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23 de Novembro de 2012 às 12:25

A esquina do Rio

Um artigo recente da revista norte-americana "The Atlantic", escrito por Barry Schwartz, defende que, - como uma grande parte da acção governativa envolve prever qual será o comportamento das pessoas face a determinadas medidas

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Política
Um artigo recente da revista norte-americana "The Atlantic", escrito por Barry Schwartz, defende que, - como uma grande parte da acção governativa envolve prever qual será o comportamento das pessoas face a determinadas medidas, ou como levar as pessoas a alterar os seus comportamentos - os advogados e economistas que, geralmente, são maioritários nos elencos governativos, teriam um bom contributo se ao seu lado se sentassem psicólogos. Ele defende que, tal como existem conselheiros económicos do governo, também deviam existir conselheiros psicológicos, que ajudassem a formular políticas de saúde, de educação e até económicas, tudo com o objectivo de colocar no centro das decisões especialistas em comportamento humano. Schwartz afirma que o bem-estar e a realização pessoal são mais importantes para o desenvolvimento de um país do que a evolução do PIB e propõe que a acção política se centre nesses aspectos. Aqui está matéria que dá que pensar - se o nosso Governo ouvisse alguns conselheiros como Schartz, teria feito tudo como até aqui?



Fantasia
Os incidentes ocorridos na zona de S. Bento, no dia da greve dos serviços públicos, desencadearam uma onda de informações contraditórias a propósito da intervenção da polícia e do comportamento de alguns manifestantes. O ponto sobre o qual acho importante reflectir tem a ver com a forma como actualmente se passa opinião por informação e, sobretudo, pela forma como se fornecem dados e relatam situações cuja veracidade não é avaliada nem questionada. Quase nada do que li nas redes sociais passaria no velho crivo de verificar os factos. O que se passou, nos actos e relatos, não foi um incentivo a quem quer intervir na acção política. O que se passou cria apenas uma fantasia.



Provar
Um cozido à portuguesa quer-se rico de legumes e de carnes. Quer-se caldoso, no ponto, sem ser espapaçado, saboroso e diversificado. A qualidade dos enchidos é decisiva para a coisa correr bem, mas admito que, para mim, as couves são também um bom argumento. Por estes dias tenho visitado a Cozinha Real, que fica no Hotel Real Parque. É um espaço remodelado há poucos anos (o hotel data de 1994), e embora fique numa cave, é bem iluminado, é amplo, confortável, com alguns recantos tranquilos. A cozinha é de inspiração tradicional portuguesa e hoje em dia é um dos bons sítios para almoçar nas Avenidas Novas. Às terças-feiras, aparece o tal cozido - bons enchidos, boas carnes, abundante, saboroso. Devo dizer que o cozido da Cozinha Real é dos melhores que tenho provado nos últimos tempos. De tal maneira que sempre que posso lá vou à terça. E já percebi que nesse dia vou vendo que há mais gente a ficar fã. Avenida Luís Bivar 67, telefone 213 199 000.



Ouvir
Nos dias que correm não é muito confortável o rótulo de promessa do fado. E, no entanto, é esse rótulo que persegue Ana Moura desde o início da carreira. Para contrariar mais uma vez as coisas, ela chamou um produtor norte-americano, Larry Klein, que gravou com Joni Mitchell, Herbie Hancock, Madeleine Peyroux ou Luciana Souza, e que conseguiu perceber que, além de fadista, Ana Moura é uma grande cantora e grande intérprete. Como os artistas que não vivem de rótulos, ela gosta de arriscar. Felizmente, como os melhores antes dela, não vê o fado como uma coisa imóvel, sempre com os mesmos arranjos. Experimenta outros instrumentos, ensaia outros ritmos. O resultado, em "Desfados", o seu novo disco, é arrebatador. Grandes canções, grandes fados inesperados, grandes surpresas como o arranjo de "A Case Of You", de Joni Mitchell, ou a heresia das palavras e do tempo rápido do tema título, "Desfado". E o "Havemos de Acordar", de Pedro Silva Martins, e o "Fado Alado" de Pedro Abrunhosa, e a musicalidade de "Como Nunca Mais" de Tó Zé Brito, ou a força de "Dream Of Fire" da própria Ana Moura. Há quem não goste do disco e lhe chame nomes. Eu, por mim, limito-me a ouvir. Com a alegria da descoberta que se tem quando se ouve música assim.



Semanada
Alberto da Ponte, presidente da RTP, manifestou a convicção de que a estação pública manterá os dois canais generalistas de TV e os três de rádio; Miguel Relvas garantiu que o Governo ainda não tomou uma decisão sobre a RTP e preconizou que a empresa devia fazer notícias em vez de ser notícia; Nuno Santos demitiu-se do cargo de Director de Informação da RTP; a crise do Euro já contagiou de alguma forma sete dos 17 países da Zona Euro; a retoma em 2014 será três vezes inferior à previsão inicial da troika; a quebra de encomendas vai fechar a Autoeuropa um mês; Portugal está entre os dez países da União Europeia em que mais pessoas trabalham além dos 65 anos; salários em atraso mais que duplicaram até Setembro; a taxa de desemprego juvenil em Portugal chegou aos 39%; os desempregados de longa duração já atingem 56% do total; o desemprego atinge 1.120 milhões de pessoas; a população desempregada aumentou nos últimos 12 meses a uma média diária de 540 pessoas; quase metade das urgências podiam ser transferidas para centros de saúde; perto de 20.000 viaturas circulam sem seguro, mais 4,3% que no ano passado; Lisboa e Castelo Branco são as capitais de distrito com maior percentagem de idosos, 24%; no novo censo, a idade média dos portugueses subiu 3 anos, para 41,8 anos, em relação ao censo anterior; 19% dos portugueses têm mais de 65 anos.



Arco da velha
O Aeroporto de Beja, que Sócrates mandou construir e custou 35 milhões de euros, pode vir a ser utilizado como central de sucata aeronáutica, uma base para desmantelar e reciclar aviões em fim de vida.



Folhear
Desde 2011, a Fundação Francisco Manuel Dos Santos edita a revista "XXI Ter Opinião". É um espaço editorial único, onde se confrontam ideias, se publicam opiniões, mas também pequenos ensaios e investigações. O editor é António Barreto e o director é José Manuel Fernandes. Nesta nova edição, agora em distribuição (livrarias e bons quiosques de jornais, 6,5 euros), destaco os artigos "Como Recuperar A Liberdade Perdida", de José Manuel Félix Ribeiro, e "O Custo de Uma Utopia", de João Ferreira do Amaral. Há mais bons motivos, claro, como um apanhado do censo de 2011, um portfolio de fotógrafas de Praga em 1967, de Gérard Castello-Lopes, apresentado por José Calado, ou ainda uma reflexão sobre a nova emigração e a Alemanha contemporânea. Num país onde hoje em dia se publica pouco debate de ideias e onde em geral se procura o consenso e os panos quentes em vez de uma discussão franca e de umas pedradas no charco, esta revista sabe bem. Noto com agrado que o tamanho da edição deste ano está mais cómodo para o leitor, mas lamento que nalguns aspectos gráficos (a começar pela capa) e temáticos a revista seja tão século XX - uma contradição com o seu próprio título.



Ver
Esta semana, a Galeria Baginski assinalou o seu 10.º aniversário - desde que começou perto da Faculdade de Ciências, num rés-do-chão de um prédio antigo da Rua da Imprensa Nacional, com enfoque na fotografia e no desenho. As actuais instalações, num armazém bem recuperado no Beato, têm proporcionado um série de exposições de referência, algumas arriscadas.
Ao mesmo tempo, Andrea Baginski, que dirige a galeria, tem apostado na divulgação internacional dos artistas portugueses que representa e tem trazido a Lisboa a obra de alguns nomes estrangeiros, sobretudo da América Latina, e em especial do Brasil, que é o seu país de origem. Para assinalar estes dez anos, apresenta uma exposição de Lúcia Prancha e Sara Nunes Fernandes, com Sérgio Carronha, três artistas portugueses que vivem em São Paulo, Londres e Lisboa, contemporâneos no estudo em Belas Artes, uma instalação de sensibilidades e formas diferentes. Na outra sala está uma intrigante e atraente exposição do peruano Jose Carlos Martinat, uma experiência sobre materiais e superfícies que dá que pensar. E ao fundo, na sala do acervo, como uma pequena oferta especial, extra-exposição, está um conjunto de obras - tentadoras - com a marca do humor cáustico e observador de Ana Vidigal.
Rua Capitão Leitão 51 a 53 (www.baginski.pt)



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