Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

O "péssimo de Pareto"

Estradas cortadas, túneis inundados e em ruptura, linhas férreas submersas, pessoas e bens arrastados pela força das águas, nalguns casos com consequências fatais. O cenário de pandemónio que ontem se abateu sobre a região de Lisboa repete-se, com regular

  • ...

Uma vez mais, deixou à vista aquilo que só pode ser o resultado de desleixo, incompetência e corrupção. Ou de tudo isto somado.

É muito provável que as cheias verificadas se devam, pelo menos em parte, a incúria de quem tem a responsabilidade de manter plenamente operacionais as estruturas destinadas a escoar a água quando a intempérie surge, impiedosa. Temporais menos violentos já foram suficientes para cortar a circulação em túneis rodoviários como os que ontem, no Campo Grande e no Campo Pequeno, se viram impedidos de cumprir a missão para que foram construídos, lançando o caos no trânsito lisboeta. E nem se consegue imaginar o que seria se o nível de precipitação em Lisboa fosse semelhante ao de cidades como Londres ou Bruxelas.

Se tudo fosse assim tão simples, o ministro do Ambiente teria razão ao lançar as culpas do desastre exclusivamente sobre os ombros das autarquias. Acontece que a intervenção de Francisco Nunes Correia se limitou a uma caricata tentativa de sacudir a água do capote do Governo, dando seguimento a uma das mais sólidas tradições nacionais, de cada vez que algo corre mal: começa por haver muita pressa em encontrar culpados, para que no fim ninguém seja apurado responsável. Ao afirmar que o país não tem problemas de ordenamento, o mínimo que se pode dizer é que o ministro meteu água em dia de dilúvio.

O que não falta em Portugal, pelos menos para quem não carregue, no Governo, a pasta do Ambiente, são sinais evidentes de caos urbanístico e desordenamento territorial. Nem é necessário, embora seja conveniente, escutar o que técnicos como Gonçalo Ribeiro Telles não se têm cansado de denunciar. Há cheias, com reguladridade, porque existe construção autorizada nos locais errados, em cima de linhas de água, a que se juntam estradas e linhas férreas na mesma situação, como a do Norte que já absorveu 1,1 mil milhões de euros de investimento. No entanto, continua a transformar-se num parque de diversões aquáticas aos primeiros pingos de chuva.

A incompetência de quem estuda e de quem decide ajudará a explicar muitos fenómenos, tão persistentes como intoleráveis. Mas há, seguramente, mais. O excesso de regulamentação e de burocracia é um paraíso para quem queira enriquecer no interior do estranho mundo que é o das obras públicas e construção. Um universo em que reina o “péssimo de Pareto”. E o que nos diz este original princípio económico de que existe abundante prova em Portugal? Que é sempre possível melhorar a situação de alguns, prejudicando todos os outros.

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio