Opinião
A esquina do Rio
Fernando Medina tinha 11 anos quando Madonna lançou "Like A Virgin" em 1984. Aos 44, presidente não eleito da Câmara Municipal de Lisboa, Medina, nado e criado no Porto, foi, sabe-se lá porquê, ao Hotel Ritz saudar a presença da cantora em Lisboa e deu pública nota disso.
Back to basics
A 3ª Guerra Mundial será uma guerra de guerrilha da Informação sem divisões entre militares e participação dos civis.
Marshal McLuhan, nos anos 60 do século XX
Saloísmo
Fernando Medina tinha 11 anos quando Madonna lançou "Like A Virgin" em 1984. Aos 44, presidente não eleito da Câmara Municipal de Lisboa, Medina, nado e criado no Porto, foi, sabe-se lá porquê, ao Hotel Ritz saudar a presença da cantora em Lisboa e deu pública nota disso. Nestes anos que leva de vida ninguém lhe terá explicado que o ridículo mata e que com a sua idade actual Medina já não se pode confessar virgem em questões de inocência. Definitivamente Maio de 2017 foi o mês em que o absurdo entrou a todo o vapôr na política portuguesa - no Parlamento saudou-se efusivamente a vitória no Festival da Eurovisão, nos Paços do Concelho celebrou-se a presença da quase reformada cantora - se o Mayor de Los Angeles se sentisse tão ocupado com vedetas na sua cidade não teria descanso, mas aqui tudo é pretexto para cinco minutos de fama, sobretudo quando se está em ano eleitoral. A saloíce é uma coisa tramada e há quem a tenha no sangue e mesmo quando parece escondida salta de repente à vista de todos. Maio foi mês de festa: Papa em Fátima, Benfica no tetra, Madonna em Lisboa, onde aliás já tinha estado mais que uma vez sem tanto alarde político - até este aproveitamento é um sinal dos tempos. O país navega ao sabor dos milhões do turismo, da saída do défice excessivo e do aumento do consumo. A pensar nisto tudo a música que me veio ao espírito não é de nenhum dos homenageados, nem foi ouvida nestes dias, é de José Afonso e muito adequada aos dias que correm:
A formiga no carreiro
Vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
Semanada
• Portugal saíu do Procedimento de défice excessivo e o facto motivou menos burburinho no Parlamento que a vitória na Eurovisão • o maior montante de fundos da UE recebidos em Portugal foi atribuído à empresa Parque Escolar • o Governo recebeu 30 pedidos para exploração de lítio em Portugal • de Janeiro a Março a Câmara Municipal de Lisboa arrecadou 1,1 milhões de euros por mês graças à taxa turística • estima-se que em Portugal entrem por ano, sem serem declarados, 125 milhões de euros em dinheiro • uma auditoria do Tribunal de Contas fez fortes críticas à aplicação de multas pelo Fisco aos contribuintes • nos últimos quinze anos fecharam quase cinco mil escolas primárias • em 2016 a EMEL faturou 31 milhões de euros em estacionamento e multas • até Março Portugal captou 1,9 mil milhões de euros de investimento através da atribuição de vistos gold a chineses • foi esta semana divulgado que a falha no sistema de abastecimento de combustível ocorrida em 10 de maio no aeroporto de Lisboa afetou 41.681 pessoas, levou ao cancelamento de 97 voos, 202 descolaram com atraso e 12 tiveram de divergir para outros locais • Manuel Salgado confessou na Assembleia Municipal de Lisboa desconhecer a existência de buracos no centro da cidade e agradeceu terem-lhe chamado a atenção sobre eles.
Dixit
Um dos males da maldade - como morrer para matar o maior número possível de pessoas - é habituar-nos ao mal.
Miguel Esteves Cardoso
A 3ª Guerra Mundial será uma guerra de guerrilha da Informação sem divisões entre militares e participação dos civis.
Marshal McLuhan, nos anos 60 do século XX
Saloísmo
Fernando Medina tinha 11 anos quando Madonna lançou "Like A Virgin" em 1984. Aos 44, presidente não eleito da Câmara Municipal de Lisboa, Medina, nado e criado no Porto, foi, sabe-se lá porquê, ao Hotel Ritz saudar a presença da cantora em Lisboa e deu pública nota disso. Nestes anos que leva de vida ninguém lhe terá explicado que o ridículo mata e que com a sua idade actual Medina já não se pode confessar virgem em questões de inocência. Definitivamente Maio de 2017 foi o mês em que o absurdo entrou a todo o vapôr na política portuguesa - no Parlamento saudou-se efusivamente a vitória no Festival da Eurovisão, nos Paços do Concelho celebrou-se a presença da quase reformada cantora - se o Mayor de Los Angeles se sentisse tão ocupado com vedetas na sua cidade não teria descanso, mas aqui tudo é pretexto para cinco minutos de fama, sobretudo quando se está em ano eleitoral. A saloíce é uma coisa tramada e há quem a tenha no sangue e mesmo quando parece escondida salta de repente à vista de todos. Maio foi mês de festa: Papa em Fátima, Benfica no tetra, Madonna em Lisboa, onde aliás já tinha estado mais que uma vez sem tanto alarde político - até este aproveitamento é um sinal dos tempos. O país navega ao sabor dos milhões do turismo, da saída do défice excessivo e do aumento do consumo. A pensar nisto tudo a música que me veio ao espírito não é de nenhum dos homenageados, nem foi ouvida nestes dias, é de José Afonso e muito adequada aos dias que correm:
A formiga no carreiro
Vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário
Larpou trepou às tábuas
Que flutuavam nas àguas
E de cima duma delas
Virou-se prò formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro
• Portugal saíu do Procedimento de défice excessivo e o facto motivou menos burburinho no Parlamento que a vitória na Eurovisão • o maior montante de fundos da UE recebidos em Portugal foi atribuído à empresa Parque Escolar • o Governo recebeu 30 pedidos para exploração de lítio em Portugal • de Janeiro a Março a Câmara Municipal de Lisboa arrecadou 1,1 milhões de euros por mês graças à taxa turística • estima-se que em Portugal entrem por ano, sem serem declarados, 125 milhões de euros em dinheiro • uma auditoria do Tribunal de Contas fez fortes críticas à aplicação de multas pelo Fisco aos contribuintes • nos últimos quinze anos fecharam quase cinco mil escolas primárias • em 2016 a EMEL faturou 31 milhões de euros em estacionamento e multas • até Março Portugal captou 1,9 mil milhões de euros de investimento através da atribuição de vistos gold a chineses • foi esta semana divulgado que a falha no sistema de abastecimento de combustível ocorrida em 10 de maio no aeroporto de Lisboa afetou 41.681 pessoas, levou ao cancelamento de 97 voos, 202 descolaram com atraso e 12 tiveram de divergir para outros locais • Manuel Salgado confessou na Assembleia Municipal de Lisboa desconhecer a existência de buracos no centro da cidade e agradeceu terem-lhe chamado a atenção sobre eles.
Dixit
Um dos males da maldade - como morrer para matar o maior número possível de pessoas - é habituar-nos ao mal.
Miguel Esteves Cardoso
Ver
Em Lisboa, este ano, a ARCO perdeu 23% dos visitantes, quando comparada com a edição do ano passado. As críticas à organização - quanto ao processo de selecção - foram várias e mais audíveis. Aqui há uns anos Berlim tentou estabelecer uma feira de arte com tudo germanicamente organizado, stands para as galerias, um grande espaço, tudo perfeito. O Art Forum Berlim não resultou, o público não pegou, caíu de ano para ano. A cidade percebeu que em vez de subsidiar uma organização, melhor faria em procurar apoiar o trabalho das galerias de arte contemporânea locais. Em 2004 nasceu o Berlin Gallery Weekend: um circuito de galerias que decorre num fim de semana e para o qual são convidados coleccionadores internacionais, privados e institucionais, além de artistas, críticos e jornalistas. Passada mais de uma década é um sucesso. Mais galerias, maior espaço a novos artistas, mais oportunidades. E mais negócio, ao fim do dia. Cada cidade é um caso, mas vale a pena pensar nisto. Sugestões da semana: na Sociedade Nacional de Belas Artes Maria José Oliveira expõe 40 anos de trabalho naquela que já foi considerada como a melhor exposição neste momento disponível em Lisboa; na Culturgest está "O Fotógrafo Acidental", que reúne trabalhos de artistas visuais que entre 1968 e 1980 utilizaram a fotografia ocasionalmente como meio de expressão, como Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Jorge Molder, José Barrias, Julião Sarmento e Vítor Pomar.; em Setúbal abriu a Festa da Ilustração - António Jorge Gonçalves é o autor contemporâneo em destaque, autor do símbolo da festa, aqui reproduzido, e Manuel Ribeiro de Pavia o ilustrador consagrado, evocado numa exposição.
Gosto
Da criação, em Guimarães, de um centro de investigação dedicado à medicina regenerativa e de precisão.
Não gosto
Da situação criada ao site Ciberdúvidas, uma plataforma digital dedicada à língua portuguesa, que está em riscos de encerrar devido à falta de financiamento.
Folhear
Romeu e Julieta, de William Shakespeare, já teve várias versões no cinema - desde as mais clássicas às que adaptam a história aos tempos contemporâneos. Mas as edições em livro são sempre muito respeitosas e geralmente não se desviam do original - ou, pelo menos, até aqui eram. Na sua colecção "Os Livros Estão Loucos", a editora Guerra & Paz propõe uma versão de Romeu e Julieta "contado tipo aos jovens". Esta colecção destaca-se pela adaptação livre das obras que publica, pelas ilustrações e o grafismo e, sobretudo, pela subversão do texto. A coisa começa logo nos nomes dos capítulos. Por exemplo: "Aproxima-se dela como uma traça da luz, agarra-lhe a mão, olha-a no mais fundo dos olhos e atira-lhe um dos melhores piropos de sempre"; ou, ainda: "da passarada habitual, que tudo vê e tudo conta, nem um pio. Como se o temor de que algo possa correr mal lhes tivesse prendido as goelas douradas". O enredo clássico vai sendo adaptado aos tempos actuais pela conversa entre duas amigas, Vera e Beatriz, que descodificam a intricada teia de amores e ódios entre as famílias de Romeu Montéquio e Julieta Capuleto - ou, como nasce um amor proibido numa noite de verão. "Consegues imaginar os Capuleto e os Montéquio numa festa com karaoke e zumba?" - pergunta Vera à amiga. E é assim que a coisa se vai desenrolando. Uma ideia louca e bem conseguida para tornar grandes textos clássicos mais apetecíveis aos mais novos.
Arco da velha
Soube-se esta semana que o autódromo do Estoril está ilegal há 45 anos e que nunca teve licenças, nem de construção nem de edificação. Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais declarou que ignorava a situação.
Ouvir
João Morais nasceu para a música no meio da explosão musical dos anos 80 que deu protagonismo aos músicos portugueses. Apaixonou-se pela guitarra, é um autodidacta aventureiro e cresceu na mesma geração de Tó Trips e Luis Varatojo. Pisaram, na época, os mesmos palcos, cruzaram-se em concertos e nos festivais de então. Da guitarra eléctrica João Morais passou para a viola campaniça e assina agora os seus discos com o nome "O Gajo". "Longe do Chão", edição Rastilho, disponível em CD e também no Spotify, tem onze temas instrumentais. A sonoridade da campaniça, também conhecida por viola alentejana, é unica. Tem dez cordas, metálicas, e era o instrumento musical usado para acompanhar os célebres cantares à desgarrada, ou "cantes a despique", nas festas e feiras do Alentejo. É a maior das violas portuguesas e é tocada tradicionalmente de dedilhado, apenas com o polegar. Não por acaso um dos temas em destaque no álbum é "Há Uma Festa Aqui ao Lado". No entanto este "Longe do Chão" não é um disco preso ao passado - é uma versão urbana de um instrumento rural, na produção, no tratamento do som, na utilização num dos temas da voz e de alguns efeitos instrumentais e sonoros noutros. Mas fundamentalmente é uma demonstração do talento de João Morais e um pretexto para descobrir mais um pedaço das nossas tradições musicais, terminado o ciclo festivaleiro.
Provar
As velhas casas de chás e cafés fascinam-me sempre. Já não há muitas, mas as que sobreviveram são as melhores. Bem perto do Saldanha, na Duque de Ávila, praticamente na esquina com a Avenida da República, fica a "Pérola do Chaimite" - cafés puros torrados, robustas e arábicas - moídos na hora com o grau de moagem como quisermos. O atendimento é sempre simpático, os conselhos são dados com experiência e saber. Para além dos vários cafés disponíveis, nas numerosas combinações que se podem fazer, há também chás avulso.
Além dos chás e cafés há biscoitos, compotas e geleias, e acessórios para guardar e fazer café, bules de chá, enfim toda a parafernália necessária para fazer um bom café de saco ou um chá de folhas soltas. De entre a numerosa escolha de compotas de pequenos produtores destacam-se os "Sabores da Gardunha", onde se podem encontrar preciosidades como um doce de gengibre absolutamente surpreendente bom sozinho, excelente como acompanhamento para barrar sanduíches de fino presunto ou, melhor ainda, queijo bem curado. Entrar dentro de uma casa destas é um prazer, para os olhos e os sentidos, proporcionando aquilo que nenhum café ou chá embalado podem fazer: o ritual dos aromas, o adivinhar dos sabores.
Pérola do Chaimite Av Duque de Ávila 38 (dos queijos, pão e presunto pode tratar na charcutaria Dava, mesmo ao lado, apesar do ar mal encarado com que é recebido se não for cliente habitual).
Em Lisboa, este ano, a ARCO perdeu 23% dos visitantes, quando comparada com a edição do ano passado. As críticas à organização - quanto ao processo de selecção - foram várias e mais audíveis. Aqui há uns anos Berlim tentou estabelecer uma feira de arte com tudo germanicamente organizado, stands para as galerias, um grande espaço, tudo perfeito. O Art Forum Berlim não resultou, o público não pegou, caíu de ano para ano. A cidade percebeu que em vez de subsidiar uma organização, melhor faria em procurar apoiar o trabalho das galerias de arte contemporânea locais. Em 2004 nasceu o Berlin Gallery Weekend: um circuito de galerias que decorre num fim de semana e para o qual são convidados coleccionadores internacionais, privados e institucionais, além de artistas, críticos e jornalistas. Passada mais de uma década é um sucesso. Mais galerias, maior espaço a novos artistas, mais oportunidades. E mais negócio, ao fim do dia. Cada cidade é um caso, mas vale a pena pensar nisto. Sugestões da semana: na Sociedade Nacional de Belas Artes Maria José Oliveira expõe 40 anos de trabalho naquela que já foi considerada como a melhor exposição neste momento disponível em Lisboa; na Culturgest está "O Fotógrafo Acidental", que reúne trabalhos de artistas visuais que entre 1968 e 1980 utilizaram a fotografia ocasionalmente como meio de expressão, como Alberto Carneiro, Ângelo de Sousa, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau, Helena Almeida, Jorge Molder, José Barrias, Julião Sarmento e Vítor Pomar.; em Setúbal abriu a Festa da Ilustração - António Jorge Gonçalves é o autor contemporâneo em destaque, autor do símbolo da festa, aqui reproduzido, e Manuel Ribeiro de Pavia o ilustrador consagrado, evocado numa exposição.
Gosto
Da criação, em Guimarães, de um centro de investigação dedicado à medicina regenerativa e de precisão.
Não gosto
Da situação criada ao site Ciberdúvidas, uma plataforma digital dedicada à língua portuguesa, que está em riscos de encerrar devido à falta de financiamento.
Folhear
Romeu e Julieta, de William Shakespeare, já teve várias versões no cinema - desde as mais clássicas às que adaptam a história aos tempos contemporâneos. Mas as edições em livro são sempre muito respeitosas e geralmente não se desviam do original - ou, pelo menos, até aqui eram. Na sua colecção "Os Livros Estão Loucos", a editora Guerra & Paz propõe uma versão de Romeu e Julieta "contado tipo aos jovens". Esta colecção destaca-se pela adaptação livre das obras que publica, pelas ilustrações e o grafismo e, sobretudo, pela subversão do texto. A coisa começa logo nos nomes dos capítulos. Por exemplo: "Aproxima-se dela como uma traça da luz, agarra-lhe a mão, olha-a no mais fundo dos olhos e atira-lhe um dos melhores piropos de sempre"; ou, ainda: "da passarada habitual, que tudo vê e tudo conta, nem um pio. Como se o temor de que algo possa correr mal lhes tivesse prendido as goelas douradas". O enredo clássico vai sendo adaptado aos tempos actuais pela conversa entre duas amigas, Vera e Beatriz, que descodificam a intricada teia de amores e ódios entre as famílias de Romeu Montéquio e Julieta Capuleto - ou, como nasce um amor proibido numa noite de verão. "Consegues imaginar os Capuleto e os Montéquio numa festa com karaoke e zumba?" - pergunta Vera à amiga. E é assim que a coisa se vai desenrolando. Uma ideia louca e bem conseguida para tornar grandes textos clássicos mais apetecíveis aos mais novos.
Arco da velha
Soube-se esta semana que o autódromo do Estoril está ilegal há 45 anos e que nunca teve licenças, nem de construção nem de edificação. Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais declarou que ignorava a situação.
Ouvir
João Morais nasceu para a música no meio da explosão musical dos anos 80 que deu protagonismo aos músicos portugueses. Apaixonou-se pela guitarra, é um autodidacta aventureiro e cresceu na mesma geração de Tó Trips e Luis Varatojo. Pisaram, na época, os mesmos palcos, cruzaram-se em concertos e nos festivais de então. Da guitarra eléctrica João Morais passou para a viola campaniça e assina agora os seus discos com o nome "O Gajo". "Longe do Chão", edição Rastilho, disponível em CD e também no Spotify, tem onze temas instrumentais. A sonoridade da campaniça, também conhecida por viola alentejana, é unica. Tem dez cordas, metálicas, e era o instrumento musical usado para acompanhar os célebres cantares à desgarrada, ou "cantes a despique", nas festas e feiras do Alentejo. É a maior das violas portuguesas e é tocada tradicionalmente de dedilhado, apenas com o polegar. Não por acaso um dos temas em destaque no álbum é "Há Uma Festa Aqui ao Lado". No entanto este "Longe do Chão" não é um disco preso ao passado - é uma versão urbana de um instrumento rural, na produção, no tratamento do som, na utilização num dos temas da voz e de alguns efeitos instrumentais e sonoros noutros. Mas fundamentalmente é uma demonstração do talento de João Morais e um pretexto para descobrir mais um pedaço das nossas tradições musicais, terminado o ciclo festivaleiro.
Provar
As velhas casas de chás e cafés fascinam-me sempre. Já não há muitas, mas as que sobreviveram são as melhores. Bem perto do Saldanha, na Duque de Ávila, praticamente na esquina com a Avenida da República, fica a "Pérola do Chaimite" - cafés puros torrados, robustas e arábicas - moídos na hora com o grau de moagem como quisermos. O atendimento é sempre simpático, os conselhos são dados com experiência e saber. Para além dos vários cafés disponíveis, nas numerosas combinações que se podem fazer, há também chás avulso.
Além dos chás e cafés há biscoitos, compotas e geleias, e acessórios para guardar e fazer café, bules de chá, enfim toda a parafernália necessária para fazer um bom café de saco ou um chá de folhas soltas. De entre a numerosa escolha de compotas de pequenos produtores destacam-se os "Sabores da Gardunha", onde se podem encontrar preciosidades como um doce de gengibre absolutamente surpreendente bom sozinho, excelente como acompanhamento para barrar sanduíches de fino presunto ou, melhor ainda, queijo bem curado. Entrar dentro de uma casa destas é um prazer, para os olhos e os sentidos, proporcionando aquilo que nenhum café ou chá embalado podem fazer: o ritual dos aromas, o adivinhar dos sabores.
Pérola do Chaimite Av Duque de Ávila 38 (dos queijos, pão e presunto pode tratar na charcutaria Dava, mesmo ao lado, apesar do ar mal encarado com que é recebido se não for cliente habitual).
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