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Investimento na bolsa nacional rendeu mais que outras aplicações em 2017

Apesar do maior risco que acarreta, a aposta no mercado accionista nacional teria sido mais compensadora, em 2017, do que os outros tipos de investimento.

Victor Machado
12 de Julho de 2018 às 16:12
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O investimento em acções da bolsa nacional ainda não recuperou das perdas registadas durante a crise financeira. No entanto, no ano passado, rendeu mais do que todas as outras aplicações financeiras, revela o Relatório Anual sobre os Mercados de Valores Mobiliários relativo a 2017 publicado esta quinta-feira pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

 

Os três índices portugueses, PSI-20, PSI-20 TR ("Total Return") e PSI Geral fecharam o ano de 2017 com ganhos de 15,2%,19,3% e 13,6%, respectivamente. E, deste modo, recuperaram face às perdas registadas em 2016. Além disso, os principais índices bolsistas de outros países europeus registaram desempenhos positivos nos dois últimos anos.

 

"Usando estes índices como um ‘proxy’ para o investimento no mercado accionista, pode concluir-se que no último ano, em Portugal, a rentabilidade deste mercado teria sido mais compensadora (mas igualmente com mais risco) do que a de outras aplicações financeiras, como obrigações do Tesouro (OT) ou certificados de aforro", refere o relatório da CMVM.

 

Contudo, o supervisor sublinha que, apesar da recuperação registada no ano passado, ainda não foi possível compensar as perdas registadas durante as crises financeira e da dívida soberana. Crises "que, além disso, prejudicaram a confiança dos investidores, seja por via de eventos marcantes ocorridos em diversos emitentes nacionais, seja por expectativas menos optimistas quanto aos resultados futuros das empresas cotadas, em parte devido a reduções significativas do investimento, à manutenção de elevados níveis de dívida (que ainda persistem) e, nalguns casos, à distribuição de dividendos oriundos de resultados transitados", frisa a CMVM.

 

O supervisor fez também o exercício comparativo entre investimentos, mas num período mais alargado. No final de 2007, um investidor que tivesse a opção entre investir no mercado accionista em Portugal ou em dívida pública, "e admitindo que este investidor é neutro face ao risco", a melhor escolha teria sido uma OT para o período de dez anos que terminou no final de 2017.

 

Isto porque, neste caso, por cada euro investido, iria receber 1,68 euros em 2017, enquanto no mercado accionista, num cabaz de acções que replica o índice PSI-20, o valor seria de 41 cêntimos.

 

"A estes valores importa incorporar o efeito dos preços no período, pois poderia acontecer que em 2017 o investidor comprasse menos bens com os 1,68 euros do que com um euro uma década antes", diz a CMVM. Considerando a inflação, passados dez anos o investidor receberia 1,55 euros pelo seu investimento de um euro em OT e 29 cêntimos se tivesse investido no cabaz de acções que constitui o índice PSI 20.

 

Considerando a distribuição de dividendos, a análise deve ser feita a partir do PSI-20 TR (que inclui a distribuição de dividendos efectuada pelas empresas). De acordo com a CMVM, 14 cotadas distribuíram dividendos no ano passado. E, neste caso, a perda incorrida pelos investidores com o investimento de um euro no cabaz de acções das empresas incluídas nesse índice seria inferior, ascendendo a 39 cêntimos, "pelo que no final dos dez anos o investidor teria recebido 61 cêntimos pelo seu investimento".

 

Esta análise assume que a aplicação financeira é feita numa única opção de investimento, mas "a grande maioria dos investidores decide (e bem) diversificar os seus investimentos, constituindo uma carteira que inclui várias aplicações financeiras", frisa o relatório do supervisor.

 

"Usando dados sobre os patrimónios financeiros (activos) do segmento de particulares de 2007, caso um investidor tivesse aplicado 100.000 euros no final de 2007 numa carteira constituída por depósitos a prazo (80,7%), obrigações do Tesouro (5,6%), certificados de aforro (5,6%) e acções cotadas (8,1%), essa carteira teria, passada uma década, um valor de 119.961 euros", conclui a CMVM. Ou seja, em dez anos, a rentabilidade acumulada obtida pelo investidor seria de 20%, ou de 7,3% em termos reais, descontando o efeito da inflação.

 

Taxa de poupança altera carteira das famílias

Mas, alerta a CMVM, no final de 2017, a carteira deste investidor teria uma composição diferente da inicial: aumento do peso dos depósitos a prazo (para 82,2%) e das OT (para 7,8%), diminuição nas acções cotadas (para 4,4%) e sem alteração nos certificados de aforro (5,6%).

 

E estas alterações na estrutura da carteira de activos das famílias "não se resumem, porém, aos efeitos decorrentes das diferentes remunerações proporcionadas pelos vários tipos de aplicações financeiras" mas as "alterações decorrentes de flutuações da taxa de poupança têm igualmente impacto naquela estrutura".

 

Isto porque, em percentagem do rendimento disponível dos agregados familiares em Portugal, a taxa de poupança caiu de 7,6% em 2007 para 5,2%, em 2017, o que terá impacto na composição da carteira.

 

A CMVM lembra ainda que, em 2017, as subscrições líquidas dos fundos de investimento mobiliário e dos produtos de aforro do sector segurador registaram o melhor ano desde pelo menos 2012. O montante aplicado nos produtos do sector segurador ascendeu a 2.423 milhões de euros e o valor das subscrições do conjunto dos fundos de investimento mobiliário nacionais atingiu os 923 milhões de euros.

 

"Apesar das baixas taxas de poupança ainda registadas, a evolução temporal das subscrições (líquidas de resgates) de vários produtos financeiros nos últimos seis anos permite confirmar que a estrutura de aplicações financeiras das famílias em Portugal resulta também de decisões de investimento, não se resumindo ao efeito das remunerações proporcionadas pelas várias aplicações financeiras que constituem a carteira", conclui a CMVM.

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