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08 de Junho de 2012 às 12:05

A esquina do Rio

Depois de milhões gastos e de actividade quase nula, o Governo criou um Grupo de Trabalho para estudar a rentabilização do Aeroporto de Beja

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Memória
Esta semana soube-se da decisão final sobre as escutas efectuadas a José Sócrates e que acabaram por ir parar ao processo "Face Oculta". Não vou discutir a decisão dos tribunais (embora cada vez mais desconfie dos tribunais portugueses a todos os níveis), mas uma coisa parece certa: vão ser eliminados dados que no futuro nos ajudariam melhor a compreender a História de Portugal no início do século XXI. Até podia entender que as escutas ficassem congeladas 20 anos ou mais, mas apagá-las revela que se quer esconder o passado. Não é uma questão de legitimidade em eliminar dados eventualmente obtidos de forma discutível, é uma questão de varrer os factos e impedir que se saiba o que aconteceu. Noronha da Costa, nesta matéria, assemelha-se historicamente àqueles que aceitaram que fotografias fossem alteradas, que relatos fossem adulterados. No futuro não saberemos, de facto, o que se passou. E os juízes - todos os juízes mesmo os mais altos magistrados - que permitiram a sua eliminação serão cúmplices de esconder o passado perante as gerações futuras. Espero que haja cópias piratas e que elas se mantenham - será sinal de vitalidade.


Provar
Nestes dias em que os jogos do Europeu estão à porta, recomendo o bar do Espaço 10, o local desenvolvido por Rui Costa, em pleno Saldanha. No andar de baixo há um bar onde se petisca (caracóis, pica-pau, presunto...), e ao fim-de-semana há música ao vivo. Mas nestes dias o que interessa é que os ecrãs são grandes e bons e que se pode passar lá um bom fim de tarde a ver os jogos do Europeu. Com um bocado de sorte, o próprio Rui Costa ainda lá aparece. Quando a fome apertar, basta subir ao primeiro andar, ao restaurante, onde se come bem e com uma vistaça sobre a Avenida da República. Fica no edifício do Atrium Saldanha, entrada pela Avenida Casal Ribeiro 63 A, telefone - 213 528 242.


Voar
Sou daquelas pessoas que acha que voar é mais seguro, em termos estatísticos, que andar de carro ou de comboio. Mas continuo a ficar revoltado com a frequência com que ocorrem acidentes com aviões ultraleves. Na semana passada mais um caso, dois mortos - foi o terceiro acidente este ano, cinco mortos no total desde Janeiro. Duas dezenas desde 2006. Numa recente reportagem, o jornal "i" afirmava: "A Federal Aviation Administration (FAA - autoridade norte-americana para a aviação) dizia, num comunicado relativo aos motores Rotax - que são os mais usados na aviação ultraleve - que "durante uma revisão do processo de produção foi detectada uma irregularidade na construção de uma cambota", que, caso não fosse corrigida, poderia levar à "paragem do motor durante o voo".

Já este ano, a Civil Aviation Authority (CAA - equivalente britânica da FAA) repetiu o aviso. Num documento de 18 de Janeiro diz-se que o problema se restringe a "um número limitado de motores", mas a lista que acompanha o alerta da CAA enumera mais de uma dezena de modelos da marca em que a anomalia foi detectada." E mais à frente, sobre esta motorização utilizada nos aviões ultraleves Tecnam: O manual de motor de modelos da marca, a que o "i" teve acesso, tem uma particularidade nada habitual que refere: "Perigo: este motor, pelo seu desenho, está sujeito a paragens súbitas. A paragem do motor pode resultar em despenhamentos. Esses despenhamentos podem resultar em ferimentos graves ou morte". Mais abaixo diz-se que "o utilizador assume todos os riscos e reconhece, pelo seu uso, o facto de o motor estar sujeito a paragens súbitas". André Garcia, director de produção da Tecnam Portugal - empresa que comercializa os aviões ultraleves equipados com motores Rotax -, interpreta a nota como uma forma de a empresa "escapar a processos legais" por possíveis acidentes. Contudo, a nota de aviso não tem impedido o INAC de certificar estes aviões como estando aptos para a prática de voo.". Isto não vos causa alguma inquietação sobre os nossos reguladores?


Ouvir
Hoje não há muitos discos novos que me surpreendam, mas reconheço que «Absence», o terceiro álbum de Melody Gardot, é uma agradável prova do seu talento e criatividade. Ela conta que este disco foi influenciado por estadias mais ou menos prolongadas em Marrocos, na Argentina, no Brasil e em Lisboa (esteve cá quase seis meses em 2011). Gardot canta no seu inglês nativo, mas também em espanhol e em português- podia ser um pesadelo, mas na realidade é um grande disco - e em boa parte porque ela percebe o que é o tango, ou a bossa nova ou o fado e não se coloca no papel de imitadora turística. Ela saíu-se bem, em grande parte pela produção, excelente, do brasileiro Heitor Pereira. As duas canções «portuguesas» do disco são «Lisboa» e «Amália» - sendo que esta Amália é inspirada por um pássaro e não pela Fadista. Às vezes é difícil explicar porque se gosta - mas este é um grande disco, que pode ser ouvido em casa com o espírito de se estar num bar, a ouvi-la cantar, com improviso e emoção.


Ver
Esta semana gostei muito de ver os azulejos de Xavier Sousa Tavares, na Galeria Ratton (Rua da Academia das Ciências 2C, à Rua do Século); as pequenas e reveladoras esculturas e os desenhos de Rui Sanches na TPobjectosdearte (Rua S. João da Praça 120, perto da Sé) ; e as noites de Inez Teixeira e as experiências de Inês A, ambas na Plataforma Revólver , na Rua da Boavista 84 - cuidado com a PSP que, nas noites de inaugurações, anda à caça de multar quem não estaciona certinho no local. Confesso que, de tudo, foram as noites de Inez Teixeira que mais marca me deixaram - depois daqueles quadros nem me apeteceu ir refilar com os zelosos agentes da autoridade que só estão onde se estaciona, e nunca onde há roubos. Coisas.


Arco da velha
Em 15 anos foram gastos 75 milhões de euros no Metro do Mondego, mas o projecto ainda não saiu do papel e deixaram de existir ligações ferroviárias entre Coimbra e a Lousã desde 2010.


Semanada
Depois de milhões gastos e de actividade quase nula, o Governo criou um Grupo de Trabalho para estudar a rentabilização do Aeroporto de Beja, que é constituído por sete pessoas; o PS é o recordista de faltas por deputado na AR; 38% dos beneficiários do rendimento de inserção são menores e os beneficiários deste apoio triplicaram no primeiro trimestre; os processos fiscais rendem menos que a troika pensava e o presidente do Supremo Tribunal Administrativo disse estar "a convencer a troika do nosso interesse em mudar a situação"; frequentar a faculdade custa, em média, um salário mínimo por mês; tirar o curso superior absorve um quinto dos rendimentos das famílias portuguesas; António Borges, o ex-vice presidente da Goldman Sachs, actualmente na categoria de "quadro superior" ao serviço do Governo e da Jerónimo Martins (como um deputado do PSD se lhe referiu no Parlamento), defendeu a redução dos salários em Portugal e conseguiu ser contrariado por toda a gente, do PR ao PM, passando por porta-vozes de todos os partidos, incluindo o seu; no aniversário do primeiro ano em funções do Governo, o PSD desceu as intenções de voto, o PS ficou igual, assim como o PP e as subidas são do PCP e Bloco de Esquerda; na semana em que registou o pior resultado de sempre de um Presidente da República numa sondagem, Cavaco recebeu uma camisola da selecção com o número 10, das mãos de Cristiano Ronaldo.


Folhear
A melhor publicação editada actualmente por uma instituição cultural em Portugal é o mais que fanzine e quase magazine "Próximo Futuro", espécie de órgão central das programações que António Pinto Ribeiro elabora para a Fundação Gulbenkian. A presente edição, que leva o nº 10, é dedicada ao mundo árabe e às transformações sociais, politicas e criativas que lá decorrem. A fotografia ocupa, felizmente, um lugar importante nesta publicação - como os quadros fotográficos de Majida Khattari, que reproduz. Além disso, a edição inclui informações sobre toda a programação, nas diversas áreas que abrange. Se todos os programas fossem assim, não deitava nada fora e não me cabia tanto papel em casa.



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