Opinião
A Síria dos horrores
A Síria nunca foi propriamente um país pacífico, como o demonstra a sua história pós-independência, obtida em 1946. Este percurso de intranquilidade cíclica atingiu o auge em Março de 2011, com a confluência de dois fenómenos: a chamada Primavera Árabe e a ocupação de territórios por parte do auto-proclamado Estado Islâmico (EI).
A Primavera Árabe, que pretendia derrubar o Presidente Bashar al-Assad, falhou. O EI, que teve o condão de juntar os EUA, a Rússia, a Síria e a Arábia Saudita, acabou também derrotado no final do ano passado, pondo assim fim a uma aliança de conveniência e muitos fingimentos.
Os últimos ataques do Governo sírio aos rebeldes, o presumível uso de armas químicas e o apoio inequívoco de Vladimir Putin ao regime ditatorial de Assad ressuscitaram o clima de guerra fria entre a Rússia e os Estados Unidos, com Donald Trump a ameaçar retaliar, disparando mísseis para território sírio. Possivelmente sobre alvos com impactos limitados, como aconteceu no passado recente. Quanto à ONU está paralisada porque as resoluções sobre este conflito são vetadas, tanto pela Rússia como pelos EUA, e a escalada da violência parece irreversível.
Para a Rússia, a Síria é vital na medida em que é o único porto de águas quentes a que o país tem acesso, sendo essa uma das razões vitais para o apoio ao regime de Assad. Já os EUA estão inequivocamente ao lado de Israel e querem travar a todo o custo que os russos reforcem a sua influência na região. Até porque o xiita Irão está também ao lado do alauita (ramo xiita do islão) Assad, o que faz aumentar os receios do Governo israelita.
Em paralelo, os mercados reagem como esperado perante a incerteza. As bolsas caem e o preço do petróleo sobe, movimentos que podem ser apenas casuísticos ou tornarem-se uma tendência, caso este cenário (como é esperado) se mantenha.
O mais impressivo neste conflito é que não tem fim à vista. Ou seja, nem Bashar al-Assad irá abdicar do poder nem o Ocidente, sobretudo os EUA, irá fechar os olhos às atrocidades cometidas pelas tropas fiéis ao Presidente sírio e seus aliados.
O drama destas abstracções é que colocam em plano segundo secundário o essencial. Quando a guerra começou, a Síria tinha 22 milhões de habitantes. Actualmente, seis milhões fugiram do país e mais de 500 mil foram mortos. E por muito que se possa argumentar sobre os impactos negativos da influência externa na Síria, seja ela dos EUA, da Rússia, do Irão ou da Turquia, há nitidamente um responsável maior por esta história de horror: Bashar al-Assad, capaz de sacrificar o seu povo para manter o poder.