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29 de Janeiro de 2021 às 12:16

Sem saúde não há economia

A reconstrução da confiança dos portugueses no poder político e seus protagonistas, a recuperação da economia e a reconstrução do país dependem de uma única coisa

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Back to basics
"Há quem diga que o tempo muda as coisas, mas na realidade somos nós que temos de as fazer mudar."
Andy Warhol

Sem saúde não há economia
A reconstrução da confiança dos portugueses no poder político e seus protagonistas, a recuperação da economia e a reconstrução do país dependem de uma única coisa: da forma como se enfrentar daqui para a frente a pandemia, sem hesitações e medidas contraditórias. Sem resolvermos a saúde não se resolve o resto, isso é cada vez mais certo. Instala-se a dúvida: será o Ministério da Saúde o responsável, ou será a irresponsabilidade do primeiro-ministro a abrir e fechar a torneira e a tomar medidas contraditórias, como no Natal, que ajuda à situação em que estamos? Percebe-se que o caos vem dos ziguezagues em matéria de medidas de confinamento, mas, na realidade, apesar de múltiplos avisos, o sistema não funcionou, pese embora o esforço e dedicação dos profissionais de saúde. A culpa não é deles, é de quem andou a brincar ao gato e ao rato com um vírus. O país está numa situação terrível. Todos os que tomaram decisões - nomeadamente Costa e Marcelo - têm culpas neste cartório. Será que Marcelo, que tem nas mãos a pior situação de pandemia, vai acabar o seu segundo mandato como Presidente do país mais pobre da União Europeia? Todos gostaríamos que fosse de outra maneira. Marcelo ganhou o respeito e admiração dos eleitores, gerindo de forma hábil a proximidade dos afectos com a distância institucional. Mas, mesmo sem poderes legislativos, tem de fazer melhor - com a sua influência na saúde, na vacinação, exercendo vigilância. Mas também na justiça, que se degrada cada vez mais, e no estado da educação, onde os justos pagam pelos pecadores, porque o ministro do sector também ficou sentado sem fazer o que prometera. É esta situação de Portugal ser líder nos "rankings" da pobreza e da covid-19 na Europa que torna o terreno fértil para os populismos. Num país mais igual, com menos diferenças regionais e menos assimetrias, as coisas seriam diferentes. O regime andou a semear que alguém dissesse "chega". Não sei se os protagonistas do crime são indicados e se têm capacidade para alterar o estado das coisas. Há meio milhão de pessoas zangadas com o sistema. Não procurem o êxito de Ventura nos eleitores do PC, procurem no que sucessivos Governos, este incluído, fizeram ao longo dos anos, nomeadamente no abandono do interior e na ausência de reformas estruturais.

Semanada

n Continuam por vacinar 90% dos médicos de hospitais privados n um estudo divulgado esta semana indica que, na União Europeia, a pandemia castigou mais as indústrias culturais e criativas do que o turismo ou o sector automóvel n Portugal é um dos quatro únicos países da União Europeia onde ainda não existe rede 5G; em Portugal, nos últimos 11 anos, os preços nas telecomunicações cresceram 6,5%, mas caíram 10,8% na UE; as mortes covid-19 em Janeiro são quase tantas como as ocorridas no total entre Março e Novembro n o número de desempregados voltou a ultrapassar a fasquia dos 400 mil; no Sul do país, o desemprego aumentou mais de 63% face a fevereiro de 2020 e a seguir na lista surge a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde o desemprego se agravou em mais de 35% n mais de 22 mil empresas pediram acesso ao lay-off em Janeiro n André Ventura ficou em segundo lugar em 203 dos 308 concelhos do país e em 12 dos 20 distritos n ficou em segundo lugar onde há elevado défice demográfico, em territórios abandonados, com populações envelhecidas n ficou em segundo lugar onde existe mais 20% de população estrangeira n ficou em segundo lugar nos concelhos que tiveram no início de Janeiro mais do dobro dos casos de novas infecções de covid-19 do que a média do país n são os concelhos onde o desemprego mais cresce e onde existe maior frustração pela gestão da pandemia. 

Dixit
"A esquerda foi a grande derrotada e a direita não conseguiu ganhar"
António Barreto

MAAT virtual
Ao fim de sete meses, "Beeline", a intervenção arquitectónica encomendada pelo MAAT ao estúdio SO - IL, sediado em Nova Iorque, está agora obviamente encerrada. Mas durante estes dias de confinamento existem alguns conteúdos virtuais para desfrutar: ouvir as palavras dos arquitectos sobre o papel da prática do design efémero e a missão da arquitectura; explorar a instalação e as exposições que a acompanham em textos e imagens por escritores e fotógrafos de renome, e recordar eventos que acolheu como parte do "maat Mode" 2020, um programa público, participativo e experimental, que apresentou 86 projectos, envolvendo mais de 220 participantes internacionais e instituições parceiras. Pode ter uma ideia de tudo isto no canal do MAAT no YouTube e, se visitar o seu site, pode também ver as fotos que Iwan Baan fez de "Beeline", assim como textos sobre o trabalho de intervenção do estúdio SO-IlL.

Sobre a igualdade
Quando pego num livro tenho sempre a tentação de ver a primeira frase e, às vezes, a última. Neste caso, a última é que vale: "As criaturas lá fora olhavam de porco para homem, de homem para porco e novamente de porco para homem; mas já era impossível dizer qual era qual." O livro em questão é "1984", de George Orwell, que acabou de voltar a ser publicado, pela Bertrand, numa boa tradução de Maria Antunes. Em Portugal, a primeira edição desta obra foi intitulada "O Porco Triunfante" e data de 1946, devendo-se à Livraria Popular de Francisco Franco. "1984" foi escrito por Orwell entre 1943 e 1944, no final da Guerra, e conta a história de uma quinta tomada pelos seus explorados e maltratados animais, que decidem criar um novo sistema de progresso, justiça e igualdade. É na essência uma fábula que, na verdade, é um retrato político e social da implantação de um regime totalitário e que ganha uma actualidade inesperada por estes dias. Não deixa de ser curioso voltar a esta obra de Orwell, que foi também o autor de "1984", um premonitório livro sobre o mundo em que vivemos e que também foi agora reeditado, neste caso, pelos Livros do Brasil.

Arco da velha
Estima-se que cerca de cinco mil eleitores votaram no candidato fantasma Eduardo Baptista, que foi incluído no boletim de voto em primeiro lugar, mesmo sem ter angariado as assinaturas necessárias para a apresentação da candidatura.

Um peixe em canções
Volta e meia há uns discos que nos causam um sobressalto. Um bom sobressalto. Foi o que me aconteceu com "Peixe Azul", o novo trabalho de Miguel Araújo. O melhor é ouvi-lo: "As gravações deste disco começaram no final de 2018, que foi quando consegui ter o meu estúdio pronto. Fui gravando uma espécie de ‘maquetes melhoradas’ de algumas músicas que tinha na altura, sem saber que muitas dessas gravações acabariam por ser aquelas que estão agora no disco: algo não muito produzido, com arranjos feitos e tocados exclusivamente por mim de forma natural e despretensiosa. Fui fazendo este disco entre Novembro de 2018 e Julho de 2020. Só no início de 2020 é que surgiu a ideia de converter esse processo num disco", conta. E sobre as canções? "A escrita de canções é algo que vou fazendo ao longo do tempo, de forma desorganizada e caótica. Uma das canções, ‘Gabriela de Jesus’, tem letra escrita muito recentemente (Verão de 2019) por cima duma melodia que inventei aos 17 anos e da qual nunca me esqueci. Portanto, essa demorou 25 anos. Algumas escrevi mesmo perto do fim do processo, como por exemplo ‘Balzac’, durante os últimos dias das misturas, quando achava que o disco estaria terminado. ‘As Velhas que Cosem as Meias dos Netos’ é um poema que escrevi em Junho de 2007, quando a minha avó morreu, e cuja música fiz durante as gravações. O confinamento propiciou este disco, na medida em que as minhas visitas ao estúdio (que fica na cave de minha casa) passaram a ser diárias, das nove às cinco, literalmente. À boa maneira dos discos confinados, foi todo feito por mim: capa, arranjos, produção, todos os instrumentos, e agora até a venda e distribuição. Em quase todos os casos, rematei, finalizei as canções durante as gravações, a partir de esboços que vou acumulando quase diariamente há 20 anos. Esse é sempre o meu processo." Miguel Araújo é quem melhores canções escreve e interpreta hoje em dia em Portugal. Este "Peixe Azul" tem dez canções, tornou-se num disco que ouço a toda a hora e sorrio de cada vez que o volto a ouvir. Por enquanto, está à venda só online, em www.miguelaraujo.pt

Sopa com absinto
A Konfekt, uma nova revista do grupo que edita a Monocle, tem uma "newsletter", "Kompakt", que entre outras coisas recomenda um vinho e propõe uma receita. O vinho não é fácil de encontrar no confinamento, mas a receita é possível e aqui fica ela, pela mão do chef Richard Kagi, de Zurique, que conta que a ouviu num concurso radiofónico de receitas. Trata-se de uma sopa de abóbora com absinto - adivinha-se uma coisa decadente… Esta escolha foi-me sugerida pela minha fiel conselheira e passou o teste que fizemos esta semana. Então, para os ingredientes: 1 kg de abóbora, uma colher de sobremesa de caril de boa qualidade, 200 ml de vinho branco seco, 800 ml de caldo de galinha ou de legumes, 200 gramas de mascarpone (e um pouco mais para o enfeite final no empratamento) e ainda um dedal de absinto (o português Neto Costa é perfeito…). A abóbora deve ser descascada e cortada em cubos, que depois vão ao forno a 180 graus durante cerca de uma hora. Uma vez assada, mistura-se no caldo de galinha, já com o caril, e passa-se tudo com o 1-2-3. Depois adiciona-se o mascarpone, mexe-se bem e deixa-se apurar em lume brando, com um toque de absinto. Como o absinto tem um gosto forte, vão experimentando a partir de uma pequena dose para que não se torne demasiado presente. Adicione sal e pimenta a gosto. Serve-se em pratos fundos e coloca-se um pedaço de mascarpone por cima no empratamento final. Bom apetite. O sabor é verdadeiramente inesperado e magnífico. E neste tempo sabe sempre bem uma sopa quentinha.

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