentar os Golias corporativos.
Nota ao leitor: Os bens culturais, também classificados como bens de paixão, deixaram de ser um investimento de elite, e a designação inclui hoje uma panóplia gigantesca de temas, que vão dos mais tradicionais, como a arte ou os automóveis clássicos, a outros totalmente contemporâneos, como são os têxteis, o mobiliário de design ou a moda. Ao mesmo tempo, os bens culturais são activos acessíveis e disputados em mercados globais extremamente competitivos. Semanalmente, o Negócios irá revelar algumas das histórias fascinantes relacionadas com estes mercados, partilhando assim, de forma independente, a informação mais preciosa.