Opinião
Venham os pontos
Nunca gostei de Estados que usam a dureza das leis para esconder a sua responsabilidade na falta de consciência cívica. Por isso, tive dúvidas quanto ao resultado da última mexida no Código da Estrada (que agravou substancialmente as penas).
Nunca gostei de Estados que usam a dureza das leis para esconder a sua responsabilidade na falta de consciência cívica. Por isso, tive dúvidas quanto ao resultado da última mexida no Código da Estrada (que agravou substancialmente as penas).
Quase quatro anos depois, o balanço mostra que os receios (meus e de muita gente) eram infundados: a sinistralidade rodoviária baixou para um nível que nem os mais optimistas esperavam. Ou seja, as sanções, afinal, funcionam. Confirmação de que, confrontado com a (real) possibilidade de ficar sem carta, o condutor passa a ter muito mais cuidado com o excesso de velocidade, manobras perigosas e consumo excessivo de álcool.
É preferível levar um cidadão a agir com base no civismo? Sem dúvida. Mas enquanto essa lacuna, onde o Estado tem responsabilidades, não for coberta (formar um "novo condutor" é tarefa para duas gerações e tem de começar no ensino básico), não vale a pena ter ilusões: é melhor optar pelo pau.
O sucesso obtido não deve servir para cruzar os braços e o Governo deveria estar já a equacionar novas medidas. A carta por pontos (cuja introdução os grupos de interesses torpedearam, nos anos 80) é um modelo que vale a pena estudar. Os resultados em Espanha são encorajadores.