14.02.2014
Na popular discussão sobre a Factura da Sorte estou entre o grupo de portugueses que considera manifestamente exageradas as reacções de desdém e de "repugnância" que se ouviram nas últimas semanas. É certo que, para um Governo que quer transformar a austeridade numa "nova ética da existência", expressão ontem aqui usada pelo Fernando Sobral, lançar um sorteio que incita ao consumo é uma contradição. Também não será menos verdade que, numa sociedade depauperada, empurrada para o limiar da subsistência, acenar com carros de luxo roça a insensibilidade social e dá um certo toque terceiro-mundista. Mas, em tempos de governação pragmática, o que não faltam por aí são incoerências políticas e exemplos de vexatórios retrocessos civilizacionais.