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Guerra comercial ou tecnológica?

Nas margens da aparente guerra comercial em marcha entre a China e os Estados Unidos, há quem defenda uma outra posição: a de que começa a eclodir uma guerra tecnológica entre as duas potências. É de velocidade que se trata.

Damir Sagolj
30 de Março de 2018 às 21:00
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Quando Donald Trump ameaçou com taxas faraónicas para o aço e o alumínio importados de outros países, tudo parecia conduzir a um fim claro: uma guerra comercial dos EUA contra todos. Mas, passados uns dias, Trump fez um recuo e assentou toda a artilharia sobre a China. Este é o verdadeiro inimigo, mesmo que uma guerra destas, levada ao limite, possa causar uma desestabilização total da economia global. Nas margens desta aparente guerra comercial em marcha, há quem defenda uma outra posição: a de que começa a eclodir uma guerra tecnológica entre as duas potências. E talvez seja por aí que é preciso começar a olhar com mais atenção para esta questão.

Se Trump é um defensor da "velha economia", a China está a apostar na "nova economia". Algo que parecia ter como motor da locomotiva Silicon Valley, mas que agora surge com outros contornos. Tudo tem que ver com a velocidade. Sobretudo com a velocidade da nossa vida e a necessidade de estarmos sempre contactáveis, sempre activos, sempre capazes de responder a solicitações. E de acumular e gerir dados. O grande escritor J. G. Ballard considerava que o mundo se estava a transformar numa gigantesca ficção científica. E acrescentava: "A realidade já não é o que se passa lá fora, mas o que está dentro da nossa cabeça. Vai ser comercial e chata ao mesmo tempo." Está tudo em mudança. E é tudo demasiado veloz.

Neste contexto, o colapso moral do Facebook e o desastroso teste mortal feito pela Uber com um SUV autónomo são faces de uma moeda em que os EUA estão a perder a liderança. O velho conceito de que os americanos haveriam de criar as apps e os asiáticos fariam o hardware a preços baixos está a colapsar. Zuckerberg e outros sonhavam que as redes sociais seriam o substituto da interacção entre os seres humanos e que a computação substituiria o pensamento humano. E isso seria o caminho para o futuro. Talvez possa vir a ser, para mal de todos. Mas também pode vir a não ser, pelo menos na versão americana.

No caso do carro da Uber, ficou evidente que os EUA não dispõem da infra-estrutura para suportar veículos autónomos. Já a China, nos últimos anos, construiu cidades de raiz que em muitos casos evitam que as pessoas a pé possam entrar nas estradas. Isto permite apostar em veículos autónomos sem interferências não programadas. O sonho do Facebook está a tornar-se num pesadelo. Sendo um conceito comercial, não pode lidar com desconfiança. E ela é cada vez maior. É aí que entra a "guerra comercial" ou mesmo a "guerra tecnológica" entre os EUA e a China.

Na declaração de Trump sobre a possibilidade de colocar uma tarifa de 25% sobre as importações chinesas (avaliadas em 50 mil milhões de dólares), o foco centrou-se em 10 sectores que fazem parte das prioridades de política industrial de Pequim para os próximos anos. Nestes sectores incluem-se as tecnologias de informação, a indústria aeroespacial, os veículos movidos a novas energias, a robótica ou a medicina.

Desde 2015 é evidente que a China tem apostado em tornar-se o líder mundial em áreas como a inteligência artificial ou as comunicações. E sabe-se que os EUA têm sentido isso: depois dos produtos massificados e de consumo, a China assenta baterias no sector tecnológico. É isso que aflige directamente Washington. Há também uma outra coisa que diferencia de alguma maneira o complexo tecnológico chinês do americano: aquele nasce de uma estreita ligação entre o Estado e as grandes empresas do sector, enquanto este (apesar do dedo estatal) tem como base um sector privado mais independente. O certo é que é cada vez mais evidente que os chineses não estão apenas a aproveitar a tecnologia reinante. Estão a inovar. Se os EUA ainda lideram em pesquisa e desenvolvimento, o seu avanço está a diminuir. A China está a investir cada vez mais em I&D e aproxima-se do primeiro lugar. Há cada vez mais licenciados chineses nestes sectores. É evidente que muitas empresas chinesas e americanas trabalham em conjunto, mas a rivalidade está a aumentar. Há quem diga que as novas tecnologias estão a surgir e a evoluir na China e nos países ocidentais, mas em universos paralelos.

Por outro lado, os países ocidentais desconfiam de um "tratamento de favor" que as empresas chinesas parecem receber do Estado. E, quer a China quer os EUA e a UE estão a reforçar e a bloquear entradas de empresas americanas ou europeias, ou chinesas, consoante o caso, no seu sector tecnológico. Ou seja, a desconfiança instalou-se porque muitos têm a certeza de que o domínio do sector tecnológico será determinante nos anos próximos. Parece cada vez mais evidente que, por trás da cortina de fumo de uma "guerra comercial", o que está verdadeiramente em causa é a hegemonia no sector tecnológico, no qual a China tem ganho poder e os EUA e a UE parecem estar na defensiva.

O mundo está cada vez mais submerso pela tecnologia, que está a mudar a nossa forma de vida, seja no trabalho, nas comunicações, nos comportamentos sociais, nas compras, na educação e na saúde. A tecnologia tornou-se o novo sangue que liga os diferentes órgãos do planeta. É de velocidade que se trata. E é aí que China e EUA procuram ser os mais velozes.


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