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Cinco anos do Acordo de Paris: Os bons, os maus e os vilões

Os Estados Unidos, numa lista negra de sete países/regiões com medidas "criticamente insuficientes", recuaram na luta contra as alterações climáticas por medidas da administração de Donald Trump.

05 de Dezembro de 2020 às 10:01
Reuters
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Cinco anos depois da assinatura do Acordo de Paris, para limitar o aquecimento global, só dois países têm metas compatíveis com um aumento das temperaturas até 1,5 graus Celsius (1,5ºC), segundo estimativas independentes.

O Acordo de Paris, alcançado em 12 de dezembro de 2015, envolveu praticamente todos os países do mundo, que se comprometeram em tomar medidas para limitar as emissões de gases com efeito de estufa e impedir que a temperatura média aumente alem de 02º C em relação à época pré-industrial, e que de preferência esse aumento não ultrapasse os 1,5º C.

Cinco anos depois só Marrocos e a Gâmbia tomaram medidas para impedir um aumento das temperaturas superior a 1,5º C, segundo a análise científica da organização "Climate Action Tracker" (CAT).

Para impedir que as temperaturas vão além de 02ºC, a meta do Acordo, apenas seis países tomaram as medidas corretas: o Butão, a Costa Rica, a Etiópia, a Índia, as Filipinas e o Quénia, este que só recentemente começou a fazer parte da reduzida lista.

De acordo com a página da organização, as medidas tomadas pela Austrália, Brasil, Canadá, Chile, Cazaquistão, México, Nova Zelândia, Noruega, Peru e Suíça, além da União Europeia (contabilizada em bloco), são insuficientes e vão levar a um aumento das temperaturas de três graus.

E depois há os países cujas medidas são altamente insuficientes, ou pior do que isso, que levarão a um aumento das temperaturas mundiais, que pode ser superior a 04º C. Estão nesse dois grupos grandes economias como a China ou o Japão, a África do Sul ou a Coreia do Sul, a Federação Russa ou os Estados Unidos.

A organização CAT é na verdade uma análise científica independente das ações climáticas dos governos e é uma colaboração de duas organizações, a Climate Analytics e a New Climate Institute. Analisa 32 países/regiões, cobrindo cerca de 80% das emissões globais de gases com efeito de estufa.

Os principais emissores de gases com efeito de estufa são a China (mais de um quarto do total mundial), seguida dos Estados Unidos e depois a União Europeia (UE), com cerca de 10%.

Na análise da CAT, e ainda que as ações não sejam compatíveis com o Acordo e Paris, a UE tem vindo a recuperar para ser líder na ação climática, nomeadamente por fazer dessa ação o motor da recuperação económica pós-covid-19.

Mas, diz a organização, falha nas metas de redução de emissões até 2030, que deviam ser de 65%. Elogiadas são iniciativas como o Acordo Verde Europeu, as descidas das emissões de gases, ainda que a última impulsionada pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19, e os investimentos económicos "longe dos combustíveis fósseis".

Os Estados Unidos, numa lista negra de sete países/regiões com medidas "criticamente insuficientes", recuaram na luta contra as alterações climáticas por medidas da administração de Donald Trump, diz a CAT, segundo a qual o recuo das emissões em 2020 será devido à pandemia de covid-19.

Aliás, diz-se na página, a administração de Donald Trump não só retrocedeu continuamente na política climática como utilizou a pandemia para "relaxar os regulamentos ambientais". A organização releva as promessas de Joe Biden, que assumirá a presidência do país em janeiro, na área do clima e luta contra o aquecimento.

Em termos gerais, a CAT tem alertado para as "poucas mudanças" por parte dos governos face aos compromissos assumidos no Acordo de Paris, e diz que ainda que fossem alcançados todos os compromissos atuais as temperaturas aumentariam 03º C.

Um alerta que tem partido de vários cientistas e especialistas, alguns deles antigos responsáveis do Painel Intergovernamental da ONU para as Alterações Climáticas (IPCC), que dizem que 75% das promessas (de redução das emissões) para 2020-2030 são parcialmente ou totalmente insuficiente.

Segundo especialistas da ONU, para manter as temperaturas abaixo de um aumento de 1,5ºC é preciso diminuir as emissões mundiais de gases em 7,6% por ano entre 2020 e 2030. A meta foi praticamente conseguida este ano, mas apenas devido à covid-19.

Num documento divulgado na terça-feira a CAT releva as promessas recentes de vários países de se tornarem neutras em emissões, como a China disse que o faria até 2060 ou como Joe Biden prometeu para os Estados Unidos até 2050. Os dois juntos reduziriam o aquecimento global em 0,3º a 0,4ºC.

A África do Sul, o Japão, a Coreia do Sul e o Canadá também anunciaram recentemente metas líquidas de zero, diz-se no documento, no qual se saliente que 127 países, responsáveis por cerca de 63% das emissões, estão a considerar ou adotaram metas líquidas zero.

A organização lembra ainda que são precisas "metas fortes" de redução de emissões para 2030, e que o prazo para essas metas serem apresentadas termina no final do mês.

"No entanto, continua a haver poucos movimentos positivos por parte dos governos para melhorar as suas metas" de redução de emissões, uma obrigação decorrente do Acordo de Paris. A CAT frisa mesmo que até novembro passado nenhum grande emissor de gases com efeito de estufa tinha apresentado metas atualizadas desde a adoção do Acordo de Paris.

Ainda assim, a organização nota ser evidente que o Acordo de Paris está a impulsionar a ação climática e que as estimativas de aumentos de temperatura no fim do século estão hoje mais baixas do que em anteriores análises, especialmente pelo investimento nas energias renováveis.

 

FP // HB

Lusa/fim
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