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Mais uma mulher ou uma árvore? Cuidados a ter no mundo ESG

É possível que o próximo passo seja pensar em sentido inverso: mais uma árvore plantada poderá compensar menos uma mulher num board? E por aí fora... O mundo ESG analisado assim, talvez não seja tão fabuloso quanto isso...

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Nunca na minha vida tinha olhado para uma árvore como quem olha para um rival... até muito recentemente. Se aquilo que vou contar nesta crónica pode ter uma vertente algo cómica, também encerra uma mensagem séria para o futuro do mundo empresarial.

Dei por mim há umas semanas a assistir a uma apresentação internacional de estudantes sobre uma conhecida empresa, com uma detalhada avaliação, a que se seguiu uma animada sessão de Q&A, que me conseguiu surpreender. A ponto de querer aqui partilhar. A determinada altura, questionados sobre a estratégia da empresa em temas de sustentabilidade, o grupo de jovens analistas sugeriu algo como o facto de terem mais uma mulher no board ser positivo para os índices de governance, o que, de certa forma, compensaria uma política menos ativa em questões ambientais.

Hummm, dá que pensar: no fabuloso mundo ESG (Environment, Social, Governance), um E pior pode ser compensado por um G melhor? É possível que o próximo passo seja pensar em sentido inverso: mais uma árvore plantada poderá compensar menos uma mulher num board? E por aí fora... O mundo ESG analisado assim, talvez não seja tão fabuloso quanto isso...

Felizmente, esta sigla ESG passou a estar na ordem do dia nos últimos tempos e tem-se vindo a popularizar no meio empresarial. Acredito que assim continuará. Começando pelo início. Quando se fala em investimentos ESG encontramos definições como “é a consideração de fatores ambientais, sociais e de governance, a par de fatores financeiros, no processo de decisão de investimentos” (Remy Briand, managing director, MSCI ESG Research - Morgan Stanley Capital International). A intenção da atual tendência ESG é a melhor: basicamente, separar o trigo do joio, identificar investimentos com boa governance, responsáveis do ponto de vista social e ambientalmente sustentáveis.

No fundo, juntaram-se numa só sigla três “elementos do bem” que podem não ser diretamente considerados em análises de investimentos mais tradicionais. Temos de ser, porém, cuidadosos na análise de investimentos ESG. Porque, na verdade, estamos a falar de 3 áreas diferentes que se interligam. E o que supostamente liga as três letras (E, S, G) é a conjunção “e”, não a conjunção “ou”.

É importante podermos contar já hoje com métricas de desempenho E, S e G, bem como de desempenho ESG. Mas teremos sempre de ser muito cuidadosos e, essencialmente, inteligentes na apreciação da bondade da empresa em causa na sua gestão como um todo – a boa cidadania empresarial tem de ser analisada por partes, mas também globalmente.

Se o elemento S terá mais a ver com a disponibilidade de uma organização em cumprir boas práticas para com a sociedade (por exemplo, na aplicação generosa de leis laborais) e os elementos G com as práticas de transparência, comunicação, diversidade ou inclusão, já o elemento E implica uma subida de fasquia na atividade em termos ambientais, em particular se a legislação ou regulação nessa matéria ainda estiver aquém das necessidades do planeta. Vivemos, de facto, tempos difíceis em que estabelecer prioridades é essencial. Há, pelo menos, uma maior consciência coletiva da necessidade de atacar em diversas frentes... cá estamos para isso mesmo – nas empresas e nas universidades, para melhor diagnosticarmos e resolvermos problemas, com E com S e com G, e com todas as outras letras do abecedário que forem precisas.

Voltando ao episódio que relatei no início desta crónica: quando, um dia, deixar de ser presidente do ISEG, se for sucedida por um homem, espero que, no mínimo, ele plante uma árvore. E, já agora, que a sua gestão seja impecável.

P.S. – Para saber mais sobre investimentos ESG, sugiro a consulta do site do BCSD Portugal (www.bcsdportugal.org), que desenvolve também algumas formações sobre estes temas. No ISEG Executive Education (www.isegexecutive.education) temos também em junho nova edição, de luxo, do curso executivo pioneiro em Portugal Sustainable Finance: Green and Climate Finance. É um orgulho, este programa.

 

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