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23 de Abril de 2010 às 11:41

A esquina do Rio

Quando António Guterres chegou ao Governo o peso da nossa dívida pouco passava dos 10% do PIB. Agora anda nos 120%. 15 anos de estímulo do consumo, de projectos megalómanos do Estado, de negócios de interesse duvidoso para os...

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PORTUGAL - Quando António Guterres chegou ao Governo o peso da nossa dívida pouco passava dos 10% do PIB. Agora anda nos 120%. 15 anos de estímulo do consumo, de projectos megalómanos do Estado, de negócios de interesse duvidoso para os contribuintes, ajudaram a chegar onde estamos. Cavaco Silva deve saber bem estes números - era primeiro-ministro até pouco tempo antes de Guterres se sentar em S. Bento e, com a sua formação e atenção, certamente não deixou de olhar para os números da nação. O seu silêncio sobre o que se passa, a forma como se esquiva a tomar atitudes neste contexto tão difícil, dão muito que pensar. Está ele mais interessado em ser reeleito sem grandes ondas do que em encontrar uma solução para o desgoverno, que agora é já bem visível? Era bom que em relação à situação do país Cavaco exibisse a mesma determinação e energia de que deu mostras quando resolveu atravessar a Europa de carro para contornar a paragem forçada dos aviões por causa das cinzas vulcânicas. Nunca lhe terá passado pela cabeça a necessidade de um Governo de Salvação Nacional?

EUROPA - A minha geração arrisca-se a sair de cena confrontada pela falência política da ideia da União Europeia, que foi em boa parte a sua causa central e que condicionou toda a acção política nos últimos 30 anos. O euro, como nos últimos dias se tornou patente, está a ser ameaçado e Portugal tornou-se no elo mais fraco da cadeia que especuladores e o sistema financeiro norte-americano, com a implícita concordância de Obama, estão a querer romper para projectar de novo o dólar e voltar a posicionar os Estados Unidos como a plataforma que permitirá servir e favorecer a nova ordem que se desenha, entre a Índia, a China, o Brasil e, talvez, ainda, a Rússia. Esta guerra dólar-euro pode liquidar a ideia política da Europa e fazer entrar o nosso continente numa fase de decadência que, a acontecer, se adivinha prolongada. O mundo da prosperidade europeia não vai voltar tão cedo e os senhores da Europa bem podem meter no saco ideias peregrinas como o subsídio às viagens de jovens e idosos, inacreditavelmente anunciado esta semana. O que está para vir não vai ser bonito de se ver.

MENTIRA - É espantoso que nesta situação a mentira na política continue a ser usada com desfaçatez total. Infelizmente, a sucessão de casos surgidos nos últimos tempos confirma que cada vez mais corre-se o risco de a política ser sinónimo de mentira; para pegar apenas em temas recentes isto é válido no caso da TVI, é válido no caso do contrato de Figo com o Tagus Park, é válido nas variações das contas de Lisboa apresentadas por António Costa, nos números do défice apresentados pelo Governo, nas negociatas de financiamento de partidos. A mentira tornou-se habitual no dia-a-dia de um sem número de gestos e declarações. Agentes políticos dos mais diversos quadrantes mentem sem pudor como se mentir fosse o normal. A mentira instalou-se na vida política, tornou-se banal. O problema é que quase já nem gera indignação. E quando isto acontece, a política apodrece e os cidadãos afastam-se cada vez mais dela - abstêm-se deste jogo de mentiras e conveniências. Será impossível fazer política sem fazer da mentira um hábito?

TELEVISÃO - Anunciada ainda há dois anos como o remédio milagreiro para as estações, a Televisão Digital Terrestre corre o risco de ser um grande e caríssimo embuste. O progresso tecnológico não esteve à espera das demoradas decisões de reguladores, das guerrinhas entre grupos de media nem de concursos públicos várias vezes repetidos. A Anacom acaba por reconhecer isto mesmo ao dizer, esta semana, que com 2,4 milhões de lares que já são assinantes da tv paga (e o número vai ainda crescer um bom bocado...) apenas 1,5 milhões de lares deverão ser afectados pelo desligar do actual sistema analógico dos canais abertos e pela passagem à TDT. Quando em meados de 2012 a TDT estiver pronta a ser instalada vai ser curioso ver quantos restam para a utilizar. Eu aposto que menos de um milhão.

ALQUEVA - Esta Primavera o Alentejo promete ser uma deliciosa surpresa. As terras estão cobertas de um tapete verde, as flores silvestres começam a saltar e as primeiras papoilas já se vêem. A barragem do Alqueva transformou toda a paisagem e agora do alto de Monsaraz vê-se como a planície alentejana acolheu extensas manchas de água, numa paisagem completamente inesperada. O meu último fim-de-semana foi passado ali perto, próximo de Portel, na Herdade do Sobroso, uma Casa de Campo instalada numa herdade perto do Guadiana e no meio de uma vinha de 50 hectares que produz belos vinhos - servidos nas refeições da casa - por mim destaco o rosé e o tinto de 2006. A cozinheira, D. Josefa, tem mão sábia nos temperos e na confecção, e oferece aos hóspedes uma sucessão de iguarias que tornam um fim-de-semana no Sobroso uma experiência dos melhores petiscos da cozinha tradicional alentejana. A Casa de Campo oferece dez quartos, fica perto da marina de Amieira, no Alqueva, e tem à sua frente a Sofia e o Filipe, ela a comandar o acolhimento e ele, enólogo, a organizar as vinhas. Todas as informações em www.herdadedosobroso.pt .

AGENDA - Se puderem não percam Miguel Guilherme a ler textos de humor, de autores portugueses, todas as terças e quartas, no Maxim, Praça da Alegria, pelas 22h. Fica até Junho. Este fim-de-semana inauguram em Coimbra, no âmbito do 30º aniversário dos Encontros de Fotografia, uma exposição de Jean François Pisson, intitulada "Dessine Moi Une Voyage" e outra de Joana Bastos, "A$T"; Na Galeria Ratton, novas obras de Joana Rosa, sob o título "A Bela Acordada"; No Algarve, em Estói, na casa rural da Villa Romana de Milreu, a exposição "Pássaro Em Terra" de René Bertholo; E finalmente em Lisboa a próxima semana é tempo do festival de cinema documental Indie, sigam a programação em www.indielisboa.com.

OUVIR - Este artigo foi feito ao som de "Orchestrion", a mais recente experiência de Pat Metheny, que utilizou máquinas cuja origem remonta ao século XVIII para criar a sua música, obviamente actualizadas e complementadas com tecnologia digital contemporânea. Podem considerar que Metheny toca a solo com uma orquestra de robôs, mas isto é simplificar a coisa. O resultado é surpreendente, misturando a música popular com arranjos sofisticados e desenhos rítmicos inesperados. Metheny no seu melhor. CD Nonesuch, via Amazon UK.

BACK TO BASICS - "A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano", Voltaire



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