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06 de Agosto de 2010 às 12:08

A esquina do Rio

Em pleno ano das comemorações do centenário da regime republicano devo aqui agradecer ao procurador-geral Pinto Monteiro o facto de ter demonstrado cabalmente que, afinal, somos uma República das Bananas.

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BANANAS - Em pleno ano das comemorações do centenário da regime republicano devo aqui agradecer ao Procurador-Geral Pinto Monteiro o facto de ter demonstrado cabalmente que, afinal, somos uma República das Bananas. Agora, apropriadamente, pode dizer-se que vivemos sem rei nem roque. A entrevista que o Procurador-Geral deu esta semana é elucidativa da degeneração do sistema judicial – na realidade depois desta entrevista, e sem exagerar, percebe-se que estamos perigosamente em vias de deixar de ser um Estado de Direito.
Os problemas na Procuradoria vêm de longe e são anteriores a Pinto Monteiro. Tudo o que ele descreve na referida entrevista pode ser repescado ao longo dos anos – as guerras internas de poder e de protagonismo, as fugas selectivas de informação, os conflitos com a Polícia Judiciária, a politização da justiça e a judicialização da política. Na realidade a Procuradoria tem servido para tudo isto, tem sido uma espécie de viveiro de atentados ao Estado de Direito, de desrespeito pelos cidadãos. Como se pode resumir o que tem acontecido ao longo dos anos? - investigações longuíssimas, muitas vezes espalhafatosas demais, que numa percentagem acima do que é aceitável resultam em quase nada. O efeito disto é simples: descredibiliza a justiça, faz os cidadãos ficarem mais desconfiados e torna evidente que por detrás de tudo isto há jogos de poder e manobras políticas. Arrisco-me a dizer que este caso ainda pode vir a abrir uma crise política de contornos e consequências imprevisíveis. Num momento em que todos os actores do regime tinham decidido entrar em pausa na sucessão de crisezinhas que desde as últimas eleições marcam a política portuguesa, esta caso traz para primeiro plano a absoluta falência do sistema judicial e as interferências da política na magistratura e vice-versa. O Primeiro Ministro veio-se gabar do fim do processo Freeport. Falou cedo demais, como agora se comprova.

CLIENTE – Ser cliente em Portugal, de empresas em regime prático de monopólio, é uma grande maçada. Nesta semana tive ocasião de sentir a atenção que a EDP dedica aos seus estimados clientes. Por volta das cinco e meia da tarde fiquei sem energia eléctrica em casa. Do número de atendimento das avarias disseram-me que existia um corte de energia naquela zona, devido a um problema num posto de transformação, onde já estava um piquete. Afirmaram que cerca das 19h00 contavam ter a avaria resolvida. Na realidade nada disso aconteceu e, a partir de cerca das 21h30, já noite portanto, tornou-se impossível contactar o número de informações sobre avarias – um número que é anunciado estar disponível 24 horas por dia. Fiz numerosas tentativas que esbarraram sempre numa gravação do género «este número não pode de momento ser contactado». Já passava das 23h30 quando a energia eléctrica finalmente voltou. A avaria durou sensivelmente seis horas, um terço das quais sem possibilidade de obter informação, três vezes mais que o tempo inicial estimado de reparação. Tweettei diversas vezes sobre o assunto e, um dos comentários de resposta dizia isto: o grande problema é que uma boa parte dos postos de transformação já devia ter sido substituído face aos aumentos de consumo, só que o plano de renovação é tímido para não influenciar negativamente os resultados da empresa. Pois, assim a opção é prejudicar os consumidores… Cá para mim o regulador do sector também devia analisar estas questões – forma de atender os clientes, estado de conservação dos equipamentos, exigências de cumprimento de horários e dos deveres de fornecedor.

CONTEÚDOS – Todas as empresas de media que se queixam de quebras em publicidade deviam olhar com cuidado para os conteúdos que estão a produzir. Todas as empresas que editam imprensa deviam pensar que os seus clientes são de facto, em primeiro lugar, os leitores e assinantes e não os anunciantes. A frase não é minha, é de Charles Townsend, CEO da Condé Nast, um dos maiores editores americanos de revistas que explicava como a missão do novo presidente da empresa, Robert Sauerberg, é fazer com que a empresa dependa menos das receitas de publicidade e mais das vendas de banca, das assinaturas digitais e, em geral, da venda de conteúdos. Os leitores são a razão de ser das publicações. Parece óbvio mas às vezes não se liga muito ao assunto.

EVITAR – O restaurante do Clube de Jornalistas dispõe de um agradável jardim , protegido do vento, que é o ideal para jantares nestas noites quentes de Lisboa. Animado e bem disposto avancei rumo ao local, de que me diziam dispor agora de uma cozinha interessante. De facto a cozinha é interessante, embora não esplendorosa. Se o balanço da noite se medisse penas pelo local e pela confecção culinária o resultado seria nota 3 num máximo de 5 e a coisa teria sido simpática. O problema é que o serviço de mesa é cada vez mais parte importante de uma refeição e esse, ali deixa muito a desejar. Comecei a suspeitar que as coisas não iriam correr bem quando percebi que o vinho não era deixado na mesa, mas sim colocado a uma considerável distância – esta finura só é possível quando existem empregados muito atentos e experientes, senão mais vale deixar o vinho convenientemente colocado junto aos comensais. A culpa não será dos jovens, certamente estagiários – os copos não eram adequados ao vinho em causa, uma nova garrafa entretanto pedida era diferente da original e encontrava-se a uma temperatura impossível. Tudo isto poderia evitar-se se os responsáveis do restaurante estivessem atentos à sala e às operações e instruíssem os estagiários. De forma que aquilo que prometia ser uma agradável noite de conversa com amigos ficou estragada pelo mau serviço. Como agora tweeto quando me aborreço, logo recebi várias mensagens a confirmar que naquele local o serviço, de facto, é para esquecer. É uma pena – o cozinheiro merecia melhor sorte. Clube de Jornalistas, Ruya das Trinas 129, telef 213977138.

LER – Por perfeito acaso descobri uma revista sobre música que é um verdadeiro achado. Chama-se «The Believer», uma publicação originária de São Francisco. Na edição de Julho/Agosto estava incluindo um CD com uma compilação de novas bandas, desde os sul africanos BLK JKS, até rappers como Spree Wilson ou exercícios em torno da soul, dos Tendaberry e até M.I.A, por estes dias no Sudoeste. O disco vale mesmo a pena e só por si justifica a compra da revista – que por cá está á venda a 17,50€. Além do disco, outros motivos de interesse: um belo artigo sobre os diários de Nina Simone com algumas revelações curiosas, uma entrevista com Robert Forster, ex-Go-Betweens, vários artigos sobre cultura urbana e uma coluna de Nick Hornby com sugestões de leitura. Podem ter uma ideia digital da coisa em
www.believermag.com e entretanto já reparei que a revista apareceu à venda noutros pontos seleccionados especializados em revistas estrangeiras.

VER – Vale a pena descobrir os cruzamentos de Andy Warhol com a imagem fotoigrafada e filmada e, em particular, com a televisão – desde filmes que ele produziu e realizou, até um episódio da série «Love Boat» em que foi actor, passando por um videclip dos Cars ou a sua passagem pelo histórico programa «Saturday Night Live». A exposição está bem montada, é ao mesmo tempo divertida e informativa e, no fundo mostra como ele era um artista do seu tempo. Um grande e descomplexado artista pop. «Warhol TV», até 14 de Novembro, no Museu Berardo, CCB.

ARCO DA VELHA – O PSD caiu cerca de dez por cento em duas recentes sondagens. Será que os líderes do partido vão começar a fazer propostas em função dos resultados de estudos de opinião?

BACK TO BASICS – As sondagens são uma colecção de estatísticas que mostram como as pessoas realmente pensam – Stephen Colbert

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