Opinião
O último pulo
O Fernando era corrosivo, brincalhão e um observador certeiro da atualidade nacional, sobretudo a política.
Fernando Sobral, antigo jornalista do Negócios, morreu aos 62 anos, vítima de doença prolongada. Esta é a forma anódina de noticiar um facto. Acontece que para muitos de nós (como é o meu caso), a sua relevância não se esgotava na atividade profissional.
O Fernando era um enorme amigo, uma pessoa introvertida e que sabia comunicar, como poucos através da escrita. O Fernando era corrosivo, brincalhão e um observador certeiro da atualidade nacional, sobretudo a política.
O Fernando era ainda um escritor e um sábio que teimava em ser discreto. Gostava (eu também) de prever intrigas, mas nunca as alimentava. As opiniões sobre ele, mesmo por quem não lhe era próximo, desembocavam geralmente no elogio sincero e merecido.
Ao longo de mais duas décadas convivemos regularmente no Diário Económico, onde o conheci, e depois no Negócios, onde o reencontrei. Foi neste jornal que manteve durante anos a coluna Pulo do Gato, esteve no nascimento da iniciativa editorial Os Mais Poderosos da economia portuguesa e nos oferecia, praticamente todas as semanas, trabalhos de análise no suplemento Weekend.
É nestas circunstâncias que se percebe a crónica insuficiência das palavras para expressar sentimentos. Nada do que escreva conseguirá realmente traduzir o que significou para mim. O Fernando Sobral deu o seu último pulo mas ficará para sempre no coração daqueles que trabalharam com ele e dos que tiveram a sorte de serem seus amigos. Até sempre com a convicção de que o nada não existe.
PS: Um enorme beijo para a Cristina Azedo, sua companheira durante mais de 30 anos.