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12 de Abril de 2019 às 10:43

Europeias?

Quando olho para o mês de Maio e penso nas eleições europeias, assalta-me uma dose de enjoo. É uma indisposição forte. Custa-me perceber a utilidade do Parlamento Europeu no contexto de uma União Europeia que é o retrato da desunião política, económica e social

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"A Democracia é um mecanismo que possibilita que não sejamos governados melhor do que merecemos."
George Bernard Shaw

Europeias?
Quando olho para o mês de Maio e penso nas eleições europeias, assalta-me uma dose de enjoo. É uma indisposição forte. Custa-me perceber a utilidade do Parlamento Europeu no contexto de uma União Europeia que é o retrato da desunião política, económica e social. Olho para o que se passou desde a anterior eleição e, sinceramente, não me lembro de uma grande causa que tenha sido assunto de decisão séria, eficaz e consequente nessa Assembleia. Se houvesse alguém que propusesse uma reforma profunda do processo de decisão e do exercício do poder entre a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu, ainda poderia pensar em participar. Assim, como está, não me apetece votar. Não vejo na cúpula da UE nada que me tranquilize, olho para o que têm feito e só vejo indefinições e hesitações. Não gosto de nenhum dos cabeças-de-lista apresentados pelos partidos portugueses, não vejo histórico na acção de nenhum deles com benefícios para Portugal e os portugueses. Acredito pouco na União Europeia, no alcance e eficácia de políticas comuns e, além dos subsídios que distribui à periferia para compensar as benesses institucionais dos grandes países do centro, não vejo nenhuma estratégia que tenha o mínimo de consistência. E, a nível interno, não me apetece entrar no jogo do referendar ou não referendar o que quer que seja de política doméstica neste sufrágio. Não vou votar a pensar no passe social nem nas cativações. Para isso, fico a ler algum livro de História, onde certamente aprenderei mais e darei por melhor empregue o meu tempo.

Semanada
A Associação Nacional de Contabilistas acusou o Estado de querer tomar posse das bases de dados de contabilidade de empresas e particulares devido a um decreto-lei publicado à margem do Parlamento o FMI prevê desaceleração de 1,7% do crescimento da economia portuguesa e indica que 14 economias do euro crescerão acima de Portugal, destacando-se a Eslováquia, Irlanda e Malta, com ritmos entre 3,7% e 5%, respetivamente segundo o Instituto Nacional de Estatística, a actual legislatura da geringonça foi a que teve pior nível de investimento público em duas décadas segundo o Sales Index, da Marktest, metade do poder de compra do Continente está em 6% da sua área e em apenas cinco concelhos estão concentrados 21,65% do total do poder de compra, sendo que Lisboa é responsável por 9,6% do total em Fevereiro, as exportações aumentaram 4,6% e as importações 12,8% face a igual período do ano passado no final de 2017, o Governo anunciou a criação de 278 camas nos hospitais de Lisboa e Vale do Tejo até ao final de 2018, mas afinal de contas o saldo foi negativo - perdeu 96 camas segundo a Inspeção Geral das Atividades em Saúde, há hospitais públicos que falham regras de segurança no internamento de crianças e adultos os portugueses deitam 200 mil toneladas de roupa para o lixo todos os anos, o que representa cerca de 4% do total de resíduos produzidos em Portugal em Lisboa, há quatro mil pessoas quem vivem em casas sem instalação de banho ou duche o ministro das Finanças afirmou ao Financial Times que não houve grandes mudanças face às políticas do anterior Governo em termos de austeridade 25,6% dos deputados acumulam a função parlamentar com cargos no sector privado.

Dixit
"Uma coisa é certa - o populismo passou das margens para o centro do sistema político."
Nuno Severiano Teixeira

Um guia para tomar decisões
Em Portugal, correr risco nos negócios é quase considerado um defeito, assim como é pecado falhar. Mas, o pior de tudo, graças à atávica inveja nacional, é ter sucesso. A coisa estende-se a praticamente todas as áreas de actividade - desde a indústria aos serviços, passando pela política ou o pensamento, não esquecendo a criatividade e a cultura. Quem tem sucesso é muitas vezes penalizado por isso. Bruno Bobone é um empresário que tem ideias, arrisca e tem sucesso nos negócios. Decidiu colocar em livro a sua experiência, enriquecendo-a com reflexões sobre o que vê à sua volta e assim nasceu "do medo ao sucesso", agora editado. O primeiro capítulo do livro chama-se "Portugal Está Viciado no Medo" e dá o mote ao que se segue, num cruzamento constante de relatos de experiências e reflexões pessoais com evocações da História de Portugal e do Mundo. O medo, diz Bruno Bobone, é um mecanismo de sobrevivência que pode ter duas respostas: "a fuga apresenta-se como a melhor solução nalguns casos, enquanto o confronto será a resposta mais apropriada noutros". Do medo passa-se ao risco, apresentado como uma virtude: "O risco, o fazer coisas novas, o entrar em terrenos proibidos, cria valor. Uma comunidade que não aprecie o risco assumido por quem empreende uma aventura não irá longe", escreve, para depois sublinhar: "Portugal sempre me impressionou, da pior forma, pelo nível de flagelação que impõe a quem falha (...) uma sociedade extraordinariamente crítica do empreendedor que, tendo arriscado, não tem sucesso, brinca com o fogo". Ao longo da obra, Bruno Bobone reflecte e dá indicadores sobre capital de risco, produtividade, formas de gestão, cálculo de remunerações e forma de encarar os recursos humanos de uma empresa. E, por fim, fala de uma das suas grandes paixões, a economia dos mares: "o mar é o recurso que maior potencial tem para a criação de riqueza".

Olhares múltiplos
A partir deste fim-de-semana, em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida, está patente uma exposição que reúne obras de mais de 180 artistas plásticos de diversas áreas e épocas. Trata-se de Studiolo XXI, com curadoria de Fátima Lambert, e que ficará patente até 29 de Setembro. Durante estes cinco meses podem ser vistas obras de nomes como, entre muitos outros, Ana Vidigal, Palolo, João Louro, Carlos Correia, Fernando Calhau, Graça Pereira Coutinho, Helena Almeida, Pedro Calapez, Jorge Martins, José Pedro Croft, Lourdes Castro, Pedro Proença, Ana Pérez-Quiroga, Adriana Molder, Beatriz Horta Correia, Bettina Vaz Guimarães e Cristina Ataíde (que apresenta uma intervenção sobre a paisagem e vários desenhos, entre eles este que aqui se reproduz, "Eclipse 1#22", uma aguarela sobre papel). Outras sugestões: nos Açores, na Galeria Fonseca Macedo, José Loureiro expõe "Máquina Nova de Alcatroar" e, no Museu Nacional de Arte Antiga, até 28 de Abril, a obra convidada é "Maria Madalena Penitente", um Ticiano que foi cedido temporariamente pelo Hermitage de São Petersburgo. Na Galeria Ratton, pode ver uma série de painéis de azulejo desenhados por Lourdes Castro entre 1992 e 1998 (Rua da Academia das Ciências 2C). Destaque ainda para a nova exposição de Isabel Sabino, "Ela", na Sociedade Nacional de Belas Artes.

Justiça vimaranense
O Tribunal da Relação de Guimarães baixou de quatro para três anos de prisão efetiva a pena de um ex-GNR que agrediu a mulher à bofetada e ao pontapé durante 12 anos de vida conjugal, e um agente da PSP de Guimarães que mandou despir e apalpou uma menor numa revista ilegal foi condenado a pena suspensa e continua no activo.

Música sem data
Digo, desde já, que o disco que hoje recomendo é fortemente penalizado pela faixa de abertura. Ela é tão surpreendente e perfeita que dificilmente pode ser comparada com as outras sete do álbum. Ainda por cima é a que dá o título ao álbum e é a única que não é composta pelo intérprete, o pianista italiano de jazz Giovanni Guidi, que juntou o quinteto responsável por este disco. Pior ainda: na referida faixa de abertura, em vez do quinteto, o que aparece é um trio com Guidi no piano, Thomas Morgan no baixo e João Lobo na bateria (um português que estudou na escola do Hot Clube e que está a fazer uma carreira internacional). Trata-se da interpretação de uma das mais célebres canções de Léo Ferré - "Avec Le Temps", aqui surpreendentemente executada. O tema seguinte, "15th of August", apresenta já o quinteto completo, com a entrada em cena de Francesco Bearzatti no saxofone tenor e de Roberto Cecchetto na guitarra. Talvez o melhor exemplo do trabalho conjunto do quinteto sejam os temas "No Taxi" e "Postludium and a Kiss", este último com um exemplar trabalho do saxofonista. "Caino" evidencia a versatilidade do baixo de Morgan e do piano de Guidi, enquanto a guitarra de Cecchetto brilha em "Ti Stimo". A faixa final, "Tomasz" (onde é bem patente a técnica de João Lobo), é uma homenagem à memória de Tomasz Stanko, um dos nomes de referência da editora ECM, que agora lançou este "Avec Le Temps" do quinteto de Giovanni Guidi.

Deixar amadurecer
Queijo que é queijo tem de ser bem curado. Comer um queijo que se baba é comer um creme, não é bem a mesma coisa do que prová-lo bem maduro, com os sabores cheios e equilibrados. Abrir um buraco num queijo da Serra da Estrela e tirar uma colher da pasta é um infanticídio queijeiro. É estragar algo antes de estar pronto a comer - por isso é que há por aí muita falsificação que abusa desta mania da pasta mole para colocar mistelas no mercado que não têm nada que ver com o genuíno queijo da serra. O problema é que, como a procura do queijo mal curado de pasta mole é grande, torna-se difícil conseguir comprar serra maduro, daquele de cortar à faca sem se babar - que é o melhor deles todos. A epidemia da pasta mole também já invadiu os territórios do queijo de Serpa, mas aí tem havido felizmente resistência e bom senso dos queijeiros. Deixar amadurecer um queijo de ovelha dá trabalho, é preciso tratar dele ao longo de meses, deixá-lo respirar, ir virando, mantendo-o vivo e deixando-o atingir o seu esplendor. E nós temos bons queijos curados - desde logo nos Açores, mas também em Nisa, ou em Castelo Branco. Ou o queijo amarelo da Beira Baixa. Mas, para mim, o melhor continua a ser o Serpa, bem curado, tão duro que só se parte às lascas.

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