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09 de Dezembro de 2011 às 11:46

A esquina do Rio

Esta semana o "Correio da Manhã" relatou uma curiosa intervenção pública de José Sócrates, numa Universidade, em Paris, onde defendeu a possibilidade de Portugal não pagar a sua dívida.

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Telecomando
Esta semana o "Correio da Manhã" relatou uma curiosa intervenção pública de José Sócrates, numa Universidade, em Paris, onde defendeu a possibilidade de Portugal não pagar a sua dívida. "Pagar a dívida de um pequeno país como Portugal é uma ideia de criança, as dívidas dos Estados são, por definição, eternas" - cita o jornal. Imagino a vida de José Sócrates enquanto estuda Ciência Política e profere conferências destas sobre a sua experiência como primeiro-ministro para estudantes latino-americanos que, no fim, segundo o mesmo jornal, o aplaudiram. Não me custa imaginá-lo a passear nos Campos Elíseos, de telemóvel em punho, a fazer telecomando político para Lisboa, falando com José Lello, ou Carlos Zorrinho, ou Francisco Assis. Não custa imaginar o que dirá de António José Seguro, não custa imaginar que conversas terá tido nas vésperas do turbilhão que passou no Grupo Parlamentar do PS aquando da votação do Orçamento de Estado. O exilado político mais célebre de Portugal deve sorrir ao imaginar que as tecnologias que sempre o encantaram permitem que continue a ter influência no Largo do Rato, mesmo estando mais longe do que quando habitava na Rua Braamcamp.


Semanada
Esta semana só títulos tirados jornais diários: Cátia Palhinha é evangélica e lê a Bíblia em casa; Craque do Benfica namora à beira rio; Carla Salgueiro perdeu peso a dançar flamenco; Irina Shayk aquece o Natal dos portugueses; PSP precisaria de 17 milhões para pagar todas as dívidas; Jardim promete rigor financeiro; enriquecimento ilícito pode ser crime para todos; Portugal é líder europeu no fosso entre ricos e pobres; Bárbara Guimarães preparada para o frio; Obama assume paixoneta antiga por Meryl Streep.


Arco da velha
O presidente da Câmara de Amares construiu, para si próprio, uma casa de consideráveis dimensões, numa zona de reserva agrícola nacional, em violação de toda a legislação existente, mas confessa-se tranquilo porque a revisão do PDM, da autarquia a que preside, regularizará a situação.


Mudar
No período em que vivemos fico surpreendido cada vez que percebo que nas nossas escolas - nomeadamente nas universidades - se dedica muito pouca atenção à necessidade de preparar as pessoas para trabalharem e criarem alguma coisa, e não apenas para irem à procura de um emprego com um certificado na mão. Ainda vou a meio da biografia de Steve Jobs escrita por Walter Isaacson mas já deu para perceber que, mesmo nos anos 60, as universidades americanas inculcavam um espírito de desafio aos seus alunos que os levava a arriscar - em experiências ou em negócios próprios. Aqui há tempos fui convidado para falar numa escola superior, no âmbito da minha actividade, planeamento estratégico de publicidade, e fiquei espantado como alunos já no fim do curso ignoravam coisas básicas do dia a dia de uma empresa, na facturação ou nas cobranças - como dizia um amigo meu, esta malta nem sequer sabe o que é o IVA e depois não conseguem fazer nada direito. Isto não é uma coisa menor - não estão preparados para, por exemplo, iniciarem uma actividade própria. Com a enorme mudança a que estamos a assistir, com o fim dos empregos garantidos, o que é preciso é estimular a capacidade de empreender, desenvolver ideias, arriscar, avançar. Um livro bem recente, "Mudar de Vida", conta as histórias de 17 pessoas, já com anos de experiência, que na actual conjuntura ficaram sem trabalho de um momento para o outro ou quiseram fazer algo de diferente.

São 17 histórias de sucesso, de pessoas que arregaçaram as mangas e procuraram resolver os problemas - não ficaram à espera que ninguém os resolvesse por elas. É isto que nos falta, enquanto país - e sobretudo aos mais novos: procurar soluções em vez de ficar sentado à espera que elas caiam ao colo. Vou acabar com um exemplo, que pode ser aplicado ao sector da Cultura. Há poucos dias, recebi um e-mail a anunciar que os túneis perto do teatro Old Vic, em Londres, vão estar neste Natal com animação - desde vendedores diversos até petiscos. Tudo se passa ao ar livre, com temperaturas bem mais baixas do que em Lisboa, mas as pessoas procuram fornecer motivos para atrair públicos e surpreendê-los, angariando receitas suplementares em vez de pedir mais subsídios. Da mesma forma, alguns museus, em várias cidades europeias, sugerem como prenda de Natal cartões-assinatura de entrada nas suas exposições durante um período determinado - é uma prenda simpática e útil. Têm iniciativa, procuram clientes, dão sugestões, em vez de lamuriarem ou exigirem mais apoios. Há uns anos que aprenderam como é importante mudar de vida.


Ouvir
Hoje vou socorrer-me de uma nota do blogue de Pedro Rolo Duarte, a propósito do novo disco de Rodrigo Leão, "A Montanha Mágica": "Já lí criticas absurdas sobre o Rodrigo Leão "refém" do estilo que criou - como se isso não fosse o melhor que um compositor pode ter e ser, ele próprio no universo musical que criou para si". Também já eu ouvi estes reparos e admito até que nos primeiros instantes pensei que a coisa estava muito igual. Mas depois fui descobrindo os momentos de encanto e, sobretudo, tenho tido o maior gozo do mundo em ouvir o disco vezes sem fim - anda comigo sempre no iPhone, ouço-o literalmente por todo o lado. Confesso que quando o ia comprar numa discoteca e percebi que custava entre 17 e 20 euros, dependendo dos sítios, e tinha um DVD que não me interessava para nada, resolvi o problema no iTunes por menos de 10 euros e tive o disco no minuto. Gosto cada vez mais de o ouvir - e é curioso que Rodrigo Leão tenha voltado a tocar baixo, como fazia nos Sétima Legião. Maioritariamente instrumental, com arranjos mais simples, o CD tem três temas cantados - um pelo brasileiro Thiago Pethit, outro pelo australiano Scott Matthew e finalmente, algo inesperadamente, o terceiro pelo autor da capa do disco, o ilustrador Miguel Filipe, e que acaba por ser uma boa surpresa. E assim se vê que a aparente igualdade é afinal feita de muitas diferenças.


Ler
Há muito tempo que não me passava um almanaque pelas mãos, de maneira que fiquei contente com uma publicação intitulada XXI e que é uma espécie de almanaque dos tempos actuais - ou um resumo do estado da nação, se quiserem. Da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos, com edição de António Barreto, direcção de José Manuel Fernandes e colaborações de nomes como Ricardo Cabral, Pedro Santos Guerreiro, António Pedro Ferreira, Jorge Calado e Jorge Barreto Xavier, entre outros, a publicação tem o título genérico de "Dias Inquietos" e é um testemunho da época conturbada que vivemos. Textos de referência (destaco os sobre a banca, sobre a dívida, sobre tribunais, sobre a cultura e sobre a criação), boa fotografia (destaco o portfolio sobre os portugueses), boa ilustração e boa paginação (de Jorge Silva). Só tenho pena que o formato seja tão pouco dado a guardar uma edição que merece ser preservada. Podia ser mais pequena em altura, assim quase como um livro, que encaixasse na estante e se fosse guardando ao longo dos anos, nas sucessivas edições. Espero que o projecto continue, que eu ando deliciado a ler as suas 200 páginas. Custa 5 euros e está nas bancas de jornais.


Ver
Com curadoria do britânico Peter Cherry, "A Perspectiva das Coisas" dedica-se à natureza morta na Europa através de diversos artistas, a partir de obras produzidas entre 1840 e 1955, e estará na Fundação Gulbenkian até 8 de Janeiro. Antes de irem ver a exposição, espreitem o magnífico mini-documentário realizado por Filipe Araújo e que está no You Tube. Basta pesquisar "Documentário sobre a exposição A Natureza-Morta na Europa" e encontram-no logo - tem quase oito minutos e é magnífico. E a exposição ainda sabe melhor se o tiverem visto antes.


Provar
Vou fazer uma confissão: sou fã de caracóis - daqueles que se cozem com ervas e nalgumas localidades são conhecidos por "vagarosos", mas também dos bolos - a massa suave, enrolada de forma concêntrica, com pequenos pedaços de fruta cristalizada pelo meio, de preferência levemente tostada. Até prova em contrário, acho que os caracóis (bolos) da Versailles, na Avenida da República, são os melhores que há. Alguém devia lá ter levado o "chef" Anthony Bourdain, que nos últimos dias andou por Lisboa a filmar petisquices diversas - ainda para mais o prédio da Versailles está restaurado de novo em toda a sua grandeza, mostrando sem vergonhas como é um dos mais bonitos edifícios de Lisboa. E com o melhor caracol… Acho que tinha ficado bem no programa televisão que Bourdain cá veio filmar.




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