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“Termos 20% da população em risco de pobreza é extremamente complexo de resolver”

A pobreza e o envelhecimento são dos principais problemas do país apontados por Luísa Schmidt, socióloga e presidente do júri da categoria “Bem-estar e Cidades Sustentáveis”, do Prémio Nacional de Sustentabilidade, que arranca agora para uma nova edição. Mas o país também apresenta algumas vantagens.

24 de Setembro de 2022 às 14:00
Luísa Schmidt | Bem-Estar e Cidades Sustentáveis | PNS 20-30
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Portugal tem algumas fragilidades estruturais que dificultam a migração do país para um paradigma assente nos critérios de sustentabilidade definidos pelas Nações Unidas. "Temos 20% da população em risco de pobreza, o que é extremamente complexo de resolver. Por outro lado, há também um problema de envelhecimento, portanto, um problema demográfico. Temos ainda problemas ligados à educação, pois basta pensarmos nas dificuldades que hoje existem relativamente à carência de professores nos ensinos básico e secundário, e temos também problemas de desordenamento do território em Portugal", destaca Luísa Schmidt, investigadora principal no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e presidente do júri da categoria "Bem-estar e Cidades Sustentáveis", na 3ª edição do Prémio Nacional de Sustentabilidade, promovido pelo Jornal de Negócios.

Porém, o país também tem algumas vantagens e forças que o distinguem neste caminho rumo à sustentabilidade. Desde logo, refere Luísa Schmidt, por "ser um hot spot da biodiversidade". "Se souber cuidar desses valores, pode transformar-se e tornar-se num país extremamente atrativo em termos, por exemplo, de saúde pública e bem-estar." Outra grande mais-valia apontada pela socióloga é o mar que banha o país. "A Zona Económica Exclusiva tem um potencial enorme, portanto, Portugal tem aqui uma grande vantagem", ressalta a investigadora, que não esquece também "alguma coesão social" que existe no país como um aspeto positivo a ter em conta.

Relativamente aos rankings que possam comparar Portugal com outros países, Luísa Schmidt diz ser difícil fazer uma análise, por não haver ainda muitos dados comparáveis. "A OCDE neste momento tem um ranking interessante sobre a economia do bem-estar, mas ainda não tem propriamente os indicadores consolidados. Também existe o Índice da Felicidade Humana, no qual Portugal não está muito bem situado, mas não há outros indicadores internacionais que permitam situar o país a este nível."

Portugal é um hot spot da biodiversidade. Se souber cuidar desses valores, pode transformar-se e tornar-se num país extremamente atrativo em termos, por exemplo, de saúde pública e bem-estar.

O bem-estar da população e as cidades sustentáveis são dois conceitos inerentes um ao outro.
Luísa Schmidt
Para a investigadora, "o bem-estar da população e as cidades sustentáveis são dois conceitos inerentes um ao outro", que se definem por quatro dimensões fundamentais, nomeadamente "a dimensão ambiental, que é a base para termos uma sociedade próspera e uma economia ativa; a dimensão económica, que passa por termos uma economia mais inteligente que não esgote os recursos; a dimensão da coesão social; e ainda a governança, sobretudo como incentivo à participação das populações, portanto, à ação cívica. São estas quatro dimensões que se regem por valores como a dignidade, o sentido de justiça, o sentimento de pertença às comunidades."

À procura da sustentabilidade local

O Jornal de Negócios lançou, em 2020, o Prémio Nacional de Sustentabilidade, a maior iniciativa editorial em Portugal que distingue as empresas e as organizações que se destacam pela sua atuação e boas práticas de sustentabilidade nas diferentes áreas: ambiental, social e governação. As candidaturas para esta terceira edição arrancam agora em setembro.

Os projetos a incluir na categoria "Bem-estar e Cidades Sustentáveis" serão para a presidente do júri "projetos inovadores à escala local, que consigam contribuir para a coesão social, para a melhoria do ambiente e da natureza e também para o envolvimento das populações, chamando atores públicos e privados a participar nesses mesmos projetos".

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) incluídos nesta categoria são todos os 17 definidos pelas Nações Unidas. "Não podemos desligar nenhum deles do bem-estar e das comunidades", destaca Luísa Schmidt, que considera a categoria que preside "muito importante, porque é justamente ao nível local que temos visto Portugal fazer a diferença no caminho da sustentabilidade".

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