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10 de Fevereiro de 2012 às 11:14

A esquina do Rio

Está em discussão pública um novo projecto de Lei do Cinema e Audiovisual.

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Lei do cinema
Está em discussão pública um novo projecto de Lei do Cinema e Audiovisual. O texto retoma algumas das linhas da legislação feita quando José Amaral Lopes era secretário de Estado da Cultura e que depois foi bastante alterado por Mário Vieira de Carvalho, quando foi secretário de Estado, sendo ministra Isabel Pires de Lima, no início do consulado Sócrates. No essencial, as ideias-base que norteiam o actual projecto remontam, portanto, a 2003, praticamente há uma década. Por isso mesmo, quando se lê esta proposta fica-se com a sensação de se estar perante um projecto muito datado no tempo, bastante desactualizado em relação às alterações entretanto ocorridas no sector no audiovisual - isto no que diz respeito à produção -, porque na recolha de taxas e financiamentos a coisa é bastante contemporânea, seguindo o princípio do liberalismo do regime e que é o de ir buscar dinheiro a todo o lado. Como tem sido hábito nos últimos anos, a televisão é a principal (e quase única) financiadora das receitas que o ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual) depois irá distribuir.

As receitas são colectadas à televisão sob a forma de uma taxa sobre a publicidade emitida e de novas taxas sobre os canais e operadores de cabo. Existirá também uma taxa sobre as salas de cinema, mas que será residual. E como se propõe o Estado redistribuir este dinheiro assim angariado? Dando 80% do montante atribuído a financiamentos ao Cinema e 20% à produção para televisão e multimédia. É exactamente esta repartição que não faz sentido. Porquê? Porque qualquer levantamento do sector mostrará que hoje em dia, em todo o mundo, a área estratégica para o desenvolvimento de uma indústria de produção audiovisual é a televisão e não o cinema. É na televisão que se investe mais em produção, é na televisão que se emprega mais gente, que se inova e experimenta, que mais se formam novos actores e técnicos, que se garante o crescimento de um pólo importante das indústrias criativas.

É a produzir para a televisão que se podem desenvolver áreas como o guionismo, a pós-produção, a cenografia ou figurinos, e produzir obras em sectores como documentários e ficção, com garantia de que os trabalhos sejam de facto exibidos e sujeitos ao teste da apreciação dos públicos. Na realidade, é o cinema que hoje em dia pode beneficiar do desenvolvimento de um núcleo forte de produção para televisão, e não o contrário, como aliás algumas recentes longas-metragens portuguesas comprovam.

Um recente debate promovido pela revista "New Yorker" , e disponível "online", demonstra que a televisão está a ocupar o lugar que já foi do cinema em matéria de inovação e estabelecimento de novos padrões na narrativa. Tenho a opinião de que o investimento deve compensar prioritariamente o desenvolvimento da origem do dinheiro, e não penalizá-la. Assim sendo, deveria, no mínimo, fazer-se uma repartição equitativa das receitas recolhidas, ou seja, atribuir financiamentos iguais à produção audiovisual e à produção de cinema. A minha tentação seria até dizer que áreas como telefilmes, séries, documentários, programas infantis e registo audiovisual de obras cénicas deveriam ter direito à maior parte dos financiamentos recolhido nas televisões, sob quaisquer formas, e que fossem reintroduzidos no circuito através de produtores independentes.

Os defensores da concessão de privilégios de financiamento ao cinema estão a querer a manutenção de uma situação que se arrasta há décadas e que produziu filmes de autor (de poucos autores, aliás) mas que nunca conseguiu desenvolver uma indústria nem afirmar uma efectiva presença internacional em termos de exibição fora de festivais. Querer olhar para o Cinema, hoje em dia, como há quatro décadas, é fechar os olhos à profunda alteração da paisagem audiovisual em todo o mundo, é querer negar as evidências e, pior, é querer evitar o desenvolvimento de uma coisa que é crucial para a manutenção da língua falada, que é uma produção audiovisual dinâmica e abundante que possa ser exibida e distribuída em multiplataformas. A manutenção da nossa língua, do português, passa mais pela existência dessa produção audiovisual do que por qualquer acordo ortográfico. Por isso este projecto de Lei do Cinema é conservador, no sentido imobilista e de bloqueio da paisagem audiovisual portuguesa.


Provar
No início da existência do restaurante "Pedro e o Lobo", fiquei com muito má impressão do atendimento e da forma como os clientes eram persuadidos a sentirem-se indesejáveis. Durante anos não voltei a pôr lá os pés até que voz amiga me disse que as coisas tinham mudado. Pois então é verdade - o serviço é agora simpático e na refeição tudo corre bem (a página do restaurante no Facebook até salienta que clientes sem reserva são bem-vindos). Com propostas diferentes ao almoço e ao jantar nos dias da semana, a equipa da cozinha cumpre com distinção. Os mais afoitos podem seguir um menu degustação, mas as propostas da carta à noite são bem conseguidas - desde uma pescada glacê a um rabo de boi. Como o Dia dos Namorados está à porta, vale a pena dizer que a sala é adequada para encontros românticos. Garrafeira simpática, vinhos a copo bem escolhidos. Rua do Salitre 169, telefone 211 933 719.


Ouvir
E então que tal é "Old Ideas", o novo álbum de Leonard Cohen? - Pois não é tão bom como o pintam, mas merece ser ouvido e guardado, o que é mais do que se pode dizer da maior parte da produção discográfica contemporânea. Como Miguel Esteves Cardoso bem observou, há uma canção genial, "Different Sides", por sinal a última do CD, e meia dúzia de boas canções - sendo que, como o disco tem dez temas, há três que não são de todo interessantes: "Show Me The Place", "Banjo" e "Come Healing". A produção tenta engenhosamente tornear a idade da voz de Cohen, com recurso, às vezes em excesso, a coros femininos. Mas vale a pena reter a maioria das canções, os poemas e a inteligência deste disco. Cohen tem 77 anos e manter esta dose de diversidade criativa é obra.


Arco da velha

Agentes da PSP de Lisboa estão a ser investigados, suspeitos de terem criado empresas para lavarem dinheiro associado ao tráfico de droga.


Semanada
Famílias que deixaram de pagar crédito da casa dispararam 450% em 2011 117 autarcas em fim de mandato não excluem candidatar-se a outra câmara para continuarem na actividade de presidente da câmara l passaram 20 anos sobre o Tratado de Maastricht, que criou o euro a Europa está a ver-se grega para manter o euro o primeiro-ministro anunciou que não haveria tolerância de ponto no Carnaval e foi rapidamente contrariado por Rui Rio, António Costa e Alberto João Jardim, entre outros Pedro Passos Coelho defendeu que "devemos persistir, ser exigentes, não sermos piegas e ter pena dos alunos, coitadinhos, que sofrem tanto para aprender".


Ler
Deixei de ver a edição em papel da "Wired" e passei a comprar e a ler a edição para iPad. Ouso dizer que com a remodelação efectuada em Janeiro, a "Wired" deu um salto em frente e posicionou-se como uma referência absoluta nas novas formas de edição electrónica. Já não faz sentido, no caso da "Wired", ler a edição em papel - os conteúdos criados para a edição em iPad são tão bons que já seria impensável ignorá-los. E tudo isto mais barato, menos de metade do preço do que custa a edição em papel em Portugal.


Ver
Duas sugestões absolutamente gratuitas para estes tempos de crise: no espaço BES Arte & Finança, no Marquês do Pombal, a exposição "Políptico", que faz uma evocação fotográfica dos painéis de São Vicente. Destaque para os retratos de Pierre Gonnord, para as paisagens deformadas de Cristina Lucas, para a visão de José Maçãs de Carvalho e para a série "A Conspiração das Pintoras Portuguesas", de Carmel Garcia; a segunda exposição está na nova galeria Bloco 103, na Rua Rodrigo da Fonseca 103 B, frente ao Hotel Ritz, e apresenta trabalhos de Rosa Reis (sobre o edifício da Fundação Champalimaud) e de Susana Paiva, que procura instantes decisivos a partir de paisagens urbanas, com uma notável utilização da luz e da cor.



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