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30 de Novembro de 2012 às 00:01

Cada um por si

Como é que se redefine as funções do Estado, Celmira? Como se gera emprego feminino, Raquel? Como se alimenta pobres, Henrique? Como não se alimenta a pobreza, Miguel? Lasalete, como se gere a classe média que deixou de o ser?

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Celmira Macedo (Leque), Raquel Santiago (Marias), Henrique Joaquim (Vida e Paz), Miguel Neves (Albergues Nocturnos) e Lasalete Piedade (Coração da Cidade) são algumas das pessoas com quem falámos nesta edição especial. Eles são empreendedores sociais. Têm muito a ensinar. Sobre as suas organizações. Sobre uma atitude.

Uma sociedade civil fraca vive numa cilada: pendura as suas responsabilidades no Estado ao mesmo tempo que é incapaz de exigir que ele saiba exercê-las melhor. Mas na sociedade civil fraca que somos há forças que contrariam esse vício, o da delegação das respostas e até das próprias perguntas. Olhemos além do Estado. Olhemos além das instituições consagradas e (justamente) já muito difundidas.

Nos movimentos bruscos e brutos que a sociedade portuguesa vive, a assistência à pobreza é uma "função do Estado" irremovível. Mas há também uma obrigação das empresas. Não é marketing. É Obrigação. Dever. Responsabilidade. E é investimento.

É preciso dar sacos cheios na campanha de Natal do Banco Alimentar Contra a Fome - dar o peixe. Mas é preciso também apoiar as instituições que trabalham para tirar pessoas da pobreza - dar a cana. Há projectos espantosos para quebrar o ciclo de pobreza. Quer ver?

Como se combate a auto-exclusão de crianças na escola? Com Beethoven. É o que faz a Orquestra Geração, que inventou um modelo de integração através da intervenção artística. Não é um concurso de talentos, é uma forma de agir comportamental que levou mais de 130 crianças a ir às aulas. O mesmo faz a Fundação Benfica, que não se limita a pôr miúdos desintegrados a dar chutos numa bola: integra professores, premeia a escolaridade subsequente. E tem resultados.

Quem contrata alguém com dentes podres? Parece uma pergunta estúpida. A resposta é chocante: um inquérito a directores de Recursos Humanos mostrou que poucos o fariam. É por isso que os Dentistas do Bem, em que 400 dentistas voluntários dão tratamento gratuito até à idade adulta, resolvem um problema de... empregabilidade. São já mais de mil as crianças em tratamento. E 400 heróis. Como heróis há entre os Doutores Palhaços e na Fundação Gil, que intervêm no campo da saúde infantil e na humanização do espaço hospitalar.

As melhores invenções sociais não estão em tecnologias revolucionárias, mas em recursos já existentes dotados de organização e de liderança. Sim, isso mesmo: gestão. Economia. Empreendedorismo. Investimento. Social.

Há coisas a mudar nesta sociedade que quer deixar de ser fraca. A própria forma como a comunicação social trata o assunto mostra uma cultura jornalística diferente. Não basta comovermo-nos, é preciso movermo-nos. É o caso, hoje, da parceria editorial entre o Negócios e Antena 1. Ou da revista Visão, que há uma semana publicou uma edição solidária. Ou do Jornal de Notícias, que este fim-de-semana dedicará a sua revista a empreendedores sociais.

Quando é que estes comportamentos se tornam endógenos? Aqui entra o Estado e as empresas. É preciso que o sector empresarial perceba que esta é a forma de intervenção que faz sentido, investindo dinheiro, mas também gestão, organização e inovação. E o Estado deve transportar estas boas práticas para as políticas públicas. Não custa mais dinheiro. Mas dá mais retorno.

A sociedade evolui remediando, mas também quebrando ciclos de pobreza. O Pedro e o Vítor têm um papel grande nisso, claro. Mas a Celmira, a Raquel, o Henrique, o Miguel e a Lasalete também. Pode dar-se e pode fazer-se. E isso também parte de nós. É parte de nós. Cada um de nós é parte da resposta. Cada por um si.

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