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11 de Junho de 2012 às 23:30

Como competir na Europa

O interesse na competitividade da União Europeia não começou com a crise do euro. Salvaguardar a posição avançada da Europa na economia mundial foi, afinal de contas, uma motivação-chave por detrás da criação do mercado único. Desde então, o interesse na competitividade da UE aumentou ainda mais, fomentado sobretudo pelo desafio colocado por países como a China.

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O interesse na competitividade da União Europeia não começou com a crise do euro. Salvaguardar a posição avançada da Europa na economia mundial foi, afinal de contas, uma motivação-chave por detrás da criação do mercado único. Desde então, o interesse na competitividade da UE aumentou ainda mais, fomentado sobretudo pelo desafio colocado por países como a China.

De modo a garantirem um crescimento económico sustentável e abrangente na Europa, os responsáveis pelas políticas económicas e os cidadãos em geral devem, antes de mais, encarar o comércio internacional como uma troca mutuamente benéfica de bens e serviços. O crescimento da produtividade e a inovação são primordiais para que se recolham os benefícios desta troca. E com vista a que ambos os elementos sejam assegurados, as políticas sem custos para os contribuintes europeus são pelo menos tão importantes como as políticas que requerem fundos públicos.

O primeiro passo é deixar de encarar o comércio internacional como um jogo de soma zero que custa a alguns países tanto quanto beneficia outros. Obviamente que as empresas dentro do mesmo sector estão em concorrência directa entre si, e a conquista de quota de mercado por parte de uma delas significa a perda dessa mesma quota por parte de concorrentes. Daí que faça todo o sentido que a folha salarial e os lucros de uma empresa aumentem quando esta tem um desempenho superior à das suas rivais.

Lamentavelmente, muitas pessoas acreditam que a prosperidade do seu país implica superar outros países da mesma forma. Este entendimento da competitividade internacional continua a motivar um vasto leque de medidas, incluindo as políticas industriais destinadas a criar e a defender “líderes nacionais” e a apoiar uma variedade das chamadas indústrias estratégicas.

Existem dois problemas nesta abordagem. Em primeiro lugar, não há grandes provas que sustentem a ideia de que as políticas industriais contribuem para aumentar a fatia de mercado de um país no comércio mundial. Muito frequentemente, as intervenções dos governos baseadas em considerações comerciais estratégicas são simplesmente formas encobertas de protecção das indústrias internas, o que penaliza outros países – e, em última instância, a economia do próprio país proteccionista.

Em segundo lugar, e ainda mais importante, fazer um paralelo entre as empresas e os países é algo completamente errado. Quando uma empresa se torna mais competitiva, afasta as suas rivais; estas não recebem nada em troca. Mas quando um país se torna mais produtivo e aumenta as suas exportações, consegue os meios para importar mais, pelo que as exportações de outros países também aumentam. De facto, o aumento das importações é a derradeira razão para um país impulsionar as suas exportações, ao passo que a motivação de uma empresa está em superar as suas concorrentes de modo a que nunca tenha de lhes comprar nada.

Assim, a competitividade externa é aquilo a que o economista Paul Krugman, laureado com o Nobel, chama de “obsessão perigosa” – pelo menos na medida em que é baseada na analogia empresa-país. Mas se a competitividade se referir à produtividade, então continua a ser um conceito com sentido. O crescimento da produtividade e a inovação beneficiam os países, não por os ajudarem a competir com outros países, mas sim por lhes permitirem produzir e consumir mais, ou produzir e consumir na mesma proporção com menos recursos.

Compreender a competitividade neste sentido é um pré-requisito para conceber e implementar, de forma bem sucedida, um programa de crescimento para a Europa. Com efeito, um considerável número de investigadores – liderados pelo economista Philippe Aghion, de Harvard, e pelos seus colegas – diz que a inovação é o principal motivador do crescimento económico nos países avançados.

Isto implica, acima de tudo, a necessidade de expor as empresas a uma forte concorrência interna e externa. Ao serem confrontadas com uma forte concorrência e com a ameaça de extinção, as empresas costumam tentar inovar para sobreviverem. Assim, a União Europeia faria bem em conjugar o apoio orçamental atribuído às políticas de Investigação & Desenvolvimento com as regras de concorrência que mantêm as empresas em estado de alerta, dando ao mesmo tempo a adequada protecção de patentes aos inovadores de êxito.

Nas últimas décadas, a Europa não realizou grandes avanços nestas frentes, mas não é ainda demasiado tarde para apanhar o ritmo. O sector dos serviços é o que se revela mais promissor neste âmbito.

A nossa experiência diária leva-nos a encarar a inovação em termos de bens e processos de produção mais sofisticados e/ou de maior qualidade. E, de facto, a produção é uma importante fonte de inovação e de crescimento económico. No entanto, qualquer programa que vise estimular o crescimento económico na Europa terá de incluir o sector dos serviços.

Com efeito, os serviços representam cerca de dois terços do valor total acrescentado na economia da União Europeia. Em termos de emprego, o sector dos serviços é consideravelmente superior. Além disso, desde a década de 90 que o crescimento do Produto Interno Bruto na União Europeia tem sido sobretudo motivado pela expansão dos serviços.

Simultaneamente, o crescimento da produtividade no sector dos serviços da União Europeia tem vindo a ficar para trás quando comparado com os desenvolvimentos registados nos Estados Unidos (mesmo atendendo à possibilidade de o crescimento pré-crise da produtividade dos serviços financeiros norte-americanos ter sido em parte abstrato). Isto significa que há ainda muito potencial por explorar no que diz respeito a fomentar a inovação e a produtividade na Europa.

É evidente que o melhor tipo de crescimento da produtividade nos serviços resulta mais do tipo de inovação que melhora a qualidade do que da inovação que aumenta a quantidade com os mesmos recursos escassos, nomeadamente no mercado laboral. Basta pensar nos cuidados de saúde, na educação e nos cuidados aos mais idosos. O crescimento da produtividade não deve resultar em menos profissionais a dedicados aos doentes, estudantes e idosos.

Ao aumentar a produtividade nos serviços, aquilo a que os economistas chamam de “capital intangível” torna-se cada vez mais importante. O capital intangível resulta do investimento em I&D, mas também do investimento nas competências dos trabalhadores, das melhorias organizacionais, de melhores processos, de novas concepções, etc.

Os países cujos sectores dos serviços deram um grande contributo para o crescimento da produtividade têm investido significativamente no capital intangível, indicando o caminho para o sucesso através do fomento da inovação. É este o caminho que a União Europeia deve seguir.

Philippe Maystadt foi ministro dos Assuntos Económicos, ministro das Finanças e vice-primeiro ministro da Bélgica. Foi presidente do Banco Europeu de Investimento entre 2000 e 2011.

Direitos de autor: Project Syndicate/Europe’s World, 2012.
www.project-syndicate.org
www.europesworld.org

Tradução: Carla Pedro

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