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A gestão da inovação

As discussões em torno do plano tecnológico e da vinda para Portugal de uma universidade americana de referência nesta área, mostram o interesse público por esta matéria.

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A importância da inovação como instrumento de vantagem competitiva das empresas está na ordem do dia. As discussões em torno do plano tecnológico e da vinda para Portugal de uma universidade americana de referência nesta área, mostram o interesse público por esta matéria.

No entanto, existe uma vertente deste problema que não tem sido abordada: As empresas portuguesas, incluindo as de alta intensidade tecnológica, dominam as ferramentas teóricas e os modelos de gestão da inovação para que possam tirar partido deste movimento, na melhoria do seu posicionamento competitivo internacional? 

A resposta a esta questão é essencial porque, se for negativa, assistiremos, uma vez mais, a uma grande mobilização de recursos humanos e financeiros, públicos e privados, cuja rentabilidade será reduzida se considerarmos os resultados que se obterão.

A importância da inovação no aumento de competitividade das empresas surge ligada aos modelos de estratégia competitiva baseados nos recursos (Wernerfelt, Teece, ..) em contraponto aos modelos baseados nos custos de transacção (que justificam, por exemplo, a explosão de crescimento  recente da China, tanto a nível da produção como do comércio internacional).

De acordo com estes modelos, o processo de inovação pode criar nas empresas um conjunto de «activos não replicáveis» suportados no conhecimento - tácito e explicito - (Nonaka,..) que suportam o seu processo competitivo.

Mas esta correlação só existirá se as empresas forem capazes de adoptar modelos de gestão da inovação eficazes, que transformem o conhecimento em vantagens competitivas claras, que por sua vez são utilizadas em processos de gestão correctos, para um posicionamento competitivo mais forte, que lhes permitam aumentar as vendas nos mercados mais exigentes e, por essa via, aumentar os seus indicadores de rendibilidade.

Este problema foi analisado com grande rigor por Christensen no seu livro «O dilema do inovador» e tem sido objecto de estudo por um conjunto alargado de autores, (Tidt, Burgelman,) que analisam não só as empresas como o seu meio envolvente e a interacção entre estes dois sistemas.

Todos os modelos desenvolvidos contemplam, como variáveis essenciais para a optimização do processo de inovação, do lado das empresas, a cultura das organizações, a gestão da tecnologia, o modelo organizacional e as redes e alianças e do ponto de vista do meio envolvente, um conjunto de aspectos que fomentam a inovação, com especial relevo para as políticas publicas de incentivo à modernização empresarial, à melhoria da competitividade e à presença dos novos produtos e serviços em mercados internacionais.

As empresas inovadoras têm uma cultura que fomenta as novas ideias e processos e aprende com os erros, fazem a gestão da tecnologia numa óptica de aproximação ao mercado, desenvolvendo novos produtos e serviços para novos segmentos de mercado, adoptam modelos organizativos descentralizados, com centros de responsabilidade que lhes permita optimizar do ponto de vista económico e financeiro o esforço de inovação e integram redes e alianças de conhecimento, tanto horizontais como verticais, incluindo aqui para além de outras empresas inovadoras, as Universidades e os Centros de Investigação Avançada Internacionais.

Esta ultima variável – redes e alianças – é especialmente relevante para as empresas de dimensão média em países periféricos com um índice de intensidade tecnológica global média, já que representa a ferramenta teórica mais poderosa para que essas empresas possam competir com as suas congéneres de muito maior dimensão, com sistemas de distribuição proprietários para os seus produtos e serviços ino- vadores, actuando em mercados de maior dimensão e maior capacidade financeira.

As empresas que adoptam estes modelos sistémicos de gestão da inovação conseguem ultrapassar o chamado «abismo dos inovadores» onde caem todas as outras empresas cujo processo de adequação da inovação ao mercado é deficiente.

A estratégia voluntarista publica que está a ser seguida na construção de um sistema de empresas inovadoras com capacidade competitiva a nível internacional não toma em consideração estes aspectos cruciais de gestão da inovação. Receio bem que, a manter-se esta aproximação, os resultados fiquem muito aquém das expectativas. E é pena, porque, de facto, o caminho que o país tem de trilhar, com empenho e convicção, mas também com reflexão, rigor e competência, é o da construção de um ambiente e de uma estrutura empresarial suportada na inovação.

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