Não se esconda, doutor Costa
Sobre o orçamento que aí vem vale apenas perder tempo no peso das pensões, um pouco no salário mínimo e, ainda, na falsidade do descongelamento das carreiras dessa bolsa de votos que é a função pública.
Sobre o orçamento que aí vem vale apenas perder tempo no peso das pensões, um pouco no salário mínimo e, ainda, na falsidade do descongelamento das carreiras dessa bolsa de votos que é a função pública.
E quando é que António Costa pensa e quer abrir um novo ciclo? "Passadas as eleições autárquicas", que previsivelmente vai ganhar e que o parceiro do grande consenso vai perder. Eis o quadro ideal para o político produzir política.
Pedrógão é uma ferida que não sara. Nem poderia. A tragédia é demasiado grande, demasiado grave, demasiado ilustrativa da nossa incapacidade. Incapacidade até de entender coisas tão grotescas que ultrapassam uma racionalização. O luto seria sempre longo. Mas não tinha, não podia ser assim tão acidentado.
Um país que surpreende a Europa e cresce acima das melhores previsões, palavra do comissário da poda; um país que concorre no seu território por uma agência europeia, a do medicamento; um país de peito feito lá fora ("Juntos [com o México] somos imbatíveis"), na palavra do Presidente. Neste país fechou a urgência da maior maternidade do país. Porca miséria!
E o que mais irá acontecer? Depois de Pedrógão, Tancos, demissões, só pode ser o diabo. Não é, ainda não há notícias da sua chegada. E assim germina a perplexidade na direita que se sente injustiçada (o que seria isto com Santana Lopes?) e numa extrema-esquerda que lambe a ferida da vingança (começa a ser vexatório o custo do ódio à direita).
Umas bengaladas no Facebook resolvem-se com um desprendimento de autoridade. António Costa sabe que a ética republicana (ou um primeiro sinal de quebra dessa regra) demitiria o ministro. João Soares foi-se em 24 horas. Agora fia mais fino. É o poder do primeiro-ministro que está, pela primeira vez, em causa.
António Costa não perde tempo. Pediu a um ‘focus group’ uma avaliação do impacto que a tragédia de Pedrógão teve na sua popularidade e na do seu governo. E parece que as conclusões o animaram.
Baralhados com a cambalhota? Terá o primeiro-ministro de sucesso, optimista irritante, 'case study' da hábil sobrevivência política, perdido o norte? Querendo chegar à Índia, estará a caminho do Brasil?